Com o aumento das
tensões entre Estados Unidos e Rússia, e uma ameaça nuclear que paira no
horizonte, podemos dizer que a Guerra Fria, de fato, nunca acabouUnsplash
Vivemos os fortes ecos do fim da Guerra Fria. O presidente russo,
Vladimir Putin, por exemplo, anunciou em 21 de fevereiro de 2023, num discurso
sobre um ano da guerra na Ucrânia, a suspensão da participação do seu país no
tratado Novo Start, o acordo global de controle de mísseis nucleares vigente. O
cenário atual de conflito entre Rússia e Ucrânia coloca novamente o mundo em
alerta. Parece que estamos voltando ao tempo de antes da queda do Muro de
Berlim, e que esta divisão global agora se instalou na fronteira da Rússia com
o mundo Ocidental.
Esses acontecimentos têm repercussões inclusive no
Brasil, assim como a Guerra Fria teve influência por aqui desde seu nascimento,
em 12 de março de 1947. Neste aniversário de 76 anos, é importante revisitar
uma época cruel e aterrorizante não apenas para a Europa, mas para todo o
mundo.
O período após o fim da Segunda Guerra Mundial foi
caracterizado por uma corrida armamentista, agressiva e cara entre Estados
Unidos (EUA) e União Soviética (URSS). O então presidente dos EUA,
Harry S. Truman, proferiu diante do Congresso Nacional um
forte discurso. Afirmou ele que os países capitalistas deveriam se
defender da ameaça socialista. Para Truman, os estadunidenses tinham a
obrigação de liderar a luta contra o avanço do comunismo no continente europeu
e no mundo.
A chamada Guerra Fria, que de fria nada tinha,
culminou na separação do mundo em dois grandes blocos: o comunista (liderado
pela União Soviética) e o capitalista (liderado pelos Estados Unidos). Uma das
consequências mais marcantes desse período foi a construção do Muro de
Berlim, em 1961, uma cooperação entre Alemanha Oriental e União
Soviética para impedir a fuga de sua população para o lado Ocidental.
Após 40 anos do famoso discurso de Truman, em
meados da década de 1980, a vida atrás da Cortina de Ferro havia mudado.
Revoltas democráticas se infliltraram nas nações do bloco soviético, e a
própria URSS lutava contra o caos econômico e político. A queda do Muro de
Berlim, em 9 de novembro de 1989, durante a Revolução Pacífica, marcou uma
série de eventos que precipitaram a queda do comunismo na Europa Central e
Oriental, precedida pelo Movimento Solidariedade na Polônia.
Em 1991, a União Soviética havia perdido a maior
parte de seu bloco para revoluções democráticas e o Pacto de Varsóvia foi
formalmente dissolvido. Mikhail Gorbachev, o último líder da URSS, abriu o país
para o Ocidente e instituiu reformas econômicas que enfraqueceram as
instituições que dependiam de bens nacionalizados. Em dezembro de 1991, a URSS
foi dissolvida em nações separadas.
A Guerra Fria continua a afetar a geopolítica dos
nossos tempos. Estados Unidos e Rússia, bem como a China e a Europa, ainda têm
interesses divergentes, grandes orçamentos de defesa e bases militares
internacionais. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ainda exerce
grande poder político. Cresceu para incluir 30 estados-membros e agora se
estende até as fronteiras com o maior país do mundo.
Desde a década de 1990, a Rússia vê a expansão da
Otan para o leste como uma grave ameaça à sua segurança. Alguns especialistas
compararam a crise atual com o início de uma nova Guerra Fria, ou mesmo a
extensão daquela que nunca esfriou. Por isso, vale a pena revisitarmos essa
época fundamental da nossa história para compreender como chegamos à situação
atual.
Edvaldo Silva é Mestre em Artes e Multimeios pela
Unicamp, e autor do romance de suspense "Além da Fumaça" (Editora
Labrador), que tem como pano de fundo a Alemanha e o Brasil do final dos anos
80.
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