No próximo domingo, o país inteiro vai para a urna eletrônica eleger os representantes políticos que irão governar o Brasil pelos próximos quatro anos. Apesar do período eleitoral ser o momento crucial para debater ideias e planos, muito se fala sobre o histórico de corrupção e da vida pessoal dos candidatos e, pouco se vê sobre o plano estratégico de cada candidato para construirmos um Brasil melhor.
Essa falta de planejamento
para executar um plano de governo não é de hoje. Infelizmente, ela é sistêmica
e faz parte da nossa história desde o Brasil Império. Nos primeiros séculos,
logo após o descobrimento e quando ainda éramos colônia de Portugal, vivemos um
momento nomeado como O Quinto. O Quinto era um imposto cobrado pelo governo. Recebeu
esse nome porque correspondia a 20%, um quinto, do metal extraído que era
registrado pelas casas de fundição. Era um tributo altíssimo e os brasileiros o
odiavam tanto que acabaram o apelidando de “O Quinto dos Infernos”.
Se você
concorda que no século XVII essa tributação era absurda, porque não estamos
revoltados com o fato de hoje em dia pagarmos cerca de dois quintos de impostos
em tudo o que produzimos e consumimos? A alta carga tributária é uma das
principais vilãs que impedem o desenvolvimento de pequenas empresas. Os
empresários precisam trabalhar quatro meses por ano só para pagar impostos e,
preocupados em fechar a conta no azul, não investem em melhoria de processo e
qualidade, maquinário, capacitação de pessoas e etc, mantendo a empresa longe
da inovação e do crescimento.
Se não
bastasse a alta tributação, as burocracias legislativas também tomam tempo e
recursos das empresas. Um levantamento feito pelo Ciesp - Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo, aponta que uma empresa leva em média duas mil e
seiscentas horas (2.600h) por ano para cumprir todas as práticas estaduais e
federais. Se compararmos com a Inglaterra, o número se torna ainda mais
preocupante já que por lá a média é de cento e dezoito horas (118/h) por ano.
O maior
problema que vemos hoje no Brasil é a falta de planejamento a longo prazo. De
olho em vender o almoço para pagar a janta, o empresário fica mais preocupado
em apagar incêndios. Uma vez que não há planejamento e gestão de qualidade
perde-se muito tempo, dinheiro, mão de obra, recursos, insumos e espaço em
processos obsoletos. A dificuldade de liberação de crédito para as PMEs
investirem também é outra barreira que impede o desenvolvimento.
Estamos em um
momento decisivo, e tenho certeza que, independente
da polarização que vemos no discurso e nas redes sociais, todos querem um país
mais justo, com emprego e liberdade competitiva. Mais importante do que assumir
um lado nessa “guerra”, temos que aproveitar as diferenças para debatermos
sobre que país queremos ser nos próximos anos e, principalmente, como iremos
transformar o sistema e participar da mudança daqui para frente.
Alexandre Pierro - engenheiro mecânico, bacharel em física
aplicada pela USP e fundador da PALAS, consultoria em gestão da qualidade.
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