Foi-se
o tempo em que o Brasil era grassado como o país do futebol. Talvez menos pelos
deméritos recentes de nossa seleção canarinho e muito mais pelo amadurecimento
de outras vocações nacionais, hoje podemos nos orgulhar de ostentarmos uma
condição ímpar: somos uma grande potência agrícola e somos, ao mesmo tempo, a
grande potência ambiental do planeta. Apesar do aparente paradoxo, o Brasil
está conseguindo avançar simultaneamente nestas duas direções: produzir cada
vez mais alimentos para o mundo e preservar recursos naturais para as futuras
gerações. Ao contrário do que muitos apregoam, não são caminhos opostos, pelo
contrário, são simbioticamente complementares.
O
Brasil guarda 12% da água doce do mundo, tem 500 milhões de hectares de
florestas, 350 milhões de hectares de áreas marinhas e 2 milhões de espécies
vivas distribuídas em 6 diferentes biomas. Ao mesmo tempo, produz 200 milhões
de toneladas de grãos por ano, é o maior produtor de soja, café, açúcar,
laranja e o segundo maior exportador mundial de produtos agropecuários.
O
Brasil optou por reservar mais de 60% de seu território para preservação
ambiental. Não estamos falando de áreas inóspitas ou inabitáveis. São terras
que poderiam ser convertidas e destinadas ao aproveitamento econômico. No
entanto, de forma muito sábia e corajosa, o povo brasileiro decidiu destinar à
exclusiva proteção de nossa riquíssima biodiversidade quase dois terços das
terras brasileiras. Enquanto isso, a agricultura, que ocupa apenas 8% do
território nacional, graças à sua extraordinária pujança e desenvolvimento
tecnológico, é a grande responsável por garantir a segurança alimentar e
energética do mundo, agora e principalmente no futuro.
Esta
nossa realidade, sem paralelo no cenário planetário, descortina para nós um
tempo vindouro especialmente promissor. Temos em nosso país uma incomparável
vantagem comparativa e estratégica: conseguimos preservar nossa biodiversidade
ao mesmo tempo que nos tornamos os grandes fornecedores mundiais de comida, de
energia renovável e, sobretudo, de imprevisíveis e reveladoras descobertas científicas
sobre nosso preciosíssimo patrimônio genético, já que 90% dele ainda é
desconhecido.
Nesta
semana do meio ambiente, vale a pena fazer um resumo de como conseguimos chegar
nesta privilegiada situação. Especialmente em São Paulo, seguindo diretriz do
Governador Alckmin, existe um esforço permanente para fazer com que nossa
agricultura fique na vanguarda da sustentabilidade. Este esforço é de nossas
universidades, entidades da sociedade civil, institutos de pesquisa e de
milhares de profissionais e agricultores que se dedicam a experimentar técnicas
de sustentabilidade.
Comemoramos
recentemente inúmeras novidades na área do controle biológico de pragas e
doenças por meio da utilização de ácaros predadores, fungos, parasitas,
nematoides e insetos, conforme pesquisas desenvolvidas por nosso Instituto
Biológico. Estas novas tecnologias são capazes de substituir a utilização de
agroquímicos, não deixam resíduos, não afetam a saúde de ninguém e não causam
impacto ambiental relevante. Quanto à preservação dos solos e das águas,
editamos novas normas para melhor a aplicação de técnicas de manejo e plantio,
especialmente para a cana-de-açúcar. Por meio dos exitosos programas
“Integra” e “Nascentes”, financiamos a recuperação de áreas degradadas e
incentivamos fortemente a recuperação de matas ciliares. O programa “Melhor
Caminho” recupera estradas vicinais e, sobretudo, ensina técnicas de
conservação que evitam erosões e assoreamentos. O programa “Aplique Bem”
qualifica profissionais para o uso racional de agroquímicos e nossas equipes de
extensão rural da CATI difundem as técnicas de plantio direto, tratamento de
dejetos animais, biodigestão ou compostagem de materiais orgânicos e carcaças,
nitrogenação biológica de solos, integração lavoura-pecuária-floresta, recuperação
de pastagens degradadas, Sistemas Agro-Florestais e outras voltadas à
agricultura ecológica e orgânica. Nosso Instituto de Zootecnia tem desenvolvido
técnicas extraordinárias para dar mais precocidade aos rebanhos (como é o caso
do Boi 777, cujo ciclo completo até o abate é de apenas 21 meses), fortificação
de leite, melhoria da nutrição animal, etc. O Instituto Agronômico, que
completa 129 anos neste mês, não cansa de lançar novos cultivares, mais
resistentes à estresse hídrico, às pragas e que melhoram a produtividade de
nossa agricultura. O Instituto de Tecnologia de Alimentos desenvolve técnicas
para o melhor aproveitamento dos alimentos e o Instituto de Pesca tem
conseguido resultados importantes no repovoamento de nossa fauna aquática. Estamos
na reta final da elaboração do Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono)
paulista e fizemos recentemente um aprofundamento da compreensão e planejamento
para o desafio de Segurança Alimentar X Mudanças Climáticas. Tudo isso
representa uma agricultura harmônica com o meio ambiente e de baixa emissão de
Gazes de Efeito Estufa. É a agricultura de baixo carbono que garante
produtividade no campo ao mesmo tempo que cumpre nossa missão de combater o
agravamento das mudanças climáticas.
Além
de todas estas tarefas que exigem compromisso com a preservação ambiental,
sabemos que a melhoria da renda de quem mora no campo é um grande aliado da
conservação. Por isso, ainda para comemorar a semana do meio ambiente, no
último dia 31 assinamos 134 projetos para o desenvolvimento rural de
associações ou cooperativas de pequenos produtores agrícolas, com aporte
financeiro de R$ 58 milhões a fundo perdido por meio do programa “Microbacias
II”. Fomentar o progresso sustentável dos pequenos agricultores é diretriz do
Governo de São Paulo que seguimos à risca com efeitos extremamente benéficos do
ponto de vista ambiental.
Finalmente,
com orgulho, podemos afirmar que São Paulo foi o primeiro aluno da classe no
cumprimento da hercúlea tarefa de inscrever posses e propriedades rurais no
Cadastro Ambiental Rural – CAR. Se pegarmos como base os dados do IBGE, que
servem de parâmetro para medir performance do cadastramento nos estados
brasileiros, São Paulo atingiu 100% da área cadastrável. Isto é um feito
notável, só atingido graças ao empenho de milhares de profissionais, do setor
público e privado, que demostraram ser apuradíssima a consciência ambiental dos
agricultores paulistas. Nosso próximo passo será dar início ao Programa de
Regularização Ambiental – PRA das propriedades rurais, confirmando que São
Paulo sabe produzir ao mesmo tempo em que conserva.
Muito
mais do que petróleo, o mundo precisará nos próximos 30 anos de comida, água
potável e energia limpa. Precisará de medicamentos, fibras, compostos e
descobertas científicas. São Paulo e o Brasil estão prontos para se inserir
neste futuro promissor como grandes protagonistas. Vamos ao futuro!
Rubens Rizek - Foi Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e atual Secretário Adjunto de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo
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