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sexta-feira, 2 de abril de 2021

O emocional pode provocar tontura?

A resposta é sim, inclusive neste momento de isolamento social esses sintomas são mais fortes. 


“A Tontura Percentual Postural Persistente é uma doença que ainda hoje é muito pouco diagnosticada, ou seja, acontece muito, mas não tem o seu devido reconhecimento. Esse fato faz com que muitas pessoas acabem tratando de problemas como labirintite e não desenvolva nenhuma melhoria no quadro, justamente porque o diagnóstico se encontra equivocado, uma vez que o tratamento para a tontura perceptual postural persistente é muito específico”, ressalta Dr. Saulo Nader, neurologista do Albert Eisntein e USP, apelidado carinhosamente pelos pacientes como Doutor Tontura.

Segundo Nader, uma das coisas que uma pessoa que sofre de tontura perceptual pode sentir é uma tontura estranha, sendo essa, sensações que as pessoas que sentem essa doença sentem dificuldade em verbalizar, em traduzir para palavras aquele incomodo que elas estão percebendo, por exemplo, o indivíduo pode sentir a sensação de cabeça enevoada, de cabeça nublada, de cabeça lesada, cabeça está grande ou pequena, uma sensação de estar flutuando ou com a cabeça oca, com uma sensação se formigamento na cabeça ou que as coisas ao redor se movimentando, fazendo com que sinta a visão não muito estável. 

“Muitos pacientes acabam usando o termo névoa cerebral, uma vez que sentem uma sensação de estranhamento na cabeça. Dessa forma, tontura esquisita ou estranha é considerada uma das características dessa doença. A segunda coisa é a dificuldade para caminhar ou insegurança, acometendo principalmente pessoas que normalmente nunca apresentou grandes desequilíbrios ao ponto de cair, mas acabam sentindo muita insegurança para caminhar, pois sentem uma sensação de instabilidade, fazendo com que os passos fiquem titubeantes na maioria das vezes”, explica o neurologista. 

Para Dr. Saulo também é comum que essas pessoas tenham que se segurar em outras pessoas ou objetos, necessitando de ter suporte para caminhar em alguns locais, além de muitas vezes essa sensação de desequilíbrio acabar piorando em algumas condições. 



Mas porque existe uma correlação entre o emocional e esse tipo de tontura? 
Segundo Doutor Tontura, é comum que quem sofre com essa tontura apresentar uma piora nos sintomas quando o emocional não se encontra bem.

A ansiedade gera mais tontura e quanto mais tontura, mais ansiedade, de forma a entrar em um círculo vicioso. 
Já uma característica bem particular da tontura perceptual ou vertigem fóbica é uma entidade chamada de vertigem visual, fazendo com que todos os sintomas já expostos piorem muito em ambientes mais complexos visualmente, ou seja, com muita informação visual, muito poluído visualmente, a exemplo o mercado em que a gente tem aquelas luzes muito brancas, prateleiras coloridas, pessoas e carrinhos passando a todo  momento.

Nader comenta que também temos as calçadas lotadas em que há carros passando, semáforos, árvores, postes. Há ainda locais com decorações muito pesadas, com tapetes muito coloridos, sofás muito estranhos, luzes muito fortes; feiras com muitas pessoas; estações de trem ou metrô e tantos outros no mesmo seguimento.

De acordo com Dr. Saulo, muitas vezes o gatilho inicial para desenvolver o problema da tontura perceptual foi uma outra doença que também gerou tontura na pessoa no passado, como a doença dos cristais soltos no labirinto ou uma Neurite vestibular ou uma doença de menière e mais tarde, secundário a esse problema, o indivíduo acaba desenvolvendo a tontura perceptual, ou seja, muitas vezes a tontura perceptual acaba sendo uma complicação mais tardia de alguma outra doença que gera vertigem e que a pessoa apresentou em algum outro momento. 



Existe Tratamento?

Na maioria das vezes, tem como fazer um tratamento eficiente, pois hoje é entendido que esse problema trata-se de um distúrbio químico do cérebro. 

“Nesse caso, se for feito o diagnóstico correto e um tratamento utilizando medicações bem escolhidas para normalizar a parte química cerebral, será possível ter uma melhora importante dos sintomas e, muitas vezes, alcançar uma recuperação completa. Outro aliado além da medicação é a terapia, já que existe uma estreita relação da doença com o emocional e em outros casos a fisioterapia vestibular ou fisioterapia focada em equilíbrio pode ajudar também em alguns casos”, finaliza Doutor Tontura.


