Brasileiro vive misto de descrença, indignação e
dúvidas, mas é possível tirar proveito desse momento conturbado
Na semana em que o País terá eleições para começar a escolher seu
novo presidente um misto de dúvidas, desânimo, descrença e indignação atinge
muitos brasileiros. Pouco mais da metade (53%) da população ainda está
pessimista em relação aos resultados, segundo pesquisa CNDL/ SPC, que também
aponta que a maioria dos eleitores (69%) espera uma grande mudança vinda do
próximo governo.
Mas o momento exige outra atitude, mais positiva e proativa, na
opinião da especialista em desenvolvimento humano Rebeca Toyama, a de
aproveitar para evoluir na prática do debate, da conversa, mostrando pontos de
vista de forma madura sem a influência de um viés pessoal. “É uma forma de
tirar proveito desse pleito polêmico. Por isso, convido vocês a suspender o
lado passional para olhar o assunto de forma racional e com clareza”, diz ela.
A especialista afirma que essas eleições estão sendo baseadas no
fanatismo. O país está dividido em quem vota em A para não eleger B e
vice-versa, sem ter o cuidado de analisar propostas, valores e projetos. “Se
ficarmos focados na negação ou no apego, a gente não cresce”, e essa regra não
serve apenas para política, mas para outros aspectos da vida, alerta Rebeca.
O desânimo do brasileiro quanto às opções de candidatos somado à
falta de conhecimento sobre política fazem com que muitos não percebam a
importância do próprio voto. A falta de credibilidade nos políticos nacionais é
outro fator relevante e vem de longa data, sendo frequentemente demonstrada nos
números finais de eleitores que optaram por votar nulo, em branco ou não
comparecer.
Nas últimas eleições presidenciais, 115 milhões de pessoas foram
às urnas, sendo que 4,4 milhões votaram em branco, 6,7 milhões anularam e 27,7
milhões não compareceram. Isso significa que 34% da população não tiveram
atuação determinante na escolha de governantes e isso pode fazer toda a
diferença em uma eleição.
“Quando o eleitor opta por não votar, ela está tentando fugir de
ter a responsabilidade em escolher um presidente que, acredita, será uma
decepção”. O voto nulo ou em branco, argumenta a consultora, muitas
vezes, é negação de algo, mas é preciso entender que o fato de um cidadão não
conhecer e não gostar do assunto não o torna isento das consequências que a
política traz para a sociedade e sua própria vida. Assim, ignorar os problemas
não implicará na devida solução para eles, quer dizer, o custo será pago de
qualquer forma, com o eleitor votando ou não.
Embora a política esteja mais presente nas discussões do trabalho,
nas refeições em família e sobretudo nas redes sociais, o brasileiro ainda não
se sente inteirado e confortável com o assunto. “Essas eleições estão tendo
maior repercussão em decorrência dos escândalos, que geram simpatia e antipatia
por determinados candidatos”. Por um lado, isso traz um resultado positivo,
porque chama a atenção da parcela da população que se abstém do assunto, mas
por outro, o voto se torna extremamente passional, o que nos faz tomar decisões
de forma imatura.
A especialista explica que, atualmente, a grande maioria dos
votantes escolhem seus candidatos influenciados por teses e antíteses, ou seja,
constatações engessadas do senso comum. “Observo que hoje há uma predileção de
pensamentos baseados em experiências pessoais, o que nem sempre reflete no que
seria melhor para o país”.
A falta de opções é outro argumento apontado por muitos eleitores
ao justificarem por que irão se abster e não votarão em nenhum dos 14
candidatos. “Não adianta desejar uma situação diferente. Temos de trabalhar com
as opções que estão disponíveis, fazendo uma análise mais profunda dessa
escolha e, no máximo, refletir o que pode ser feito diferente nas próximas
eleições”, elucida.
Vale lembrar, ainda, que em um regime parlamentarista, como o
nosso, a autonomia do presidente é limitada. O que demanda de quem ocupa esse
cargo competências como articular e negociar. “Não precisa ir muito longe para
observar em nossa história o que aconteceu com os chefes do executivo que não possuíam
essas competências, acredito que aqui também temos uma boa reflexão”,
complementa Toyama.
Para Rebeca, a escolha deve recair sobre os candidatos que
defendam ideias e valores entendidos pelo eleitor como primordiais para levar o
Brasil para um caminho melhor. Segundo ela, ainda está em tempo de escolher um
candidato com mais sabedoria. Para isso, orienta ela, “é preciso analisar os
prós e contras de todas as opções, independentemente de opiniões pessoais e
emoções. Procure se informar sobre os projetos relacionados às principais
questões nacionais como saúde, educação, emprego e segurança, e seus impactos
tanto na economia do País, como na vida de cada um, tanto as propostas e ação
imediata como as de longo prazo”, orienta a especialista.
“Para termos eleições mais assertivas, precisamos valorizar
o potencial humano, pois dentro dele tem uma sabedoria que transcende qualquer
outra coisa. Todos direcionamos nosso tempo para coisas que são importantes
para nós, mas ainda é necessário enfatizar a relevância da eleição em si. Além
disso, o voto é democrático no sentido de que coloca todos os eleitores numa
mesma base. Não importa se o votante é um empresário com um saldo bancário
milionário ou um morador de rua, o voto tem o mesmo peso para todos, e isso
nunca deve ser esquecido”, finaliza.
10 dicas para votar bem
- Momento exige atitude positiva e proativa
- A abstenção não isenta eleitor das consequências
- Aproveite para evoluir na prática do debate, da conversa
- Controle o aspecto passional e deixe fanatismo de lado
- Pense mais no melhor para o País e não para sua situação
particular
- Analise o assunto com racionalidade e clareza
- Tenha consciência de que o voto tem o mesmo peso para todos
- Não use o voto para negar, mas para defender algo
- Escolha o candidato com ideias e valores nos quais você acredita
- Valorize o potencial humano
Rebeca Toyama - palestrante e formadora de líderes, coaches e mentores. Fundadora da Academia de Coaching Integrativo, sócia-coordenadora da Academia de Planejamento Financeiro da GFAI, coordenadora do Programa de Mentoring associada a Planejar (Associação Brasileira de Profissionais Financeiros) e fez parte da Comissão de Recursos Humanos do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Colunista do Programa Desperta na Rádio Transamérica e do blog Positive-se, colaboradora do livro Coaching Aceleração de Resultados, Coaching para Executivos. Integra o corpo docente da pós-graduação da ALUBRAT (Associação Luso-Brasileira de Transpessoal) e Instituto Filantropia. Coach com certificação internacional em Positive Psychology Coaching e nacional em Coaching Ontológico e Personal Coaching com o Jogo da Transformação.
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