Pacientes
não costumam avisar médicos sobre uso de anabolizantes, por ser proibido, e
isso dificulta o diagnóstico de enfermidades no fígado; complicações vão além
do fígado e podem comprometer testículos, coração, vasos sanguíneos e rins
Geralmente,
eles são receitados como um complemento aos treinos, como se fossem benéficos
ou para trazer resultados mais rápidos e de melhor qualidade. Alguns
profissionais os receitam para modelar os músculos, entretanto omitem dos seus
pacientes os reais riscos destas medicações. Por trás da recomendação do uso
destes medicamentos, principalmente hormônios esteroides - também conhecidos
como anabolizantes ou “bombas” – causam graves danos à saúde. Doenças hepáticas
de diagnósticos difíceis e tardios podem se revelar apenas anos depois da
utilização.
“Quando
o paciente está com uma doença grave, provocada pelo uso de anabolizantes, ele
sequer lembra que os utilizou no passado”, alerta o Dr. Raymundo Paraná, médico
chefe do serviço de Hepatologia do Hospital Universitário da UFBA (Universidade
Federal da Bahia). “Há um visível crescimento na utilização dessas drogas para
terapias ilegais de modelação do corpo”.
O
uso de anabolizantes sem finalidade e orientação médica é ilegal, com exceções
em situações pontuais (conforme Lei 9.965/2000). Por isso, é comum que os
pacientes não relatem o uso aos seus médicos, o que dificulta o diagnóstico de
doenças como
a hepatite tóxica. A isso, soma-se o desconhecimento dos profissionais que os
prescrevem, e ao acesso simples à informações sem base científica na internet.
“Profissionais pouco confiáveis incentivam muitos jovens à utilização de
anabolizantes, principalmente em academias e, infelizmente, alguns médicos e
outros profissionais de saúde também fazem o mesmo, até mesmo em luxuosos
consultórios”, observa o médico.
Ao
tomar esteroides, muitas pessoas não têm a consciência que poderão lidar com
sequelas pelo resto da vida. Isso varia conforme as drogas utilizadas, quais
combinações feitas e por quanto tempo o corpo foi exposto ao tratamento. “A
hepatite tóxica, por exemplo, tem poucos pacientes diagnosticados, pois
apresenta, na maioria das vezes, apenas os sintomas leves da doença.
Somente um diagnóstico precoce consegue reverter a evolução - as vezes lenta -
do quadro para as formas mais graves”, afirma o Dr. Raymundo Paraná.
“Essas
drogas se assemelham ao hormônio masculino testosterona, e sua utilização sem
propósito terapêutico expõe a pessoa a muitos riscos”, explica o hepatologista.
O fígado é apenas um dos órgãos afetados, mas os efeitos adversos podem
aparecer nos testículos, próstata, vasos sanguíneos, coração, músculos e rins.
Nem mesmo os músculos se beneficiam com a ação das “bombas”. O Dr. Paraná
listou alguns dos mais graves e mais comuns problemas que o uso dos
medicamentos hormonais esteroides podem causar em diversas partes do corpo,
são:
Músculos
- Lesões tendíneas: a hipertrofia é produzida de forma muito rápida, sem que os tendões tenham tempo de adaptar a estrutura do corpo. Isso pode causar rupturas.
Coração e sistema cardiovascular:
- Problemas cardiovasculares: a dosagem extra de hormônio na corrente sanguínea pode causar aumento de tamanho do coração, hipertensão arterial, infarto e arritmias graves;
- Aumento do colesterol: e um aumento nas chances de derrame e AVC (Derrame Cerebral);
Fígado
- Tumores hepáticos: o fígado metaboliza todos os medicamentos e pode ser sobrecarregado com o uso de hormônios, desenvolvendo nódulos que, em casos graves, torna-se câncer;
- Peliose Hepática: Múltiplos cistos difusos
- Dilatação de sinusoides: Canais que conduzem o sangue no fígado.
- Outras doenças: doenças como esteatose e esteato-hepatite (acúmulo de gordura no órgão) e hepatite tóxica.
Comportamento e aparência
- Alterações físicas: excesso de testosterona causa desequilíbrio hormonal. Em mulheres, surgem pelos, a voz engrossa e clitóris hipertrofia, e, em homens, pode haver ginecomastia;
- Problemas de pele: há a hipertrofia nas glândulas sebáceas, responsáveis pela oleosidade natural da pele, que coopera para o surgimento de acne;
- Crescimento afetado: em menores de 21 anos, o excesso de testosterona atrapalha o desenvolvimento natural e acelera a puberdade, causando mudanças no corpo;
- Alterações comportamentais: a testosterona é conhecida como fator de contribuição à agressividade masculina, portanto, podem-se notar alterações acima do normal;
- Abstinência: a parada repentina do uso de anabolizantes pode ser comparada à de outras drogas. Em muitos casos, diagnostica-se depressão, insônia e dores de cabeça.
Testículos
- Infertilidade: por afetar os testículos, há alto risco de atrofia, hipogonadismo (falta do hormônio masculino) e azoospermia (falta de espermatozoides), algumas das causas de infertilidade.
Quais são as substâncias das “bombas”?
O
especialista explica que a combinação de medicamentos à base de testosterona e
do estanazolol com outros remédios, como a Oxandrolona, podem causar alteração
na coagulação do sangue e predispor o paciente a sangramentos em qualquer parte
do corpo, principalmente no fígado e no cérebro. A estes medicamentos somam-se
outros hormônios como o GH, ainda não validado cientificamente para uso nesta
finalidade. “Não é raro verificar que se usem injeções que só são indicadas
para tratar diabetes. É o caso da Liraglutina. É uma irresponsabilidade
prescrever estes medicamentos só para promover a perda da gordura visceral”,
alerta o Dr. Raymundo Paraná.
Outros
produtos com uso disseminado em academias são os suplementos alimentares sem
efeito terapêutico, que tem risco de toxicidade comprovado - principalmente
aqueles que acompanham os chamados termogênicos. Estes compostos possuem
fórmulas diferentes, variando conforme marca ou formula, mas não há
comprovações de eficácia e efeitos adversos. Além disso, muitos trazem
substâncias reconhecidamente perigosas para o fígado e rins, como o chá verde (Camelia Sinensis), a
Yombina, o tribulus terrestres, a Rhoddia, o óleo de cartamo (Ac. Linoleico) e
a erva Cavalinha (Germander). Estas substâncias possuem clara e extensa
documentação de toxicidade ao fígado na literatura médica científica.
Dr. Raymundo Paraná
– CRM 8870-BA
Zambon
do Brasil
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