O neuropsicólogo,
Deibson Silva, fala sobre o lado positivo dos conflitos e como não chegar ao
fim das eleições sozinho
Desde as primeiras manifestações que tomaram o país
em 2013, até os protestos por impeachment, que muita gente afirma que o país se
polarizou. A verdade é que divergências de ideias sempre existiram e seguirá
desta forma, porém, a internet, um dos meios de comunicação mais democráticos
que existem, pluralizou vozes e a disseminação de ideias nem sempre em
concordância com as nossas. O resultado disso é que temos a impressão de que o
país se dividiu em dois lados em constante conflito na defesa de suas ideais,
fazendo com que muita gente rompa com amizades de anos, brigue com parentes e
até coloque o trabalho em risco. Deveríamos, então, evitar tais conflitos? O
neuropsicólogo Deibson Silva afirma que não, este não é o melhor caminho.
Para o especialista, ao contrário do que se
imagina, os conflitos são saudáveis para as relações humanas porque nos colocam
diante de uma pluralidade de ideias que é importante para aprender sobre o
respeito mútuo. O que Silva aponta como algo negativo do momento atual é que muitas
pessoas estão enxergando o outro, aquele que tem um pensamento diverso do seu
como um inimigo, um adversário a ser combatido.
“Esse tipo de comportamento demonstra falta de
maturidade emocional. É importante termos em mente que cada pessoa no mundo tem
uma personalidade própria, valoriza coisas diferentes, tem opiniões diferentes
e isso é sadio, não deveria fazer ninguém inimigo”, explica Silva.
Tendo isso em mente, o neuropsicólogo diz que o que
pode ajudar a evitar conflitos é o jeito como nos posicionamos. “Se tenho
entendimento e gerenciamento de minhas emoções, e me posiciono de uma forma
madura, eu não só posso como tenho todo o direito de expressar minhas opiniões.
Neste mesmo movimento, também temos que ter claro que a partir do momento que
manifestamos uma ideia, aumento a probabilidade de escutar algo que eu não
goste. Por isso a importância da maturidade emocional, de saber me controlar e
dialogar, pois muitos dos conflitos são resultados da maneira como se fala e
nem tanto sobre o que se fala”.
O especialista também indica que é sempre
importante ter em mente que não há verdades absolutas e que existem conflitos
que devem ser evitados. Isso ocorre quando percebemos um fanatismo na fala do
outro. “Quando percebo e entendo que existe por trás da fala do outro uma
verdade absoluta, uma cegueira e que aquela discussão não produzirá efeitos
sadios, realmente não preciso me expor e arriscar a minha relação, minha
integridade física e moral por isso. Quando insisto em um embate que começa
desta forma, me ponho também neste lugar de fanatismo”, explica Silva.
Da mesma forma, o especialista defende que há
momentos que não podemos nos omitir. Nestes casos, é importante ter a
maturidade necessária e principalmente ter a sabedoria de expor suas ideias e
opiniões, deixando claros os motivos que os levam a pensar daquela forma. É
fundamental ter argumentos fortes, analisar os fatos friamente, incluindo aí os
gaps de cada situação, porque tudo tem dois lados, positivo e negativo. Há
sempre pontos a serem melhorados em qualquer coisa.
Assim, Silva defende que é importante ter
argumentos para defender seu posicionamento e também indicar pontos que
precisam ser melhorados, desenvolvidos. “Desta forma, mostramos ao outro que
não estamos defendendo uma verdade absoluta, pois temos uma visão crítica e
realista, apontamos pontos positivos e o que precisa ser melhorado dentro das
propostas que defendemos. Por isso, devemos desconfiar sempre das pessoas que
trazem verdades absolutas. Desconfie porque não é uma visão lógica, é uma visão
passional e diante do momento que o Brasil vive, precisamos ser críticos, ter
visão lógica das coisas, do nosso momento atual e acima de tudo, de nosso
futuro”, declara o neuropsicólogo.
Sobre nosso comportamento diante de conflitos que
as redes sociais colocam em evidência. Silva defende que elas são grandes
ferramentas de recursos ilimitados que, se bem usadas, tornam-se poderosas
ferramentas e aliadas para quem pretende se tornar formador de opinião. Porém,
novamente, é importante estar preparado para o que vem delas.
Neste ambiente, aparentemente muito simples, pois
as pessoas estão somente atrás de um teclado, muitas pensam que estão livres
para agirem com grosseria e agredir. “Por isso é preciso ter cautela e mostrar
a minha opinião de maneira muito mais centrada, sem que haja difamação,
disseminação de ódio. Ser cauteloso com o que vou postar, disseminar,
perguntar-se que o conteúdo que estou compartilhando vai contribuir para
alguém, se não vai difamar pessoas e me trazer consequências negativas”.
Para Silva, todos precisam ter um pouco de
jornalismo na veia e checar a veracidade do conteúdo compartilhado porque ali
está em jogo nossa integridade, honra, reputação, e se compartilhamos algo
falso, mesmo que sem querer, somos responsáveis por esse conteúdo. “Essa é a
cautela que recomendo a todos antes de sair por aí compartilhando qualquer
coisa que chega até nós”.
Por fim, o especialista deixa duas dicas para
evitar conflitos desnecessários. A primeira é entender que assim como você tem
sua visão, percepção, opinião e tem todo direito de expressá-la, as outras
pessoas também têm opiniões que podem ser diferentes das suas e isso não os
torna inimigos.
A segunda dica é ter autoconhecimento. “A minha
performance depende da consciência de quem eu sou, das minhas emoções, reações,
para que eu possa gerenciar e controlar minhas emoções, impulsos e reações. Se
tenho esse autoconhecimento, evito tomar atitudes intempestivas e trarei mais
maturidade no meu trato e fala com outro. E daí vem a importância de entender o
outro. De saber acessá-lo, de saber comunicar da melhor maneira, de ter empatia
e me colocar no lugar dele. Entender que as pessoas têm visão e paradigmas que
lhes são próprios e que podemos nos conectar e extrair o melhor de nossa relação.
Extrair dali a sinergia para que possamos construir algo juntos. Então, se isso
não for possível, tenho que entender até onde vai meu limite, posso tentar
influenciá-lo, mas sempre visando o melhor das relações, respeitando nossos
limites e até onde posso ir para não o agredir e não me arrepender depois de
meu comportamento”, finaliza Silva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário