Qual é o problema de vocês? Quem lhes disse
que a nação está interessada em custear uma universidade para ser transformada
em feudo esquerdista, de onde a divergência é expulsa a gritos e atos de
selvageria intolerante? De onde lhes vem essa pretensa superioridade moral
quando os frutos mais amargos da história são colhidos nas suas bibliografias?
Querem uma universidade para a esquerda, criem uma. Querem duas, criem duas,
criem três, criem quantas quiserem. Mas não usurpem o que pertence a todos! A
universidade tem autonomia para que o pluralismo seja possível; não para que
seja impedido!
Desculpem-me os demais leitores, mas eu
precisava mandar a mensagem acima às universidades públicas. Há muitos anos,
notadamente na área de Humanas, elas foram tomadas de assalto pelo pensamento
esquerdista. Tornaram-se, no Brasil, versão acabada do que Antonio Gramsci
denominava “intelectuais coletivos” – grandes centros de formação e difusão do
pensamento do partido.
É patrimônio nacional, custeado pela
sociedade, escandalosamente usado para serviço político e ideológico tão
explícito quanto desonesto, onde se ocultam autores liberais e conservadores,
relegados ao mais empoeirado ostracismo.
Os males se consolidam ao longo dos anos
porque protegidos com o inexpugnável escudo da autonomia universitária. Toda
divergência é castigada sob o manto sagrado dessa autonomia! Ela é invocada
para encobrir abusos e para que, atrás de seus muros, a verdade seja torturada.
Dirão que a verdade merece porque ela mesma é coisa de fascista, que a história
dos crimes praticados em nome das ideias que defendem também é fascista, que o
combate à corrupção é fascista, que o enfrentamento à criminalidade é fascista,
que os ideais de liberdade econômica e empreendedorismo são fascistas. Só a
esquerda não é fascista, nesse vocabulário bronco de militante chapado.
A água do batismo da universidade é a
cristalina abertura ao universo do conhecimento. Nobilíssimo atributo! Ela tem
autonomia para que isso seja possível. Não para que seja impedido!
Vê-la convertida em mera caixa de ressonância desses chavões vulgares
que a esquerda produz e embala não os faz sofrer? Não os sensibiliza pensar em
tudo que ela deixa de promover enquanto mentes jovens vão sendo zelosamente
calafetadas e lacradas, inibidas de buscar a verdade? Dezenas de campi
universitários, nos estertores da campanha de Fernando Haddad, dito o Poste,
registraram consequências disso.
No sprint
final da disputa pelo voto, de modo simultâneo e coordenado, universidades
públicas de nove estados sediaram agitados eventos “antifascistas”, artimanha
com que, combatendo Bolsonaro, ajudavam Haddad. Os juízes entenderam os atos
pelo que de fato eram: propaganda eleitoral em órgãos públicos. E trataram de
sustá-los, mas a ministra Cármen Lúcia determinou a suspensão das medidas.
Disse ela: que as ações dos TREs e da
Polícia Federal "impediam a
manifestação livre de ideias e divulgação do pensamento nos ambientes
universitários”. Foi secundada por Dias Toffoli, presidente do STF, para
quem o Supremo "sempre defendeu a autonomia e a
independência das universidades brasileiras, bem como o livre exercício do
pensar, da expressão e da manifestação pacífica".
Assim, as palavras são usadas para consagrar
como nobre o uso vicioso do espaço universitário e dar por são, legítimo e
plural, o que é rasgadamente enfermo, ilegítimo e sectário. Pelas mãos do STF,
converte-se o ambiente acadêmico em casamata portadora de uma dignidade negada
pela prática. Quem duvida, assista aqui cenas dessa “plural liberdade de
manifestação e expressão”. São sempre os mesmos, contra os mesmos, fazendo o
mesmo, em toda parte.
Será que os ministros do STF, vendo estas cenas
tão comuns, dirão que elas correspondem a um bem merecedor das palavras que lhe
dedicam?
Percival Puggina - membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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