Mais uma Páscoa na pandemia: como se renovar

Especialista em psicologia positiva reflete sobre o simbolismo da data em um momento que pede reflexão sobre comportamento e propósito de vida  

 

A Páscoa, mais do que uma data comercial em que se presenteiam amigos e familiares com chocolate, simboliza a celebração do renascimento, segundo tradições milenares.

Neste ano, tal qual no ano passado, a época coincide com o crescimento de casos de covid-19 e a necessidade por isolamento que desperta sensações de angústia, ansiedade e tristeza, velhas conhecidas de 2020, o que levanta a questão sobre como manter o equilíbrio em mais um período desafiador.

Para Flora Victoria, mestre em psicologia positiva aplicada, pela Universidade da Pensilvânia, a seriedade da crise de saúde em vez de impedir, clama por esse espírito de renovação e pela reflexão sobre a necessidade de encontrar novas respostas.

“No estudo da psicologia positiva, abordamos os principais domínios do bem-estar, carreira e negócios, físico, financeiro e social e comunitário. É preciso haver equilíbrio entre eles, o que em tempos de escassez é compreensível que seja mais difícil de atingir, O interessante é que cada um está experimentando obstáculos diferentes na pandemia e histórico de vida e constituição psicológica também leva cada um a lidar com os conflitos de forma diferente”, analisa Flora Victoria.

A especialista ressalta que cada um tem potencialidades a serem exploradas e todos podem buscar suas emoções mais positivas, mesmo agora: “a psicologia positiva se apoia em pilares como o engajamento, ou seja, o uso das forças de caráter e virtudes e a busca da missão, de um propósito. São reflexões importantes para essa pausa presenteada por esse feriado. Não só importantes, mas possíveis para todos, uma vez que não existe algo como condição ideal para felicidade, existe sim o autoconhecimento e o desenvolvimento dos próprios potenciais”.

Muitos, porém, ainda podem se questionar como atingir esse estado em que as emoções positivas falam mais alto e a dica é não brigar com os sentimentos do outro espectro, mas buscar fortalecer o bem-estar.

“Arte, música, descanso são bons exemplos de como estimular o positivo. Do mesmo jeito que há gatilhos para sentimentos como tristeza e angústia, há formas de impulsionar o que chamamos de PEA, os positive emotion attractors, e manter a neuroquímica positiva: serotonina, endorfinas e dopamina”, exemplifica a mestre em psicologia positiva.

E dica bônus: já que é Páscoa, por que não incentivar essa neuroquímica positiva com um bom chocolate?


Manter terapias durante o isolamento social é fundamental para crianças com autismo

Neste Dia Mundial de Conscientização do Autismo, o Pequeno Príncipe reforça a importância da continuidade do tratamento do transtorno durante a pandemia


Desde o início da pandemia, o cotidiano das crianças mudou completamente. As aulas passaram a ser on-line, e as brincadeiras em casa, sem os amigos por perto. Para quem tem autismo, essa mudança é sentida de maneira ainda mais intensa, e o cuidado com a rotina e com o tratamento dos pequenos que têm o transtorno é fundamental para manter o bem-estar durante o período de isolamento, que ainda não tem previsão de terminar.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças tenha autismo, e neste 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização do Autismo, o Hospital Pequeno Príncipe, um dos centros de referência no tratamento multidisciplinar do transtorno, reforça a importância da adaptação do dia a dia em casa para manter a continuidade do tratamento de quem tem o transtorno. “A manutenção das terapias previne regressos do desenvolvimento e organiza melhor a vida do paciente e da família, especialmente em períodos de mudanças drásticas como as que têm acontecido durante a pandemia”, destaca o neuropediatra Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe. Mesmo durante o primeiro ano da pandemia, o Pequeno Príncipe realizou 418 atendimentos de crianças e adolescentes com o diagnóstico no Ambulatório de Transtornos de Desenvolvimento.

