É um mito que relaxar ou "dar um
tempo" superará a infertilidade. Trata-se de um problema médico que
precisa ser diagnosticado e tratado como qualquer outra doença. Há mais de 3
milhões de bebês no mundo que nasceram por meio das técnicas de reprodução
assistida. E com o aprimoramento dos laboratórios de embriologia, dos
medicamentos e do conhecimento médico, as taxas de sucesso são cada dia
maiores.
“Estudos mostram
que aproximadamente 15%
dos casais em idade fértil apresentam dificuldade para engravidar, e metade
deles terá de recorrer a tratamentos de reprodução assistida”, afirma Arnaldo Cambiaghi, especialista em ginecologia
e obstetrícia, com certificado de atuação na área de reprodução assistida, e
responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
Sinais de alerta para o
problema
A maioria dos casais deve procurar um médico
após um ano tentando ter um bebê sem sucesso. Se a mulher tiver mais de 35 anos
ou um ciclo menstrual irregular - e está tentando engravidar há seis meses – é
melhor consultar o médico o mais rápido possível, o mesmo vale para o parceiro.
“No exercício de minha profissão convivo com
casais, principalmente mulheres, que sofrem com a dificuldade em ter filhos.
Eles se tornam infelizes, inconformados e frustrados. Não são poucos os casais
atendidos no Centro de Reprodução Humana IPGO com dificuldade de engravidar
devido, por exemplo, a doenças que poderiam ser previamente diagnosticadas e
tratadas, além de maus hábitos ou um estilo de vida inadequado”, admite Cambiaghi.
Problemas
comuns em homens
=Baixa contagem de espermatozoides
=Baixa motilidade dos espermatozoides
=Morfologia
alterada
=Obstrução dos ductos seminais
=Varicocele
Principais
razões para as mulheres
=Anovulação
=Obstrução tubária
=Alterações anatômicas no útero e ovários
=Endometriose
=Falência
ovariana
Fertilidade
natural
Muitas vezes,
conhecer o período fértil é o principal desafio para quem deseja engravidar.
Uma opção é tentar fazer um teste de ovulação em casa que consiga prever a ovulação.
Outra opção é o controle ultrassonográfico do ciclo natural. Ficar atento a
sinais como aumento da temperatura corporal, muco ovulatório, dor do meio; pode
guiar o casal para aumentar a frequência das relações sexuais nos melhores
dias.
Tratamentos
Problemas de
ovulação?
Existem
medicações que podem ajudar a paciente que não "ovula" normalmente,
pois eles, de alguma forma, estimulam o hormônio folículo estimulante (FSH),
responsável pelo crescimento do folículo. Entre os medicamentos de menor
custo estão o citrato de clomifeno e o letrozol. Apesar de atuarem de maneira
diferente, levam a um aumento do FSH que tem por objetivo estimular a ovulação.
Normalmente, a resposta é com 1-3 folículos, mas é necessário o acompanhamento
ultrassonográfico para evitar gestações múltiplas nas pacientes
hiperrespondedoras. As taxas de sucesso por ciclo não são altas, entretanto,
após 3-4 ciclos de tratamento podem chegar próximo dos 40%.
Hormônios
injetáveis
Há uma grande variedade de
medicamentos para esse fim, e eles funcionam igualmente bem. O manejo
destas medicações é mais difícil e devem ser utilizados apenas pro
profissionais especializados na área da reprodução assistida.
Procedimentos cirúrgicos
Vários
fatores podem causar obstrução tubária, ou alterações uterinas levando à
infertilidade, como endometriose, infecções pélvicas, cirurgias anteriores. A
videolaparoscopia é um tipo de cirurgia menos invasiva e muito frequentemente
realizada nas pacientes com este tipo de diagnóstico.
Inseminação
Intrauterina (IUI)
Cambiaghi
explica o procedimento: “A inseminação intrauterina é a introdução no interior
do útero de sêmen preparado no laboratório, com objetivo de se obter gestação.
A inseminação aproxima o(s) óvulo(s) dos espermatozoides para que a fertilização
ocorra naturalmente na tuba uterina. A mulher pode precisar tomar medicamentos
para desencadear a ovulação”. A IUI é mais barata e mais simples que a
fertilização in vitro,
mas as taxas de gravidez são muito mais baixas. A inseminação também pode ser uma
alternativa para mulheres férteis que desejam uma produção independente, para
casais homoafetivos femininos, para casais com sorodiscordantes ou com
problemas masculinos graves. Em todos estes casos o tratamento deve ser
realizado com sêmen de doador.
Fertilização
in Vitro (FIV)
Esta opção oferece esperança quando outros
tratamentos de infertilidade não funcionaram ou não foram indicados. O encontro
do óvulo com o espermatozoide ocorre “in
vitro”, no laboratório. A ovulação deve ser hiperestimulada, os
óvulos são coletados por meio de procedimento cirúrgico e, depois, os embriões
são transferidos ao útero em estágio de divisão. A FIV tem taxas de sucesso
superiores, porém, tem um alto valor.
O que é
ICSI?
