- Os bebês e as crianças são mais sensíveis aos efeitos dos
agrotóxicos do que os adultos
- Dados da Defensoria Pública de São Paulo apontam que 21,6% dos
alimentos analisados entre 2012 e 2014 tinham altos índices de
agrotóxicos
- Amostras de verduras, legumes e frutas indicam a presença de
agrotóxicos que são proibidos no exterior
- Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no mundo
- Dra. Flávia Nassif alerta que a substância tóxica pode provocar
leucemia nas crianças
Dados
divulgados esta semana pela Defensoria Pública de São Paulo mostram que muitos
alimentos que chegam à mesa do consumidor não passam por controles de nível de
agrotóxico. Das verduras, frutas e legumes analisados, 21,6% apresentavam
índices elevados dessas substâncias. E o consumidor não tem como saber se
o alimento que comprou está com agrotóxico demais. Os níveis são detectados
apenas em laboratórios ou pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Os dados da Defensoria Pública revelam ainda que foi identificado
o uso de dois agrotóxicos permitidos com restrição no Brasil, mas banidos nos
Estados Unidos e em países europeus. São eles: o Metamidofós e o Acefato. O
primeiro pode trazer prejuízos ao desenvolvimento embriofetal e problemas nos
sistemas endócrino e reprodutor. Já sobre o Acefato, há fortes indícios
de que seja cancerígeno.
Os bebês e as crianças são mais suscetíveis aos danos dos
agrotóxicos. Com o metabolismo ainda em desenvolvimento e em ritmo mais
acelerado, pequenas quantidades dessas substâncias são suficientes para
prejudicar a saúde das crianças.
A pediatra Flávia Nassif alerta para os riscos da ingestão de
alimentos com agrotóxicos nos primeiros meses de vida. "Morango e kiwi eu
só recomendo aos meus pacientes depois que a criança completa 1 ano. Eles
tendem a apresentar altos índices dessas substâncias".
Segundo um estudo da USP (Universidade de São Paulo), mais de duas
mil crianças e adolescentes, entre 0 e 14 anos, tiveram intoxicação por
agrotóxico no Brasil nos últimos 7 anos. E o número pode ir muito além... Isso
porque a cada 50 casos, geralmente apenas 1 é notificado às agências de
saúde.
Entre os sintomas de intoxicação estão náuseas, tonturas,
dificuldade respiratória, sudorese, salivação excessiva,
diarreia, irritabilidade, dor de cabeça e fadiga.
A doutora Flávia revela que estudos com crianças relacionam o uso
do veneno a doenças como leucemia, déficit de atenção, hiperatividade
e problemas neurológicos. "Sabemos que não é fácil trocar o cardápio
inteiro e só servir alimentos livres de agrotóxicos aos filhos. Mas, se estiver
ao alcance da família, vale dar preferência a alimentos orgânicos",
complementa. "O mais importante dos alimentos orgânicos é que eles
oferecem os mesmos nutrientes, porém livres de hormônios, pesticidas e
fertilizantes químicos...".
Dra. Flávia Nassif - pediatra e
mãe de duas meninas. Flávia acredita na medicina humanizada e na construção da
relação médico-paciente. É formada pela Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto, em São Paulo, e exerce a profissão há 15 anos. Fez residência em
pediatria no Hospital Infantil Darcy Vargas, centro de referência em doenças
crônicas de média e alta complexidade. Especializou-se em nefrologia e
emergência pediátrica no Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas.
Atualmente, atende em consultório particular e no Hospital Sírio-Libanês.