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Débora Silva usa sua voz e
força para denunciar mortes de maio de 2016. Fundo Brasil é fundamental para
o movimento
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O filho de Débora
Maria da Silva morreu há dez anos e até hoje a fundadora e coordenadora do
movimento Mães de Maio tem a sensação de ver o primogênito cair. A tristeza
de reviver a tragédia surge toda vez que ela é informada sobre a morte de
jovens pela polícia nas favelas e periferias do país.
“Enterrei meu filho
há dez anos. E há dez anos a ficha não caiu”, conta, rodeada de jovens
durante uma roda de conversa sobre os Crimes de Maio, como ficou conhecido o
episódio em que mais de 500 civis foram assassinados no estado de São Paulo
por homens encapuzados após as mortes de policiais provocadas pelo PCC
(Primeiro Comando da Capital), entre os dias 12 e 20 de maio de 2006.
Falar, denunciar e
cobrar punição são ações que fazem parte da rotina de Débora nesta última
década. O dia a dia ficou mais intenso nas últimas semanas por causa dos dez
anos dos Crimes de Maio. Entrevistas, rodas de conversa e debates sobre os
dias sangrentos têm nesta mãe de 57 anos uma referência de resistência às
violações de direitos humanos tão escancaradas na matança realizada em áreas
pobres do estado.
Ela não cansa. E não
tem medo. “Enquanto viver, vou lutar”, promete. “A luta é pela desmilitarização
da polícia. Prometi isso na tampa do caixão do meu filho”.
O filho de Débora, o
gari Edson Rogério Silva, morreu no dia 15 de maio de 2006, aos 29 anos. A
coordenadora do Mães de Maio havia sido informada por um familiar sobre os
riscos de ficar na rua naqueles dias e pediu para o filho tomar cuidado no
caminho para casa, à noite, após o trabalho.
Na manhã seguinte, no
entanto, soube pelo rádio que Rogério era uma das vítimas dos assassinatos
cometidos por homens encapuzados em Santos, onde a família mora. Horas antes,
eles haviam passado juntos o Dia das Mães.
Débora Silva, líder
dos Mães de Maio, é hoje referência na denúncia de crimes cometidos pela
polícia (Acervo Fundo Brasil)
“Enlouqueci. Parecia
que o mundo tinha desabado em cima de mim. Não acreditava, mas logo veio a
confirmação. Sofri muito, mas muito mesmo. Imagine uma mãe receber a notícia
da morte de seu filho pelo rádio. Passei alguns dias sem comer, sem dormir,
tentava uma explicação: por que fizeram isso?”, ela conta no livro “Do luto à
luta”, lançado em 2011 com apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos.
“O Fundo Brasil é que
alavancou o Mães de Maio”, diz Débora. A fundação apoiou o movimento em 2010,
2011 e em 2015, neste último ano de forma emergencial para colaborar com o
projeto “10 anos dos crimes de maio de 2006: relembrar para que não siga
acontecendo”.
Além do livro “Do
luto à luta” e de outras diversas atividades, o apoio teve como um dos
resultados o documentário “Missão: Justiça e Paz –
um pouco da história das Mães de Maio”, lançado em 2011.
No documentário,
Débora usa camiseta estampada com a foto de Rogério e relata, ao lado de
outras mães, o descaso institucional com as investigações sobre os
crimes.
A entrevista foi
gravada em 2007, um ano após as mortes. Em 2016, Débora continua denunciando
o descaso e cobrando providências. A diferença é que sua voz conquistou mais
espaços.
Há um mês, por
exemplo, a fundadora do movimento esteve nos Estados Unidos, com a Anistia
Internacional, participando de uma série de encontros com ativistas, debates
públicos e reuniões com autoridades sobre o alto índice de homicídios de
jovens negros no Brasil.
“Pisei em lugares em
que nunca pensei em pisar, por ser uma mulher pobre. Ninguém quer saber dos
nossos mortos. Mas temos que estar aqui para gritar”, afirma. “O movimento
Mães de Maio é conhecido agora porque somos mulheres ‘zica’, não vamos ficar
no conformismo”, completa.
Memória
Como aconteceu pouco
antes de Rogério morrer, o Dia das Mães era uma data em que Débora reunia os
três filhos e os sete netos em casa. Neste dia, também era comemorado o
aniversário dela. Agora, a data é um marco dos crimes e também do surgimento
do movimento Mães de Maio.
Após a morte do
filho, Débora precisou passar dez dias no hospital de tão debilitada que
ficou. Ainda internada, diz ter ouvido um recado do filho: “Mãe, levanta.
Seja forte”.
“Levantei mesmo. No
dia seguinte recebi alta”, conta.
Uma semana depois,
Débora saiu à procura de outras mães de maio e começou a peregrinação por
delegacias, Ministério Público, Câmera dos Vereadores, em Santos. Sem
respostas, as mães resolveram procurar ajuda em São Paulo, encontraram mais
pessoas dispostas a denunciar os crimes e começaram o movimento.
Exigem do Estado o
direito à memória, à verdade e à justiça, como já fizeram familiares de
vítimas da ditadura militar brasileira. O Mães de Maio é hoje uma organização
que participa de mobilizações contra a violência institucional de forma geral
e não apenas as relativas aos Crimes de Maio.
“A ditadura não
acabou”, repete Débora nas inúmeras vezes em que é convidada a falar sobre o
movimento que lidera. “A polícia no Brasil é uma fantástica fábrica de
cadáveres”.
Fundo Brasil
O Fundo Brasil
trabalha para promover os direitos humanos e sensibilizar a sociedade para
que apoie iniciativas capazes de gerar novos caminhos e mudanças
significativas para o país.
A fundação
disponibiliza recursos para o apoio institucional e para atividades de
organizações da sociedade civil e de defensores de direitos humanos em todo o
território nacional.
Em quase dez anos de
atuação, já destinou R$ 11,7 milhões a cerca de 300 projetos em todas as
regiões do país.
A garantia do estado
de direito e o enfrentamento ao racismo são algumas das temáticas apoiadas
pela fundação.
Saiba mais sobre o
Fundo Brasil
Facebook: www.facebook.com/fundobrasil
Twitter:
twitter.com/fundobrasil
Para colaborar: http://digasim.org.br/
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sexta-feira, 6 de maio de 2016
“Enquanto viver, vou lutar”, promete líder do Mães de Maio
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