O autismo é um transtorno do desenvolvimento que surge logo nos primeiros anos de vida e é caracterizado pela dificuldade de as crianças se relacionarem e de se comunicarem. Elas possuem tendência a comportamentos repetitivos, como bater as mãos, pular sempre no mesmo lugar e andar na ponta dos pés, por exemplo. Outros sinais que podem indicar o autismo são o atraso da fala, o isolamento em relação a outras crianças, a vontade de brincar somente com um determinado brinquedo, o desejo de saber tudo sobre apenas um tema, e muita dificuldade de sair desses padrões.

O Ambulatório de Transtornos de Desenvolvimento do Pequeno Príncipe recebe crianças e adolescentes encaminhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nele, os pacientes passam por uma equipe de neurologistas que realizam diagnósticos de autismo, transtornos de aprendizagem, déficit de atenção e hiperatividade, transtornos ou deficiência mental, intelectual e múltipla, e orientam os responsáveis sobre todas as terapias e acompanhamento multidisciplinar conforme a necessidade de cada menino e menina.

Além da adaptação das terapias de forma on-line, o neuropediatra do Hospital ressalta que também é importante os pais usarem o máximo de tempo possível para interagir com a criança e observar seus sentimentos. “Aproveitem para assistir a filmes juntos e tentar identificar emoções e comportamentos. Conversem, brinquem, sentem no chão. Tudo isso é absolutamente terapêutico e fundamental para o desenvolvimento”, finaliza.


Campanha ‘Uma Dose de Respeito’ pede vacinação urgente para pessoas com síndrome de Down (T21)

Mobilização convocada pela Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down chama a atenção para os riscos que as pessoas com deficiência intelectual correm de se tornarem vítimas graves da Covid-19.


Lançada neste mês de março, a campanha Uma Dose de Respeito é uma iniciativa da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down junto às 38 instituições associadas, em busca da priorização da vacinação para as pessoas com síndrome de Down (T21). O reconhecimento da urgência já foi feito em outros países. Por isso, a campanha brasileira ganhou apoio de organizações internacionais, como a Down Syndrome International, a Disabled People’s Organisations Denmark e a UKaid .

O objetivo da campanha é pressionar o governo em todas as suas esferas: federal, distrital, estaduais, e municipais, para que as pessoas com síndrome de Down (T21) sejam vacinadas de imediato, levando em consideração a vulnerabilidade, o risco de contaminação, a baixa imunidade e probabilidade de desenvolver uma forma grave de Covid-19.

No cenário atual, mesmo estando no grupo prioritário, as pessoas com síndrome de Down (T21) só serão vacinadas na 3ª fase do Programa Nacional de Imunizações (PNI), junto ao grupo de pessoas com comorbidades. Essa priorização já está prevista em lei e o que está sendo reivindicado é que ela seja cumprida. A Lei Brasileira de Inclusão assegura que, em situações de risco, emergência ou estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será considerada vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua proteção e segurança.

Há estudos científicos que comprovam essa necessidade, como explica a Dra. Ana Claudia Brandão, membro do Comitê Técnico Científico da Federação Brasileira das Associações de síndrome de Down: "O estudo da T21 Research Society, que é uma iniciativa colaborativa e internacional e da qual o Brasil também participa, publicado neste mês na revista The Lancet’s E Clinical Medicine, até o momento avaliou o maior número de casos de Covid-19 em pessoas com SD (mais de 1.000). Esse estudo também revelou que em adultos com SD, o curso da infecção é mais grave e que as taxas de complicações e mortalidade são significativamente mais elevadas do que na população geral.

Muitos países já aderiram à priorização da vacinação para pessoas com síndrome de Down (T21) junto com o grupo de idosos: os do Reino Unido, Holanda, Alemanha, França, Portugal, Itália e em alguns estados dos Estados Unidos. No Brasil, a aderência é pouca e por isso a campanha é tão importante. O Piauí deu a largada em 21/3 e começou a vacinação em pessoas com deficiência. No Mato Grosso do Sul, a imunização para o segmento está acontecendo em Sidrolândia, Jardim e Campo Grande.

Para ampliar ainda mais esse movimento, a Federação Down convida toda a população, a imprensa e demais instituições para se juntarem a nós e reforçar o pedido de priorização da vacinação às pessoas com síndrome de Down (T21) contra a Covid-19. Para participar basta usar a hashtag #UmaDoseDeRespeito nas redes sociais, em publicações e também nas páginas oficiais dos governos e secretarias de saúde. Assine o abaixo-assinado http://bit.ly/2PpUiuy e acesse o site http://www.federacaodown.org.br. Conheça toda a campanha e participe. A saúde das pessoas com síndrome de Down (T21) pede urgência!

