Pesquisa, com base na PNAD Contínua, comparou taxa de desemprego geral
com as taxas das Unidades da Federação e dos que procuram emprego
A vulnerabilidade das mulheres negras ao desemprego é 50% maior. Estudo
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a cada 1 ponto
percentual a mais na taxa de desemprego, as mulheres negras sofrem, em média,
aumento de 1,5 ponto percentual. Para as mulheres brancas, o reflexo é de 1,3
p.p. A análise utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (Pnad Contínua) entre o primeiro trimestre de 2012 e o segundo
trimestre de 2018. O estudo integra o Boletim Mercado de Trabalho nº 65,
lançado nesta quarta-feira, 31, pelo Ipea.
Mas não são apenas as mulheres negras que aparecem em condição de maior
vulnerabilidade. Jovens entre 18 e 29 anos também estão entre os mais afetados.
Nesta faixa etária, a sensibilidade do desemprego é de 1.6 p.p. no período,
contra 0.7 p.p. para trabalhadores entre 30 e 64 anos.
No trabalho, os pesquisadores do Ipea comparam a taxa de desemprego de
cada estado com a proporção de pessoas sem trabalho há pelo menos 12 meses e
com a taxa de desemprego do grupo analisado em cada unidade da federação, apresentando
também dados por faixa etária e escolaridade. Os resultados mostram uma menor
diferença de sensibilidade da taxa de desemprego segundo o grau de instrução,
com uma diferença de 0,3 p.p. entre trabalhadores com ensino médio incompleto e
completo.
“A falta de experiência profissional e a necessidade de conciliar
trabalho com formação educacional são alguns dos fatores que dificultam a
entrada dos jovens no mercado de trabalho” destaca Maíra Franca, uma das
autoras do trabalho.
Considerando números absolutos de desemprego, as maiores taxas foram
detectadas entre o terceiro trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2017,
quando o desemprego aumentou em mais de 6 p.p. e a parcela de pessoas em busca
de trabalho por um ano ou mais cresceu 5 p.p. Nesse mesmo período, o desemprego
entre as mulheres negras cresceu 8 p.p., contra 4,6 p.p. para os homens
brancos.
Na análise por grau de escolarização, entre 2014 e 2017 os trabalhadores
menos escolarizados foram os mais impactados: alta de 7 p.p. entre aqueles com
ensino médio incompleto, contra 5,9 p.p. entre trabalhadores com ensino médio
completo. Em relação à faixa etária, o desemprego entre os jovens, que já era
elevado, subiu 10,6 p.p., enquanto os adultos experimentaram aumento de 4,8
p.p. na taxa.
“Os efeitos das oscilações da economia podem ser bastante heterogêneos.
Conhecer em que medida essas oscilações afetam o desemprego dos diferentes
grupos socioeconômicos permite que se desenhe políticas públicas de forma mais
adequada para cada público”, pontua o pesquisador do Ipea, Miguel Foguel,
coautor do trabalho. O estudo indica que, de forma geral, o mercado de trabalho
vem se recuperando, mas a passos lentos: a taxa de desemprego caiu 1 p.p. entre
o primeiro trimestre de 2017 e o segundo trimestre de 2018.
Boletim de Mercado de Trabalho
O Boletim de Mercado de Trabalho é editado pela Diretoria de Estudos e
Políticas Sociais do Ipea. Além da análise dos dados da Pnad contínua, a edição
divulgada nesta quarta-feira conta com um estudo que mostra que mulheres jovens
de baixa escolaridade são as que mais desistem de procurar emprego.
Outro artigo aponta a reformulação no Sistema Público de Emprego,
Trabalho e Renda (SPETR) como fundamental para a promoção da proteção social
dos trabalhadores e a elevação das oportunidades de emprego no país. A
principal proposta é o estabelecimento de escolha, por parte do trabalhador
demitido, entre o saque do FGTS e o recebimento do seguro-desemprego. “Com
isso, espera-se gerar um desincentivo ao tipo de demissão simulada, sobretudo
na ótica do trabalhador dispensado, pois haveria um benefício a menos a ser
acessado imediatamente”, afirma o pesquisador Sandro Pereira Silva, autor do
estudo e técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.
O Boletim de Mercado de Trabalho conta, ainda, com análises sobre bancos
comunitários de desenvolvimento; políticas públicas de inclusão socioeconômica
de catadores e catadoras de materiais recicláveis; e liderança de mulheres em
empreendimentos econômicos solidários, entre outros.
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