Imagine
um presidente de uma multinacional da década de 1950 que é transportado aos
dias atuais e que, assumindo o mesmo cargo (agora rebatizado por CEO),
depara-se com um grupo de colaboradores em plena atividade de ginástica
laboral. Ele dá dois passos e se encontra com sua nova assistente vestindo
jeans e tênis – e não um tailler bem cortado –, usando cabelos pintados de azul
e portando, em vez de um bloco e uma caneta, um laptop ou tablet. Ela substitui
a querida Ana, que está em licença-maternidade há quase um ano (quem diria que
isso é possível?). Ao pedir um café, o recebe em um copo totalmente
ecológico porque o material faz parte de um extenso programa da empresa que
visa à preservação do meio ambiente. Na reunião da tarde, é recebido por
profissionais que parecem saídos do colegial (agora chamado de Ensino Médio),
garotos e garotas que falam muita gíria, têm ideias e projetos incríveis e
jamais viram um terno na vida... Aqui e ali, ele até vê um executivo sênior,
mas, espanta-se ao saber que os líderes nem sempre são os mais velhos, mas,
sim, os jovens, que vão embora de bicicleta, patins elétricos ou ficam na
academia do próprio prédio, já que valorizar a saúde é uma de suas prioridades.
É,
o mundo mudou consideravelmente, em pouquíssimo tempo. Se avaliarmos a história
hipotética acima, cada parte dela é relacionada às pessoas, seus comportamentos,
necessidades, estilos de vida, competências, capacitação e forma como trabalham
e se relacionam. A situações citadas seriam inviáveis – e até bizarras –
em 1950, mas, comuns atualmente. E essas transformações exigiram investimentos
em liderança, para que as companhias evoluíssem junto com a tecnologia e as
necessidades do mercado – mas, principalmente, com as pessoas que fazem tudo
acontecer.
As
empresas passaram por inúmeras adaptações – tantas que, atualmente, é
necessário ao líder concentrar seus esforços mais no material humano, no
ambiente social e nos recursos ambientais do que apenas na tecnologia ou na
produtividade pura e simples. Gosto muito de uma frase do professor Klaus
Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, proferida em 2016: “Precisamos de líderes que sejam emocionalmente
inteligentes e capazes de modelar e defender o trabalho cooperativo. Eles
capacitam, em vez de comandar; eles serão movidos pela empatia, não pelo
ego. A revolução digital precisa de uma liderança diferente, mais humana”.
Klaus Schwab cunhou os termos Liderança 4.0 e Revolução
Industrial 4.0 na mesma época. Para ele e outros estudiosos das mudanças
empresariais globais, as corporações mudaram a forma como lideram a partir de
uma nova cultura, de inovação e metodologias que permitem fazer negócios alinhados com os anseios de seus
acionistas, mas, ao mesmo tempo, valorizando o trabalho das equipes e do
capital humano.
Para
Schwab, a revolução tecnológica que está mudando a forma como trabalhamos,
vivemos e nos relacionamos é diferente de tudo o que já presenciamos e, diante
de tanta novidade, a Quarta Revolução Industrial é ímpar, afinal, quem
imaginava que drones fariam entregas em locais inóspitos, cirurgias seriam
realizadas à distância e por robôs, carros andariam pelas ruas sem motoristas e
pessoas alugariam quartos em casas de outras, nos mais variados países do
mundo, com apenas alguns toques na tela do smartphone? Tudo isso afeta a forma
como as empresas precisam ser lideradas porque são seus líderes que ajudarão na
manutenção das companhias no futuro. É necessário que as empresas se preparem
para um futuro ainda mais diferente, inovador e cheio de novos modelos de
negócios, que podem trazer desafios que superarão todos os já vividos.
Mas, como se preparar para liderar nessa nova realidade e
prever tudo o que está por vir? Se aquele executivo, do início do nosso texto,
deparou-se com tantas coisas inimagináveis há 70 anos, temos que fazer um
exercício enorme para imaginar o futuro e tentar prever as relações que
ocorrerão adiante. Se, hoje, critica-se a possível frieza criada pelo uso
excessivo da tecnologia, que nos aproxima de quem está distante, mas nos afasta
de quem está ao nosso lado, essa mesma geração tecnológica valoriza a qualidade
de vida, buscando mais lazer, momentos dedicados à saúde e ao esporte. A
preocupação com o meio ambiente e a responsabilidade de cada empresa sobre o
planeta não são simples estratégias de Marketing, mas, atitudes reais e
cobradas pelos consumidores. As lideranças, para obterem os melhores
resultados, não mandam mais, mas, precisam de apoio, colaboração, ações em
conjunto – e até combinadas com outras empresas – e a própria concorrência pode
virar aliada, em alguns casos.
Tudo
está ligado a criar o futuro que não existe hoje, através da interação
homem-máquina. Não se trata de deixar de lado a tecnologia e a inovação, mas,
de pensar que a liderança se faz pensando nas pessoas e para as pessoas. É
nelas que deve-se colocar o foco. É para elas que devemos trabalhar, pensar e
por elas devemos liderar.
Marcelo
Tertuliano - Administrador de Empresas, com 24 anos de experiência na função
financeira, dos quais, 16 anos em posições de liderança. Atualmente está à
frente da área financeira de uma grande mineradora em Moçambique.
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