Estudos e reportagens com comprovação científica:

Um estudo feito em 2020, no Reino Unido, que acompanhou mais de quatro mil pessoas com Síndrome de Down, indicou que pacientes com Síndrome de Down (trissomia 21) têm até cinco vezes mais chances de serem hospitalizados e 10 vezes mais chances de morrer, se infectados pelo novo coronavírus .

Fonte: Sciencemag.org, da American Association for the Advancement of Science

COVID-19: SBP alerta para maior risco de hospitalização e morte de pessoas com Síndrome de Down

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria

"O impacto devastador da covid-19 em pessoas com deficiência intelectual"

Fonte: The New England Journal of Medicine - Massachusetts Medical Society

Grupo de Interesse Médico sobre Síndrome de Down dos EUA

Fonte: Down Syndrome Affiliates in Action, GiGi’s Playhouse, International Mosaic Down Syndrome Association, Jerome Lejeune Foundation, T21 Research Society

Risco de mortalidade COVID-19 na síndrome de Down: resultados de um estudo com 8 milhões de adultos

Fonte: Annals of Internal Medicine

Covid-19 é dez vezes mais letal em pessoas com síndrome de Down, indica estudo

Fonte: Revista Superinteressante

Síndrome de Down e COVID-19 - Perguntas e respostas

Fonte: Movimento Down


Vídeos

A Dra. Ana Claudia Brandão, que participa do estudo internacional sobre Covid e pessoas com síndrome de Down (T21), falou sobre o assunto no VII Encontro Atenção à Trissomia 21. Assista a partir de 1h 14'

http://www.youtube.com/watch?v=P-Ntkp3CUdY

Explicação da geneticista Dafne Horovitz, pesquisadora da Fiocruz neste vídeo

http://www.facebook.com/watch/?v=213617110508191

Cinco dicas para desenvolver inteligência emocional

Psicóloga Ingrid Cancela dá o passo a passo para ter mais sucesso na vida profissional e pessoal


Inteligência Emocional nada mais é do que a habilidade em conseguir perceber, interpretar e gerir emoções, ponto fundamental para todos atualmente. Afinal, o mundo passa por transformações drásticas diariamente e conseguir administrar nossos sentimentos e ações diante de imprevistos e problemas é o passo zero para alcançar o sucesso pessoal, profissional e, consequentemente, manter a saúde psicológica e física em dia. Com objetivo de aprimorar o desenvolvimento desta habilidade, Ingrid Cancela, psicóloga da TopMed, empresa especializada em saúde, separou cinco dicas práticas para desenvolver inteligência emocional. Confira:


1- Praticar o autoconhecimento

"Ao longo da nossa jornada, adquirimos um olhar de quem deveríamos ser e não quem de fato somos, evitando ter contato com nossas emoções Como consequência, acabamos nos cobrando excessivamente e com isso, adoecemos. É necessário trabalhar a aceitação de quem somos de fato e como nos sentimos em determinadas situações para que, dessa forma, possamos identificar como iremos lidar com tudo à nossa volta de uma forma que funcione para nós e para os outros, também", explica a profissional.


2- Reconheça seus limites, acertos e falhas

Sim, temos limites, falhas e acertos também. É fundamental identificar estes pontos e respeitá-los. Para Ingrid Cancela, dizer não para si mesmo e para os outros, em alguns momentos, contribui para a qualidade de vida. Também é importante identificar os acertos e as falhas pode influenciar na forma como o indivíduo irá lidar com as situações futuras.


3- Busque uma comunicação clara com você e com o outro

"Quando desenvolvemos uma comunicação com nós mesmos onde identificamos como estamos nos sentimos, respeitamos os nossos próprios limites, focamos em quem de fato somos, também precisamos desenvolver essa mesma comunicação clara com os outros, não só trazendo como de fato nos sentimos em relação ao que foi dito ou feito, mas também em como estabelecer os limites ao outro, e dessa forma, podemos nos permitir gerar relacionamentos mais saudáveis", aponta.


4- Pratique a empatia

Se colocar no lugar do outro contribui não só para não levar tudo para o lado pessoal, mas também deixar de manter o foco apenas em si mesmo o tempo todo. Isso contribui com o desenvolvimento do comportamento de coletividade. Esse movimento fará com que o indivíduo identifique e ajude ao próximo. Gerando atitudes mais tolerantes e compreensivas. Além de trabalhar a paciência e a generosidade em si e com os outros.


