A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), na última reunião, em aumentar a taxa básica de juros da economia de 2,75% para 3,50% está alinhada com as estimativas de mercado e dentro de um cronograma de normalização da política monetária com o atual processo inflacionário. Ou seja, um movimento correto e necessário para sinalizar o compromisso do Banco Central (BC) com a estabilidade de preços. É claro que o aumento dos juros não é desejado, ainda mais em um período de recuperação de nossa economia. Contudo, a inflação mais alta e persistente prejudica a renda do trabalhador e a capacidade produtiva ao longo do tempo. Será pior para a economia como um todo.
Em linhas gerais, podemos destacar três fatores de
riscos inflacionários. O primeiro deles é mundial. A forte recuperação das
economias desenvolvidas alinhadas com expansões fiscais e monetárias sem
precedentes, alimentam a forte demanda internacional por grãos, proteínas,
celulose, minérios, puxando os preços internacionais dos insumos básicos. Por
exemplo, nos EUA, onde a vacinação está avançando rapidamente, os preços no
setor manufatureiro do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) aumentaram 37%
entre dezembro de 2020 e maio de 2021, indicando um maior risco para a
inflação. Mesmo com um mercado de trabalho ocioso, esse risco no curto prazo
poderá pressionar os juros internacionais para cima, dificultando o controle de
preços doméstico.
O segundo fator refere-se à evolução das finanças
públicas. Em recente Relatório de Inflação (março), o BC projeta um cenário
alternativo de maior risco fiscal, com deterioração das contas públicas e
dificuldade no avanço das reformas. Utilizou como referência a recente crise
fiscal iniciada em 2014, a qual gerou uma maior percepção internacional de default
nas principais agências de risco. Com efeito, a economia brasileira apresentou
uma depreciação cambial, contribuindo para a elevação dos preços
domésticos.
A Autoridade Monetária apresenta um cenário de
inflação preocupante decorrente do aumento do risco fiscal. O descolamento das
projeções inicia no quarto trimestre de 2021 e atinge um ápice no terceiro
trimestre de 2022, com uma inflação de 5,7% para este ano e 5,9% para o
próximo. O mais importante desse exercício é esclarecer que a deterioração das
contas públicas afetará a dinâmica de médio e longo prazos da inflação,
contaminando as expectativas dos agentes de mercado.
Por último, o risco da inflação inercial se
intensifica com o aumento das expectativas de inflação, reportadas no Relatório
Focus. Os analistas esperam um IPCA para 2021 em cerca de 5,2%, isto é, no
limite superior à meta de inflação. Para 2022, o mercado espera uma inflação um
pouco acima da meta de 3,50%. Alguns fatores recentes estão alimentando a alta
nas expectativas. As condições climáticas de maior estiagem aumentam as
projeções de preços de energia e alimentação. Alguns analistas estão
considerando bandeira tarifária vermelha 1 para dezembro; e revisão para cima
em suas projeções de alimentação no domicílio, com aumento nos preços de grãos
e cereais – componentes relevantes na composição do IPCA.
Com isso, os maiores riscos inflacionários mundiais
e nacionais prescrevem uma atuação mais conservadora do Copom, o qual tem como
objetivo principal manter as expectativas de inflação de curto e médio prazos
do mercado ancoradas às metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional
(CMN). Reforço que, com inflação sob controle e reformas importantes do estado
brasileiro, teremos uma capacidade de crescimento de longo prazo mais vigorosa
em nossa economia.
Lucas Lautert Dezordi - doutor em Economia, sócio da Valuup Consultoria, economista-chefe da TM3 Capital e professor da Universidade Positivo.