Em um momento no
qual se fala tanto de transformação digital, no qual a tecnologia imprime um
ritmo de mudanças de comportamentos nunca visto antes, será que não estamos
deixando em segundo plano a transformação que de fato vai ditar os novos rumos
do mundo? Parece óbvio, mas não é. Além de não ser nada fácil. Estou falando de
transformação humana. Estou falando das pessoas que continuam tendo emoções e
estímulos com os novos movimentos. É muita novidade em tão pouco tempo. Nos
últimos anos a tecnologia de uma forma ou de outra foi inserida no dia a dia da
grande parte da população, o que reflete em novas condutas e um jeito novo para
se fazer muitas coisas. Hoje cinco gerações de pessoas com perfis completamente
diferentes, e logo com visões de mundo também muito diferentes, compartilham o
mesmo espaço. E daí vem os conflitos geracionais e falta de empatia entre as pessoas.
Eu falo de um mundo
conectado pela tecnologia, mas de total desconexão entre as pessoas. Enquanto a
evolução tecnológica aponta em uma curva exponencial ascendente, a evolução
humana (ou o seu antônimo) representada pelos nossos comportamentos parece
formar uma linha contrária. E fico pensando, como mudar isso? Ainda mais no
momento importante e delicado de eleições que passamos no Brasil, no qual temos
que tomar uma decisão sobre o futuro do nosso país, sobre o nosso futuro. E
vejo que os próximos governantes irão assumir papéis muito importantes nesse
processo de mudanças, mas o trabalho deles não será suficiente, eles não são em
número suficiente. E aí acredito ter a resposta, talvez não a única resposta,
mas uma importante e impactante resposta. Podemos mudar isso através da
educação. E com certeza agora vem a sua mente que esse é mais um discurso
batido. E eu tento me explicar. E se falo tanto de humanização, não tem como
não personificar a educação através da figura do professor. Segundo Censo Escolar
de 2017, somente no ensino básico temos mais de 2,2 milhões de professores no
Brasil. É muita gente do bem. E se formos considerar um efeito em cadeia, olhe
a progressão geométrica na qual cada professor impacta dezenas de alunos, e se
esses por sua vez assumem o seu papel de contribuição na sociedade, de fato
conseguimos uma transformação humana. Vejo o professor como um líder e seu
principal papel é formar outros líderes. É um efeito multiplicador. Isso é
muito poderoso.
Porém agora eu
aumento a responsabilidade desse profissional que tem o desafio diário de
promover o conhecimento e as experiências para que seus alunos estejam
preparados para a vida. Será que a maneira como esse professor está conduzindo
as suas aulas é a forma mais adequada para promover uma transformação humana? O
meu universo é a educação. E eu me sinto uma pessoa totalmente privilegiada por
poder promover um ensino com foco no ser humano e na transformação de suas
vidas. E posso garantir para você que isso não depende de estrutura, de
dinheiro, nem mesmo de formação. E sim, da maneira como enxergamos nossos
alunos. Estamos tratando com pessoas, logo antes de dominar os conhecimentos de
matemática, de biologia ou de qualquer outra matéria, precisamos saber lidar
com pessoas. E essa é a chave que precisamos virar para ter uma educação mais
significativa e que de fato vai impactar vidas. Quando falamos de educação
estamos nos referindo ao topo da pirâmide de valor, sim é algo transformador, é
transcendente.
O papel do professor
não se limita mais a transmitir conhecimentos e sim ser um facilitador no
processo de aprendizagem. Quando falamos de transformação humana os
ensinamentos com avaliações objetivas com foco para tirar notas e passar de ano
não fazem nenhum sentido. Cito John Dewey que diz que “a educação é um processo
social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida.”
Logo, se trazemos a realidade para a sala de aula não podemos deixar de fora o
elemento humano. Em um plano de aula passa a ser obrigatório, além de ensinar
física ou literatura, também desenvolver habilidades socioemocionais e
competências essenciais para uma vida em sociedade. E antes de promover isso
nos alunos, primeiro os professores precisam ter essas habilidades afloradas.
Esse profissional guerreiro cada dia precisa exercer mais sua liderança em sala
de aula e servir de espelho para seus alunos.
O aprimoramento das
habilidades de comunicação, criatividade, resolução de problemas e gestão de
conflitos são essenciais para uma melhor fluidez das aulas. O relacionamento
interpessoal, trabalho colaborativo, a flexibilidade e a empatia passam a ser
imprescindíveis para uma experiência mais humana. E a busca por novos
conhecimentos, o bom humor e a automotivação combustíveis indispensáveis para
encarar todas as mudanças que ainda virão. O professor deve ser o profissional
mais valorizado pela nação e estando melhor preparado e alinhado com o
movimento de mudanças, conseguirá maior engajamento e tocar profundamente seus
alunos rumo a transformação humana. Lembra do efeito multiplicador?
Ronaldo
Cavalheri - CEO do Centro Europeu, primeira escola de Economia Criativa do
Brasil.
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