5- Trabalhe o controle das emoções

Para desenvolver o controle das emoções é necessário primeiramente entender que os pensamentos não são fatos, mas sim ideias. Por isso, é legítimo questioná-los e avaliar se tais pensamentos são reais ou não e qual a probabilidade de eles acontecerem. Isso ajudará a ter uma visão realista de nós mesmos, dos outros e do futuro. "Acredito que tudo começa na forma como lidamos com os nossos pensamentos, pois eles irão influenciar em nossas emoções e comportamentos. Compreender o que de fato temos controle e não investir naquilo que não nos cabe controlar. Não supervalorizar situações negativas, mas aprender a lidar com elas, é extremamente importante. Pois situações negativas fazem parte do desenvolvimento humano. Manter o foco no presente é o desafio", conclui Ingrid Cancela, psicóloga na TopMed.


O mundo depois do túmulo vazio

Era um domingo comum na velha Judeia, quase dois mil anos atrás. Algumas mulheres andavam apressadas pelas ruas de Jerusalém. Um boato corria entre as casas apertadas e vielas insalubres. Diziam que o profeta crucificado três dias antes pelos romanos, durante a Páscoa, havia sumido de seu túmulo. O murmurinho logo ganhou força e se transformou na base teológica de uma religião que ultrapassou as fronteiras da palestina, se tornando uma força mundial. Não é exagero dizer que esse acontecimento, seja qual for sua verdade histórica, é o mais importante pilar da cultura ocidental.

 

Todavia, ainda fazemos a mesma pergunta que muitas pessoas daquela época: o que aconteceu no túmulo de Jesus? Ainda que renegada pelas autoridades judaicas e desconsiderada pelos políticos romanos, os discípulos não tinham dúvidas sobre a ressurreição de seu mestre. Poucos anos após sua morte, histórias sobre encontros com um Jesus ressuscitado já circulavam entre as primeiras comunidades cristãs. Meio século depois dos acontecimentos, o enredo já tinha tomado os contornos que tem hoje: ele ressuscitou e pôde ser visto. Isso aparece de forma bem clara nos evangelhos de Mateus, Lucas e João, mas é em Marcos que estão algumas das informações mais interessantes.

 

Hoje é quase consenso que Marcos é o mais antigo entre os quatro evangelhos canônicos. Nos velhos manuscritos ainda existentes costumam aparecer dois arremates distintos para esse livro: um, chamado ‘final longo’, narra as aparições posteriores de Jesus; no outro, o ‘final curto’, o relato acaba abruptamente quando as mulheres chegam no túmulo e um anjo as avisa que o mestre delas havia ressuscitado. Textualmente, parece bastante crível que o ‘final curto’ é o mais antigo e que o outro é uma adição posterior. Qual a importância desse debate? Um dos epílogos corrobora a ressurreição física, mas o outro, mais sucinto, insinua que as mulheres não viram Jesus, tendo sido alertadas por alguém.

 

Será que originalmente a ressurreição poderia ter sido encarada como um fenômeno não físico? Além do polêmico desfeche da narrativa de Marcos, há um evangelho esquecido que parece insinuar um viés espiritual. Trata-se do Evangelho de Tomé, um texto apócrifo, não incluso na Bíblia (como tantos outros). Lá se vê um Jesus celestial dizendo: ‘Onde há dois ou um, estou com ele (...) parta um pedaço de madeira, lá estou; levantai uma pedra, e ali me encontrareis’. Esses relatos demonstram que muitas discussões foram travadas para explicar o ocorrido, desde a teoria do corpo roubado, proposta originalmente pelos dirigentes judaicos, até as aparições espirituais ou físicas.

 

Sabermos que inumeráveis seitas surgiram nesse contexto, várias, inclusive, com visões antagônicas: umas acreditavam que Jesus era mais um profeta, outras que ele era o Messias, um salvador que os judeus esperavam. Uns diziam que ele era o Filho de Deus ou o próprio Deus. Alguns o viam como uma encarnação da sabedoria divina (sem um corpo físico, sendo, portanto, incapaz de sentir dor), enquanto outros defendiam que ele era somente um homem. O certo é que muitos pagaram com a própria vida por espalharem essas ideias, tidas como nocivas pelas autoridades imperiais. Esse processo persecutório se iniciou já na época dos apóstolos e inaugurou o culto aos mártires.