É uma técnica em que um único espermatozoide é
injetado diretamente no óvulo, no laboratório. A injeção intracitoplasmática de
espermatozoide (ICSI) ajuda quando a contagem de esperma de um homem é muito
baixa ou não se move bem.
FIV com um
óvulo doado
É uma opção para mulheres com baixa qualidade
oocitária, mulheres que já atingiram a menopausa, com baixa reserva ou falhas
em ciclos anteriores. As doadoras de óvulos são pacientes jovens com menos de
35 anos e que passaram por uma seleção realizada pela clinica de
reprodução. Isso envolve combinar espermatozoides com óvulos doados de
outra mulher. Se o procedimento funcionar, a paciente engravidará de uma
criança que é biologicamente relacionada ao seu parceiro, mas não a ela.
Riscos de
fertilização in vitro
Para aumentar as chances de sucesso, o médico
pode transferir dois a quatro embriões por vez. Mas isso significa que a
paciente pode engravidar de gêmeos, trigêmeos ou até quádruplos. Carregar mais
de um bebê aumenta o risco de aborto espontâneo, anemia, pressão alta, parto
prematuro e outras complicações. Tornou-se mais comum transferir um embrião de
cada vez para evitar esses riscos à saúde. Riscos menos
frequentes são os de sangramento, infecção pélvica e hisperestimulação
ovariana.
Embriões
doados
para casais com falha de implantação ou
problemas masculinos e femininos concomitantes pode se considerar o uso de
embriões de doadores. Estes vêm de casais que terminaram o próprio processo e
tiveram embriões excedentes. Neste caso, o bebê não terá relação biológica com
os pais.
O que saber
sobre útero de substituição (“barriga solidária / barriga de aluguel”)
Quem
escolhe essa opção, precisa que outra mulher concorde em ceder temporariamente
o útero para um determinado casal. A fertilização in vitro é realizada com óvulos e
sêmen dos pais biológicos e o embrião é transferido para o útero da barriga
solidaria. O bebê será filho biológico da paciente e do parceiro dela.
“No Brasil, ao contrário de países como Estados Unidos, é proibido o pagamento
pelo útero de substituição. Segundo a norma do CFM (Conselho Federal de
Medicina), de 2017, somente podem realizar este ato familiares com até o quarto
grau consanguíneo, ou seja, em primeiro grau: mãe ou filha; segundo grau: avó
ou irmã; em terceiro grau: tia ou sobrinha; e, por fim, em quarto grau: prima”,
enfatiza o médico. Outros casos fora desta regra devem passar pela consulta e
liberação do CRM.
COMO MELHORAR AS CHANCES
Dicas sobre como
escolher uma clínica de fertilidade
O ideal é fazer muitas perguntas sobre os
procedimentos e custos. Verificar se oferecem as técnicas mais recentes e
envolvem tanto a paciente quando o parceiro nas decisões. Não se deve decidir
tendo-se com base apenas números. O tratamento da infertilidade é um processo
em longo prazo e a paciente deve se sentir confortável com a escolha que fizer.
Maneiras
naturais de aumentar as chances
Algumas mudanças no estilo de vida podem fazer a
diferença. Se a paciente e parceiro fumarem, melhor parar. Fumar reduz a
fertilidade tanto em homens quanto em mulheres e diminui as taxas de gravidez.
Em um estudo, os homens que abandonaram o hábito do tabaco viram a contagem de
espermatozoides subir 800%. Além disso, é preciso checar a dieta. É o mais
saudável possível? O ideal é perguntar ao médico sobre suplementos. Algumas
vitaminas e minerais podem melhorar as chances de engravidar.
“A alimentação, aquilo que comemos todos os
dias, pode ser um detalhe que, a princípio, tem pouca importância, mas pode
estar diretamente relacionada ao sucesso de uma gestação”, explica Cambiaghi.
Em
parceria com a nutricionista Debora de Souza Rosa, Cambiaghi escreveu o livro
“Fertilidade e Alimentação” que demonstra a influência dos alimentos não só na
fertilidade, propriamente dita, mas também em sua ausência. Para baixá-lo
gratuitamente é só clicar em http://www.ebookdietadafertilidade.com.br/
Acupuntura
ajuda?
Ela
é promissora para muitas condições. Agora, alguns casais estão tentando esta
forma da medicina tradicional chinesa para lidar com a infertilidade. A
pesquisa sugere que pode melhorar a qualidade do esperma e o fluxo sanguíneo
para o útero, ajudar a corrigir a ovulação irregular e aumentar as taxas de
sucesso da fertilização in vitro
quando associada aos tratamentos convencionais.
“Para
definirmos o melhor tratamento é importante uma avaliação completa do casal
para saber se devemos começar por algo mais simples ou se seria indicado ir
direto para o de alta complexidade. Isso se justifica, pois, qualquer
tratamento, por mais simples que seja, envolve desgaste emocional e frustração
se o resultado for negativo. Assim, é necessária uma pesquisa mínima da
fertilidade antes da indicação de um determinado tratamento para que não se
insista em uma opção com baixa chance de sucesso”, encerra Cambiaghi.
Fonte: Arnaldo
Schizzi Cambiaghi - responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista obstetra com certificado em reprodução assistida.
Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine.
Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e
pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é
autor de diversos livros.