Mitos e verdades sobre nutrição para
bebês prematuros
Todo
ano, mundialmente, cerca de 15 milhões de bebês nascem antes da gestação
completar as 37 semanas ou 259 dias. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), isso corresponde a mais de 1 em cada 10 nascimentos prematuros
anualmente no mundo. Sendo essa é uma das principais causas de mortalidade
infantil até os 5 anos de idade. O Brasil é o decimo país com mais bebês
nascidos nessa situação, e esses números podem aumentar, devido à crise
sanitária que vivemos com o Covid-19.1
De acordo com um
estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), do Departamento de
Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, mulheres grávidas com coronavírus
têm maior probabilidade de ter parto prematuro ou sofrerem um aborto
espontâneo, ao comparar com aquelas sem a doença. O resultado revelou que 12,1%
dos nascidos vivos dentre uma amostra de 4740 mulheres foram prematuros, em
comparação com uma média de 10% na população em geral dos EUA no ano passado.2
Com o potencial
aumento de bebês prematuros, temas ligados à essa condição e desconhecidos da
maioria da sociedade ganham relevância, como a importância da alimentação e
nutrição nos primeiros dias de vida do prematuro. Como não teve tempo
suficiente para acumular os nutrientes necessários para seu desenvolvimento via
placenta antes de nascer, o bebê prematuro fica mais exposto a doenças. Uma
nutrição inadequada pode ter efeitos severos sobre a saúde do bebê a curto e a
longo prazo. Para esclarecer os pontos mais importantes sobre a nutrição em
prematuros, a Dra. Mariana Gonzalez, neonatologista do Hospital Moinho de
Ventos, em Porto Alegre, listou alguns mitos e verdades que envolvem a
prematuridade.
1. A nutrição é tão
importante quanto a oxigenação para um prematuro?
A nutrição
desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cerebral do bebê, nosso
órgão mais importante. Se não oferecemos uma nutrição adequada nas primeiras
horas de vida, o bebê começa a consumir energia dos outros órgãos, como dos
músculos e do fígado, a fim de manter o crescimento do cérebro. Isso pode gerar
problemas futuros tanto em seu crescimento quanto o surgimento de doenças
metabólicas e degenerativas até a idade adulta.
2. O leite materno é
a melhor forma de alimentar um prematuro?
Não existe nada
melhor para a alimentação, tanto do bebê não prematuro como do prematuro, como
o leite materno. Por exemplo, das complicações que são mais comuns no
prematuro, a mais temida é uma doença intestinal - Enterocolite necrosante - e
a única coisa que protege o bebê dessa doença é o leite materno. Quanto maior o
volume de leite materno que o prematuro receber, principalmente nas primeiras 4
semanas de vida, menor é o número de complicações.
3. Só o leite
materno é suficiente para nutrir um prematuro?
Em algumas situações
pode ser necessário colocar um aditivo junto ao leite materno, para se alcançar
um maior aporte de proteína, cálcio e fosforo, sem isso, o leite da mãe não
consegue suprir as necessidades de crescimento do prematuro. Por isso, a
nutrição parenteral - aquela inserida no bebê diretamente pela veia (via
endovenosa) - é uma aliada indispensável para prematuros. Não é possível manter
a terapia nutricional nos primeiros dias de vida sem ela, porque o bebê não tem
forças para sugar o seio da mãe e nem seu intestino está preparado para
absorver o volume grande de nutrientes. Esse tipo de nutrição, geralmente,
ajuda nos primeiros 10 a 14 dias de vida do bebê prematuro.
4. Na alimentação do
prematuro, é possível fazer o mesmo papel que a placenta faz quando ele está no
útero da mãe?
Esse é grande
desafio do neonatologista. Mesmo com o leite materno, a nutrição parenteral e a
enteral - aquela realizada por uma sonda que pode ser flexível ou não - ainda
não conseguimos alimentar o bebê tão bem como intrauterinamente. O que fazemos,
é evitar que o prematuro sofra um processo de desnutrição muito intenso nos
primeiros dias de UTI neonatal, oferecendo o leite materno da mãe pelo maior
tempo possível e fazendo toda a monitorização personalizada do bebê, para
proporcionar que ele possa ter um crescimento mais saudável.
Além disso, bebês que nascem com menos de 1500 gramas são considerados como urgência nutricional. Isso porque todos os nutrientes que ele recebe através da placenta, ele começa a acumular somente no final da gestação, no terceiro trimestre. Por exemplo, das 24 semanas para as 30 semanas, o bebê dobra o peso. E das 30 semanas até as 36, ele dobra de novo. O prematuro, por nascer antes dessa fase da gestação, não tem reserva alguma.
5. Um prematuro não
costuma ter capacidade, maturidade fisiológica e nem motora para mamar no seio
da mãe. Esse fato impede a mãe de produzir leite?
As mães de
prematuros enfrentam muita dificuldade em manter a produção de leite porque o
que mais a estimula é o bebê sugar o seio. No entanto, é possível fazer um
trabalho multiprofissional e personalizado, para proporcionar à mãe o estímulo
necessário para continuar produzindo leite através de uma forma artificial, por
meio de bombas de extração de leite. Dessa forma, o leite da mãe é fornecido ao
prematuro por nutrição enteral, através de uma sonda.
6. Pode haver
transmissão do Covid-19 da mãe para o filho por meio da amamentação?
Até o momento, não
existem evidências científicas que afirmem a transmissão de Covid-19 por meio
do leite materno. Não existe contraindicação de aleitamento materno para mães
que contraíram coronavírus, segundo órgãos de pediatria.3 Ao contrário, é
recomendado leite materno para bebês, devido a seu fator de proteção.
Dra Mariana Gonzales - Formada pela
Faculdade de Medicina da UFRGS, Mestrado em Pediatria pela UFRGS e Doutorado em
Pediatria pela PUCRS, pesquisa na área de nutrição neonatal, com ênfase em
nutrição de prematuros. Atualmente é professora de Neonatologia da UFCSPA e
Neonatologista do Hospital Moinhos de Vento.
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