 

Foi somente trezentos anos depois da crucificação que uma visão se consolidou, sendo absorvida teologicamente por um Império Romano mais complacente, liderado por Constantino: Jesus era homem e Deus na mesma medida e ressuscitou fisicamente.


Esses debates mostram como Jesus sempre teve vários níveis de existência. Entender Jesus é como cortar uma cebola: ele tem muitas camadas de realidades que se sobrepõem. A cada camada que retiramos, nos aproximamos do personagem real que viveu na palestina do primeiro século: um camponês pobre, um andarilho pregador. Quanto mais camadas deixamos, mais nos aproximamos do personagem religioso: o Messias, o Filho de Deus ou o próprio Deus. Essas realidades coexistem e sempre foi assim. Afinal, para a maioria dos cristãos, ele foi Deus e homem na mesma medida.

 

Sabemos que Jesus foi um personagem histórico, com vida datável. Por outro lado, Cristo (tradução da palavra hebraica ‘messias’) é um ente religioso, teológico e espiritual. Compreender essa balança tênue entre os dois se tornou o fio condutor da história humana posterior.

 

E tudo começa, claro, com aquele túmulo vazio, num domingo longínquo.

 

 



 

Alex Fernandes Bohrer - professor brasileiro, natural do estado de Minas Gerais. Possui licenciatura e bacharelado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, mestrado e doutorado em História Social da Cultura pela Universidade Federal de Minas Gerais. Foi historiador da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, produzindo uma série de textos sobre a história deste sítio, importante Patrimônio da Humanidade (UNESCO). Foi membro titular do Conselho de Patrimônio e do Conselho de Turismo de Ouro Preto. Foi professor da FAOP (Fundação de Arte de Ouro Preto), onde lecionou as disciplinas História da Arte, Iconografia Cristã e Barroco Mineiro. É fundador e coordenador do NEALUMI (Núcleo de Estudos da Arte Luso Mineira). Atualmente é Professor Efetivo do IFMG (Instituto Federal de Minas Gerais), onde leciona as disciplinas História, História da Arte, Estética e Iconografia e Simbologia. Entre outras obras, é autor dos livros “Ouro Preto - Um Novo Olhar”, “O Discurso da Imagem - Invenção, Cópia e Circularidade na Arte” e “Jesus - Um breve roteiro histórico para curiosos”.


Transtorno alimentar: saiba como reconhecer os sinais

A coordenadora de Nutrição da Care Plus chama a atenção para comportamentos de risco para transtornos alimentares e fala que cada pessoa deve entender e respeitar a sua maneira de comer 

 

Em tempos de pandemia, temos falado mais do que nunca sobre saúde mental e como o isolamento social pode impactar a vida das pessoas, podendo gerar gatilhos psicológicos, como o aumento da ansiedade e a depressão em algumas delas. Sentimentos como esses podem ocasionar outros distúrbios, como transtornos alimentares, alterando a maneira que cada um enfrenta a escolha dos alimentos e os hábitos na hora de comer. 

Diante desse cenário, muitas pessoas se perguntam como podemos buscar um melhor entendimento das nossas emoções e, assim, identificar sinais possíveis de transtornos alimentares para realizar mudanças em nossos hábitos. Segundo Yuri Sato, coordenadora de nutrição da Care Plus, operadora de saúde premium, o diagnóstico deve ser feito por um médico, preferencialmente por um psiquiatra, mas nós mesmos podemos perceber algumas características em nossa rotina que apontam algo diferente. 

“É importante lembrar que nem sempre os sinais desses transtornos são tão evidentes, e devemos nos atentar aos comportamentos de risco. Fazer jejum ou comer muito pouco, pular refeições, usar substitutos de refeições, tomar remédio para emagrecer ou fumar mais para diminuir a fome, são fortes indicativos que devem ser analisados com atenção”, afirma a coordenadora.

Outros comportamentos podem ser considerados de risco para desenvolver transtornos alimentares, como fazer dietas restritivas; apresentar episódios de compulsão alimentar; e utilizar métodos purgativos, como uso de laxantes, diuréticos e vômitos autoinduzidos. Vale ressaltar que a alimentação é um hábito particular e individualizado, então é importante que cada um entenda o que é possível e o que cabe dentro da sua própria rotina, fazendo escolhas que façam sentido para sua saúde”, explica Yuri Sato.

