O estudo foi publicado na edição de
setembro da revista Emerging Infectious Diseases, do CDC americano
A infecção
pelo vírus da dengue durante a gravidez aumentou o risco de anomalias
neurológicas congênitas no recém-nascido em cerca de 50%, bem como de outras
malformações congênitas do cérebro em quatro vezes, afirma o estudo Symptomatic
Dengue during Pregnancy and Congenital Neurologic Malformations,
publicado na edição de setembro da revista Emerging
Infectious Diseases, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (em
inglês, Centers for Disease Control and Prevention - CDC), do governo dos
Estados Unidos.
No estudo,
pesquisadores brasileiros encontraram uma associação entre dengue durante a
gravidez e anomalias congênitas do cérebro, sugerindo que os flavivírus, o
mesmo gênero de vírus causador do zika e da febre amarela, está associado a
estas malformações.
Segundo a
pesquisadora principal, a epidemiologista Enny Paixão, pesquisadora do Centro
de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/FIOCRUZ) e doutoranda
London School of Hygiene & Tropical Medicine, em Londres, até este estudo
não havia evidência de malformações congênitas em humanos associada ao
flavivírus, embora complicações pós-natais já tenham sido descritas.
O ESTUDO
O estudo
utilizou dados coletados rotineiramente de nascidos vivos e de suas mães, de
2006 a 2012, no Brasil, ou seja, antes da epidemia do vírus Zika, que teve seu
auge entre 2015 e 2016. Estes dados foram relacionados aos casos de mães de
nascidos vivos com registros de notificação de dengue durante a gravidez.
Dos 16.103.312
nascidos vivos, as anomalias congênitas neurológicas foram raras, presentes em
13.634 (0,08%) deles. No entanto, entre as mulheres que tiveram a confirmação
da dengue durante a gravidez, os casos de anomalia neurológica congênita foram
50% maiores. Em cerca de metade destes casos, os sintomas da dengue ocorreram
no primeiro trimestre da gravidez.
Os defeitos
congênitos neurológicos foram divididos em categorias, incluindo microcefalia,
mas dois outros tipos de anomalias congênitas neurológicas foram quatro vezes
mais frequentes: malformações congênitas da medula espinhal e malformações
congênitas do cérebro.
O padrão de
anomalias descritas tem semelhanças com o da Síndrome Congênita do Zika (SCZ),
afirmam os pesquisadores, que fizeram esta verificação por meio da comparação
com imagens cerebrais e autópsias de bebês com Zika e outras doenças
infecciosas.
ATENÇÃO À DENGUE
O estudo,
afirmam os pesquisadores, possui limitações, como por exemplo o fato de nem
todos os casos serem testados depois que a causa é estabelecida. Vale lembrar
que a dengue, no Brasil, é notificada quanto à presença de critérios clínicos,
confirmação laboratorial ou ambos. No entanto, somente 30% das infecções
notificadas são confirmadas laboratorialmente.
Na conclusão,
embora a associação de dengue sintomática durante a gravidez e anomalias
congênitas do cérebro no bebê não sejam tão altas quanto à ligação com o Zika,
os achados abrem a possibilidade deste e de outros flavivírus causarem
malformações congênitas.
A recomendação
dos pesquisadores é que, a partir de agora, haja uma observação cuidadosa e o
registro da infecção por dengue ao longo do pré-natal, bem como investigação
completa de nascidos vivos com malformações neurológicas.
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