Estudo revela uma
indústria crescente que busca investir em negócios relacionados com os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Operações estão mais presentes
nas áreas de tecnologia da informação e comunicação, educação, saúde e
conservação da biodiversidade
O investimento de impacto – aquele injetado em
empresas com objetivos sociais e financeiros explícitos – é uma indústria em
crescimento no Brasil e se manteve resiliente diante do instável cenário
político e econômico. O Brasil é um dos países que apresentou os maiores
números de investimento de impacto na América Latina. As informações fazem
parte de um relatório sobre tendências desse tipo de atividade divulgado nesta
terça-feira (30), em São Paulo, pela Aspen Network of Development Entrepreneurs
(ANDE) e LAVCA – Associação Capital Privado na América Latina, com apoio da
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Associação Brasileira de
Private Equite e Venture Capital (ABVCAP), Instituto de Cidadania Empresarial
(ICE) e UBS.
O estudo com dados sobre o Brasil é um
desdobramento do relatório latino-americano lançado no início deste mês. A
análise aborda o investimento de impacto a partir de critérios como setor,
tamanho e estágio do negócio, compara o progresso dos investimentos com 2014 e
2015 e conclui apresentando as expectativas dos investidores para 2018 e 2019.
Apesar dos avanços no âmbito do impacto social, o
Brasil ainda encara sérios desafios sociais em diversos setores, principalmente
aos relacionados à desigualdade e ao acesso a serviços básicos. No relatório,
mais de 80% dos investidores respondentes afirmaram que alinham suas
estratégias de investimento com um ou mais Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS). “Erradicação da Pobreza” e “Redução das desigualdades”,
seguidas de “Trabalho decente e crescimento econômico”, “Energia acessível e
limpa” e “Ação contra a mudança climática global” foram classificadas como as
principais áreas de enfoque, ilustrando a preocupação com a redução das
desigualdades e mudanças climáticas.
“Os investidores de capital privado ativos na
América Latina estão cada vez mais focados no impacto de seus investimentos e
apoiando empresas que, em última análise, melhorarão as condições sociais e
financeiras”, afirma Cate Ambrose, presidente da LAVCA. “À medida que o
ambiente geral de investimentos amadurece, esperamos ver uma convergência
contínua entre os investidores tradicionais e os fundos de impacto na região. ”
"Estamos orgulhosos de testemunhar a evolução do
investimento de impacto no Brasil. O mercado está crescendo e se tornando mais
sofisticado, embora ainda existam desafios significativos tanto para
empreendedores de impacto que buscam investimento quanto para investidores de
impacto que buscam ofertas. A ANDE está empenhada em enfrentar esses desafios
ajudando o setor a construir ecossistemas empreendedores fortes em todo o
continente ”, diz o diretor-executivo da ANDE, Randall Kempner.
Principais conclusões
De acordo com a pesquisa, apesar do cenário político
e econômico desafiador, sete investidores fizeram seu primeiro investimento de
impacto no Brasil no período de 2016-2017. A pesquisa afirma que dos 29
investidores ativos no Brasil entrevistados, 10 reportaram gerenciar cerca de
US$ 343 milhões em ativos sob gestão . Durante 2016 e 2017, 22 investidores
investiram um total de US$ 131 milhões através de 69 operações.
Os setores que tiveram mais iniciativas nesse
período foram tecnologia da informação e comunicação (TIC), seguido por
educação, saúde e conservação da biodiversidade. Os maiores investimentos foram
destinados aos setores de TIC, geração de renda, inclusão financeira, energia e
agricultura.
“Os negócios de impacto são crescentes e os
investidores encontram no Brasil inúmeras oportunidades. É interessante ver
que, em números absolutos, iniciativas em conservação da biodiversidade ocupam
os primeiros lugares no ranking de operações. Entretanto, o total investido
nesse setor ainda é tímido – menos de 1%. A conservação da natureza traz muitos
benefícios à sociedade e tem grande potencial de gerar bons negócios”, afirma o
coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de
Proteção à Natureza, Guilherme Karam.
Investimentos de impacto no Brasil foram
concentrados em empresas no estágio de expansão/crescimento. De acordo com o
relatório, o total investido em empresas em fase de expansão ou crescimento foi
de US$ 123 milhões, representando dois terços das 69 operações. Não foram
reportados investimentos em negócios em estágio semente ou de incubadora.
Desafios e perspectivas futuras
As perspectivas de investimento permanecem fortes,
com oito investidores planejando captar US$ 190 milhões de recursos em 2018 e
2019, e realizar 176 operações nesse mesmo período.
Apesar do crescimento em comparação com os anos
anteriores, ainda há muito espaço para crescimento do setor de investimento de
impacto no Brasil. Comparativamente com a indústria de Venture Capital e
Private Equity tradicional, que investiu US$ 6,8 bilhões em 332 operações em
2016-2017, o investimento de impacto representa uma porcentagem pequena de
investimentos com potencial de expansão.
No entanto, os desafios para esse crescimento ainda
são latentes, destacando-se a captação de recursos, o desenvolvimento de atores
do ecossistema e a existência de instrumentos adequados de investimento como os
principais desafios reportados pelos investidores na pesquisa. Estes desafios
se assemelham aos desafios citados por outros investidores da região da América
Latina.
Outro desafio é a grande concentração de
investimentos com tickets abaixo de US$ 250 mil e acima de US$ 1 milhão e o não
investimento em negócios em estágio semente ou de incubadora, deixando uma
parcela de negócios sem acesso a recursos fundamentais para seu amadurecimento.
Fundação Grupo
Boticário
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