 

Confira dicas importantes da especialista Yuri Sato de como entender sinais do nosso corpo e manter hábitos saudáveis na nossa alimentação:

  • Nossas escolhas alimentares são sempre influenciadas pelas nossas emoções. O importante é entender que a comida não resolverá nossos problemas emocionais; não fará o desconforto emocional desaparecer. Não podemos achar que a comida irá sanar nossas dores psicológicas ou substituirá as nossas emoções; 
  • Nosso corpo nos dá sinais de fome e saciedade, temos um controle interno para distinguir essas sensações. Fazer dietas restritivas e comer com distrações são ações que nos atrapalham a entender os sinais de fome e saciedade do nosso corpo. É muito importante nos reconectar aos nossos sinais internos e entender o que o corpo precisa de forma mais intuitiva e natural; 
  • A psicoterapia tem função essencial no processo de entender os motivos pelos quais comemos, para identificar gatilhos psicológicos e nos ensinar técnicas para voltar a entender nossos sinais internos de fome e saciedade; 
  • Exercitar-se é importante, é uma forma de cuidar do nosso corpo e da nossa mente, uma gentileza para você mesmo; 
  • Organização é a melhor forma de mantermos uma alimentação saudável e saborosa dentro de casa durante o isolamento social. Planejar as refeições e as compras e escolher preparos rápidos é uma forma de termos uma comida variada, gostosa e prática; 
  • Invista em um cardápio variado com hortaliças e frutas. Além de trazerem benefícios para a saúde, contribuem para uma rotina mais diversificada, comendo sempre algo diferente.

 

 

Care Plus


COMO A SAÚDE E A TECNOLOGIA TENDEM A CONTINUAR CAMINHANDO JUNTAS EM 2021

Com o passar dos anos, a tecnologia foi se firmando e ficando cada vez mais presente na vida das pessoas, seja pelos celulares, TVs com internet, casa inteligente e até mesmo os serviços de streamings. Tudo isso foi bem recebido pela população e consumido muito facilmente. Logo de cara podemos perceber o quanto a inovação facilita e simplifica a nossa vida, mas quando se trata de mudanças na área da saúde, isso se torna um ponto delicado a ser discutido.


A pandemia da Covid-19 foi um fator crucial para a inclusão e adaptação da tecnologia na saúde. Esse avanço vem possibilitando que novas ideias façam parte da medicina no país, agregando na melhoria do sistema de saúde. De acordo com mapeamento de HealthTechs brasileiras do Distrito HealthTech Report, em 2020 foram mapeadas 542 empresas de tecnologia na saúde. Por mais que o segmento já estivesse em expansão nos últimos anos, o coronavírus deu um pontapé para o crescimento nesse setor. Mas por que demorou tanto para isso acontecer? A resposta é simples: por medo do novo. As pessoas, os profissionais e até órgãos públicos tinham uma certa relutância quando se tratava do avanço tecnológico na saúde, uma vez que, por estarem tratando de vidas, esses cuidados tinham que ser redobrados.

Apesar disso, descobrimos o quanto as healthtechs puderam avançar em benefício de um bem maior: saúde de qualidade e para todos. Trago como exemplo o atendimento online. Uma questão tão simples como essa foi se tornar acessível e comum há poucos meses. Com os brasileiros em isolamento social, as consultas online tiveram um boom gigantesco e provaram que é possível sim ter atendimento digital de excelência.

O atendimento online conquistou o seu espaço e provou a sua importância e sua capacidade para a evolução da saúde no país. Por conta disso, acredito que os avanços tecnológicos, as soluções e inovações vão continuar crescendo em 2021, não só no Brasil, mas como em todo o mundo. Tendências como aceleração no processo de utilização e inclusão de novas tecnologias, uso da inteligência artificial (IA), médicos mais conectados, uso da nuvem para armazenamento de dados, e claro, a segurança das informações de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), seguirão firmes nos próximos anos.

Estamos vivendo o ápice da crise da Covid-19 e quanto mais recursos tivermos para nos ajudar no combate à doença, mais teremos a ganhar. Avanços oferecidos por meio das tecnologias permitem que o acesso chegue a mais lugares, melhorando e democratizando a saúde no país.



