Diversos indicativos deste pleito
sugerem haver chegado ao fim a era da irresponsabilidade. Até o indulgente e
leniente STF será atingido com mudanças no seu perfil. Nos próximos quatro
anos, duas ou três substituições por aposentadoria conduzirão a alterações no
perfil do colegiado. Isso poderá levar, entre outras consequências, à maior
valorização da colegialidade e à coibição do uso abusivo de prerrogativas
individuais por seus membros.
A era da irresponsabilidade quebrou o
país. Impulsionado pela influência positiva de um ciclo de crescimento da
economia mundial, o petismo fez explodir a despesa pública. Já no fim do ciclo,
para preservar a bolha da aparente prosperidade geral, o próprio gasto das
famílias passou a ser estimulado. Consequências: recessão, êxodo de
investimentos, 14 milhões de desempregados, dívida da União próxima do PIB
anual e, em julho deste ano, 63,4 milhões de brasileiros com contas atrasadas!
São produtos da falta de juízo que casou o keynesianismo de alguns economistas
de esquerda com o insaciável populismo eleitoreiro do petismo.
Simultaneamente, o aparelho estatal
brasileiro, que já era tamanho XL, passou para a categoria XXL. Povoadas por
companheiros, criaram-se 41 novas estatais. Na década petista anterior a 2015,
o funcionalismo federal cresceu 28%. Contrataram-se centenas de obras que
permanecem paralisadas. A irresponsável Copa de 2014, de tão má memória,
desencadeou uma gastança altamente comissionada por todo o país (entre elas as
famosas “obras da Copa”). A insanidade atingiu seu ápice com a simultânea
realização dos Jogos Olímpicos que deixam reminiscências na crise do Rio de
Janeiro e nas já ruinosas instalações esportivas.
A era da irresponsabilidade é um
mostruário de lições penosas que – espera-se – tenham cumprido função
pedagógica. O Estado brasileiro assumiu um peso insustentável. Também para ele
falta dinheiro porque todo item de despesa criado pelo poder público adquire
uma espécie de dimensão imanente da eternidade. Subsistirá até a ressurreição
dos mortos. Daí a contenção de gastos.
Daí, também, os crescentes bolsões de miséria salarial e material em serviços
voltados ao atendimento da população nas áreas de segurança, saúde e educação.
Simultaneamente, bem à moda da casa, preservam-se no aparelho de Estado núcleos
de opulência que, por pura “coincidência”, correspondem aos centros de poder e
decisão. Claro.
A mesma sociedade que, nos limites do
possível, promoveu sua lava jato eleitoral precisa, agora, cobrar dos futuros
detentores de poder todas as providências necessárias para “lacrar” em
definitivo a era da irresponsabilidade.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário