Estamos vivendo uma verdadeira febre (“hype”
para os mais chics) de publicações, discussões e prognósticos sobre os efeitos
da aplicação da Inteligência Artificial nos serviços Jurídicos e na profissão
do Direito.
Não estou alheio às evoluções tecnológicas;
não sou cético nem refratário a elas, muito ao contrário, sempre fui e serei
amante e muito curioso com tudo que a tecnologia nos reserva para o futuro.
Também não tenho a visão “dark” sobre o futuro como alguns autores e
cineastas pregam, mas por outro lado, não vejo um “caminho de rosas”. A minha
visão é mais pragmática e enxergo a tecnologia, no caso da profissão do
Direito, como uma ferramenta de extrema utilidade, mas sempre uma ferramenta!
Não vamos nos iludir. O efeito que a
tecnologia e especificamente a IA irá causar nos serviços será sem precedentes
e não me atrevo a prever como será o futuro próximo. Porém, uma coisa é certa:
essas mudanças exigirão uma adaptação enorme de todos os profissionais
envolvidos nesse mercado!
Faço uma analogia com o que ocorreu com a
profissão dos torneiros mecânicos na indústria. Nas décadas de 70 e 80 essa
profissão era a mais bem cotada e bem remunerada, pois apenas uns poucos bons
sabiam manejar os tornos e conseguiam criar as peças contidas nos projetos
precisamente (com tolerâncias mínimas dimensionais) por conta de suas habilidades
manuais para manejar aquela máquina complicada. Com o advento dos tornos
computadorizados, a profissão de torneiro mecânico não foi extinta, mas todos
aqueles profissionais tiveram que se adaptar e desenvolver outros atributos e
hoje esses profissionais tem que ter habilidades para operar computadores e não
“colocam mão na máquina” mais.
Outro ponto a ser considerado é que a
Inteligência Artificial ainda engatinha no campo de sua utilização nos textos,
palavras e linguagem oral e escrita. Lembremos que as tecnologias de busca de
palavras (Google) deslanchou no final dos anos 90 e aquelas envolvidas em
tratamento de números (bancos de dados relacionais) datam do início dos anos
60, ou seja, um gap de 40 anos, pelo menos. Na atualidade a grande maioria dos
sistemas mais recentes desenvolvidos utilizam uma serie de algoritmos
matemáticos / estatísticos, de cognição semântica, de “machine Learning”
e tudo isso associado a um aumento exponencial na capacidade de processamento
doa computadores atuais.
Tudo isso contribui de maneira decisiva para
o aumento da produtividade dos advogados, permitindo que diminuam em mais de
dez vezes os tempos necessários para a produção de documentos, mas não
interferem na capacidade e nas escolhas das decisões gerenciais e estratégicas
que devem ser tomadas por seus gestores.
Como tenho reiterado, o grande desafio dos
gestores jurídicos (sejam proprietários de escritórios ou diretores de
departamentos jurídicos) é a mudança do mercado, que cada vez mais espera e
exige empresas mais ágeis, com soluções inovadoras e menos custosas.
Nesse ponto é que entra a Inteligência
Estratégica!
O conjunto de pensamentos de como enfrentar e
vencer nesse mercado cada vez mais competitivo é o que na língua inglesa,
sempre muito mais concisa, se define o como o “mindset”.
Esse mindset deve ser mais abrangente
que a simples busca do aumento de produtividade (que também deve ser
perseguida), mas deve também comtemplar:
-
A análise de todas as estatísticas internas financeiras, de dedicação dos profissionais
(timesheets), de eficiência nas cobranças, na acuidade orçamentaria, na
qualidade na precificação de propostas, etc., ou seja, ser uma gestão “data
centric”.
-
A análise dos mercados e dos players (concorrentes e consumidores) por meio de uso
da chamada “big data”, identificando tendências, a competição e as
mudanças de comportamento.
-
A mudança da visão de toda a organização para enxergar os compradores de seus
serviços como consumidores e não como clientes.
-
A mudança na postura de fornecedor de serviços para efetivo parceiro,
entendendo profundamente do negócio de seu cliente/consumidor auxiliando-o
juridicamente e participando ativamente nas suas decisões estratégicas.
-
A constante busca pela inovação nos seus serviços tentando sempre surpreender
os clientes e não simplesmente satisfazê-los. Contradizendo a matemática, criar
uma condição onde o necessário NÃO é o suficiente.
-
A busca da efetiva solução para o negócio de seu cliente, agregando o máximo
valor possível (mesmo que seja propor um acordo). Lembrando sempre que a melhor
solução para o negócio do cliente pode não ser obrigatoriamente a melhor
solução jurídica.
-
A mudança da própria auto visão: os escritórios de advocacia, a mudança para
“empresa prestadora de serviços intelectuais jurídicos” e os departamentos
jurídicos a mudança para “parceiro estratégico legal do CFO”.
-
A gestão profissional de sua empresa, principalmente na avaliação correta de
seus sócios e sua relativização racional.
A Inteligência Artificial veio para somar e
não para substituir. A melhor empresa será aquela que utilizar a
Inteligência Artificial para maximizar a sua Inteligência Estratégica!
José Paulo Graciotti -
consultor, autor do livro “Governança Estratégica para
escritórios de Advocacia”, sócio da GRACIOTTI Assessoria Empresarial,
membro da ILTA– International Legal Technology Association e da ALA –
Association of Legal Administrators. Há mais de 28 anos implanta e gerencia
escritórios de advocacia - www.graciotti.com.br
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