O
ano de 2019 começou com expectativas e incertezas para o setor da saúde. Ao
mesmo tempo que comemoramos grandes conquistas na medicina, preocupamo-nos com
o que esses avanços vão impactar o bolso da população.
Um
exemplo é o aumento da expectativa de vida do brasileiro. Há 30 anos, era de 65
anos; hoje, comemoramos que a população vive em média 75 anos. O ganho de 10
anos nas últimas décadas, ao mesmo tempo, representa um grande impacto no custo
da saúde.
Se
antes havia predominância de doenças cardiológicas e neurológicas, hoje houve
uma queda significativa nessas condições, graças ao controle, novas medicações
e acesso à informação. Em contrapartida, há um aumento substancial nos casos
oncológicos e de doenças degenerativas; bem como no desenvolvimento e pesquisa
de novos tratamentos para esses casos.
A
medicina, porém, é uma das poucas áreas do conhecimento em que o avanço
tecnológico produz o encarecimento do custo. Então, se conclui que o aumento da
expectativa provoca, invariavelmente, o crescimento dos gastos da saúde. Hoje e
ainda no futuro próximo, estamos gastando cada vez mais do nosso salário para
ganhar alguns anos de vida.
Como
resposta a esse cenário, buscam-se novos modelos de assistência médica. Está em
processo de evolução uma nova abordagem, em que um médico generalista –
especialista em Medicina de Família – cuida do indivíduo como um todo: sua
família, onde mora, suas atividades, seu compromisso com a medicação,
alimentação etc.
Esse
tipo de atendimento faz com que o paciente deixe de procurar aleatoriamente
médicos especialistas sem necessidade. É um modo de contra-atacar a cultura do
“Dr. Google”, em que, geralmente, acontece uma supervalorização dos sintomas e
leva à conclusão de uma gravidade excessiva do caso. O paciente convencido de
que tem uma doença séria que viu na internet procura profissionais dispostos a
desvendar o “mistério”, preferencialmente médicos que solicitem uma bateria de
exames.
Estamos
diante de um problema grave no cenário da saúde atual: o avanço da medicina
tecnológica sobre a medicina humanística. Criou-se um conceito de que “médicos
bons são aqueles que pedem exames”. A lógica está sendo invertida, pois o exame
deveria ser para complementar um diagnóstico feito pelo profissional. Algo
pontual.
O
paciente precisa entender que a quantidade de exames não significa medicina de
melhor qualidade. O tempo despendido em uma anamnese adequada e uma consulta
detalhada vale mais do que 100 exames pedidos aleatoriamente.
Quando
você avalia os resultados, o índice de exames normais beira os 90%. São
procedimentos caros e quem paga somos todos nós: as operadoras, o governo, a
sociedade através dos impostos, o usuário do plano de saúde que precisa arcar
com reajustes etc.
A
mudança só virá com uma transformação cultural de toda a sociedade. A
conscientização do usuário do plano de saúde, do empresário, do médico e de
toda a cadeia do setor de saúde é urgente e necessária.
Uma
das maneiras de promover essa consciência é tornar o cliente participante dos
custos para torná-lo responsável e comprometido em evitar o desperdício. Quando
o paciente coparticipa, ele utiliza os recursos de maneira mais consciente.
Devemos
buscar exemplos em outros países e copiar o que está dando certo. Um modelo é o
da Inglaterra, onde a medicina é socializada. O paciente tem direito a praticamente
tudo, mas há um limite de gastos. Quando esse limite é ultrapassado, o
indivíduo precisa complementar com os próprios recursos.
Isso
permite um controle sobre os recursos despendidos nos tratamentos, pois, como
foi dito anteriormente, a tecnologia tem ultrapassado as condições de absorção
dos seus custos. Se não colocarmos um freio, em pouco tempo os serviços de
saúde serão inviáveis, tanto para o setor público quanto para o privado.
Estaremos caminhando para um retrocesso no atendimento por conta da má gestão
de recursos.
Cadri
Massuda - presidente da regional PR/SC da ABRAMGE – Associação Brasileira de
Planos de Saúde.
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