Tenho atuado no mercado há seis anos, e tive a oportunidade de participar de grandes projetos junto de marcas relevantes, como Meta, P&G, Bubbaloo, Club Social e outras. Para além disso, acumulo experiências em organização de eventos, consultoria de negócios e de marketing de influência para a geração Z para grandes players e ainda pude tirar do papel dois negócios incríveis, a Trope e a Pato Academy . Durante essa trajetória, o que tenho notado com certa frequência, é uma barreira relacionada (acredite!) a minha idade.
O etarismo, mesmo
que velado, existe fortemente no âmbito profissional. Na maioria das vezes,
este preconceito é direcionado a profissionais com mais idade, como mostra a
pesquisa conduzida pelo Infojobs em 2021 que constatou que pelo menos 70% dos
profissionais acima de 40 anos já sofreram preconceito etário. No entanto, não
é tão difícil encontrar quem tenha receio em trabalhar também com os mais
jovens.
Esse cenário pode
ser facilmente observado quando avaliamos vagas de emprego e posições
disponíveis, em especial, nos mercados de comunicação e tecnologia. São
inúmeras exigências, requisitos e anos de experiência, que os recém-formados da
geração Z sem sombra de dúvidas não têm, logo tais posições sequer consideram
esse perfil de colaborador. Por isso, pesquisas que apontam a alta taxa de
desemprego entre recém- formados não surpreende.
Certa vez ouvi a
seguinte frase de um profissional mais velho do que eu: “o que você tem de
idade eu tenho de mercado”, e isso me marcou por um bom tempo. Foi em uma
reunião com cerca de 25 pessoas, na qual apresentávamos um plano de comunicação
de diversidade e inclusão para uma marca não-endêmica adentrando o
universo gamer. Ao final, mesmo que dita em tom de “bom humor” a frase gerou um
ruído que poderia ter sido evitado.
Na hora de lidar
com o etarismo disfarçado de objeção comercial, a saída é levantar a seguinte
pauta: Currículo acadêmico e repertório profissional não anulam o fato de
estarmos sugerindo exatamente o que as empresas precisam. Trata-se
do ponto que ressalto e prego todos os dias na creator economy brasileira que,
ao juntarmos habilidades de equipes multigeracionais, de maneira horizontal,
fazemos muito mais pelos consumidores, do que a disputa incessante pela posição
mais alta na hierarquia, que vem alicerçada no medo-millennial de se tornar
obsoleto e ser descartado a qualquer instante em um mercado cada vez mais
competitivo.
O que tenho
observado ao transitar nesses dois universos é que a geração Z tem que se
provar duas vezes mais para receber atenção. A pouca idade sempre vai pôr em
xeque qualquer repertório profissional ou acadêmico. Mas, muito além de
confrontar, que pode gerar repulsa e taxação dos nativos digitais como a
geração mais frágil e mimada, devemos abrir esse diálogo para conscientização
de que o idadismo também é um preconceito, e que a ausência de verdadeiros
representantes da geração Z nas estratégias e mesas de tomadas de decisão de
produtos e serviços para essa faixa-etária, distancia e afeta indicadores e
resultados das companhias. É sobre trazer os benefícios para a conversa, até
porque a verdade é uma: os millennials correram na internet para que a gente
pudesse andar. Não é uma competição, estamos todos no mesmo barco.
Ainda hoje muitas
empresas tendem a relacionar a pouca idade com falta de responsabilidade. A
estrutura organizacional das companhias não representa a geração Z e todas suas
formas de diversidade. Consequentemente, a ausência de nativos digitais no
centro das estratégias faz com que os times de comunicação externa tampouco
consigam o mesmo. E assim, dados como o da pesquisa da Trope, que revelou que
59% dos gamers de diversidade do Brasil acreditam que as marcas não os
representam, fazem mais sentido ainda.
Além disso,
questões relacionadas à diversidade racial, inclusão, sexualidade, religião,
entre outras são naturalmente mais desenvolvidas pelo nosso “grupo” e por isso,
podemos dar uma visão muito mais inserida nesses temas, o famoso “lugar de
fala”. A mudança precisa acontecer de dentro para fora. Regras existem e foram
criadas há décadas nos grandes grupos multinacionais. Agora, por que não podem
ser adaptadas para os hábitos de comportamento e consumo atuais dos novos
consumidores?
Para os que me
perguntam: Luiz, como os mais jovens podem compensar a “falta de experiência”
no mercado de trabalho? Respondo: Que tal uma visão mais diversa e inclusiva
nos negócios?
Os nativos
digitais são especialistas, sem formação, no que as gerações mais velhas sofrem
para alcançar nos dias de hoje: uma comunicação assertiva e direcionada para
essa audiência, sem parecer cringe. Tal especialização vem acompanhada das
quase 12 horas que muitos jovens passam em redes como TikTok e Instagram.
Tratam-se de verdadeiros curadores de conteúdo, de tanto que consomem. Não à
toa, a Geração Z é a que passa mais tempo conectada às redes sociais no Brasil,
de acordo com a pesquisa “O brasileiro ama as redes sociais”, divulgada neste
ano pela Plataforma Gente.
A GenZ é altamente
crítica, levanta pautas em redes como o Twitter que transforma um simples meme
em um debate intergeracional. É a autenticidade e ausência de medo para se
posicionar no online que reforça a importância em dar ouvidos à uma geração que
já tem muita voz, só não é escutada.
Vejo o atual
momento como uma ótima oportunidade para a troca de conhecimento entre as
gerações, onde todos só têm a ganhar. Com a visão mais atualizada vinda da
GenZ, grandes empresas e marcas vão rejuvenescer suas ideias e sair de
paradigmas ultrapassados.
Luiz Menezes - fundador da Trope,
consultoria de negócios que co-cria soluções com a geração Z. Nativo
digital, empresário e empreendedor, Luiz criou a empresa em 2021 como forma de
acelerar companhias que necessitam fazer parte da cultura da internet. Presente
no mercado há pelo menos 6 anos, o especialista acumula experiência em
organização de eventos voltados à cultura pop e geek, prestação de serviços de
marketing de influência e digital PR para grandes marcas, além da co-criação da
Pato Academy, empresa com foco em desmistificar hacking e tecnologia através de
educação. Hoje, Luiz está à frente da Trope, onde busca facilitar a entrada de
nativos digitais, ou seja, a geração Z, no mercado da comunicação, tornando-os
aptos a ocupar posições de destaque e de tomada de decisão, promovendo, desta
forma, um ecossistema mais plural, inclusivo e diverso.