Milene Rosenthal - cofundadora, psicóloga e responsável técnica da Telavita, clínica de saúde mental online que oferece consultas de psicologia e psiquiatria.


Confira dicas para evitar os ataques à geladeira durante o home office

Segundo nutricionista da Dietbox, startup de nutrição, o hábito pode ser decorrente de estresse, sobrecarga ou tempo ocioso


Uma das soluções mais importantes, implementadas pelas empresas na pandemia, foi o home office. A modalidade caiu no gosto dos colaboradores pela flexibilidade e, até mesmo, pela qualidade de vida que oferece em casa e com a família. Mas, com o estilo de trabalho, vieram também os assaltos à geladeira que, agora, ocorrem com mais frequência, por estar sempre ao alcance.

De acordo com pesquisa realizada pela Income Opportunities Magazine, 36% das pessoas afirmaram estarem comendo mais após o home office e 32% disseram ter ganhado peso. Para Júlia Canabarro, nutricionista da Dietbox , startup de nutrição, os ataques à geladeira podem ocorrer devido ao estresse da sobrecarga ou de tempo ocioso, pressão, ansiedade, ou por sentir-se solitário. "Manter uma alimentação equilibrada, mesmo trabalhando em casa, é fundamental para um bom desempenho nas tarefas e para a saúde no geral, isso porque, a comida está ligada à saciedade e ao prazer, o que contribui para a concentração", explica Júlia Canabarro.

Confira dicas da especialista para controlar os ataques à geladeira no home office:


Conscientize-se

O primeiro passo é perceber que comer o tempo todo não é bom - e, a partir disso, entender a necessidade da mudança do hábito.


Não se prive de alimentos que você gosta

Dentro de uma rotina equilibrada, é possível comer algo que goste e que faça bem, porém cuidando para não exagerar nas quantidades.


Não se sobrecarregue

Entenda os seus limites, planeje metas realistas, faça pausas e entenda que você pode relaxar um pouco. Tirar uma soneca de 20 minutos após o almoço pode ajudar a te desestressar e fazer com que seu trabalho renda mais depois.


Faça mais coisas que te dão prazer

A comida é uma forma de satisfazer os sentidos e, se não estiver satisfeito com a vida, pode ser tornar um hábito tentar preencher esse vazio com alimentos pouco saudáveis. Achar hobbies ou realizar atividades de lazer durante o dia são formas de diminuir a necessidade de compensar-se com comida.


Beba mais água

Muitas vezes é normal confundir fome com vontade de comer, por isso, recomenda-se ingerir bastante água ao longo do dia. Mas, se a fome persistir, priorize petiscos saudáveis.


Planeje as refeições

O planejamento das refeições evita a ingestão de alimentos por impulso e proporciona uma rica composição nutricional das refeições, escolhendo sempre alimentos ricos em proteínas e fibras, que ajudam a aumentar a saciedade.

Essas dicas podem auxiliar no controle da alimentação, mas, caso se torne um hábito constante, a nutricionista Júlia Canabarro, da Dietbox, orienta a importância do acompanhamento com um profissional.

 

 

Dietbox

http://dietbox.me


Saiba mais sobre o processo de luto e entenda como lidar com ele

O que significa luto

O luto é um conjunto de reações humanas relacionadas a uma morte simbólica ou real que causa impacto significativo na vida de alguém. Cada um se enluta à sua maneira e todos que enfrentam a dor do luto vivem cada um desses processos de maneira singular.

Saiba mais neste artigo escrito pela psicóloga e psicopedagoga, 
Karina Okajima Fukumitsu.


Luto Coletivo

O luto coletivo é outro conceito importante e que vem sendo observado nos momentos atuais, em razão do aumento no número de vítimas da Covid-19, só no Brasil, ultrapassamos o número de 300 mil mortes, até o momento. Não é por acaso que observamos um aumento expressivo do sofrimento existencial. Neste artigo, falaremos sobre o processo de luto, as principais dificuldades e maneiras para preservar sua saúde existencial. Acompanhe e entenda!

Em meu livro 
"Suicídio e luto: histórias de filhos sobreviventes” (Lobo Editora, 2020) discorro sobre um novo paradigma tanto para a compreensão quanto para a intervenção do processo de luto, o modelo de processo dual do luto ou Dual Process Model of Grief, DPM (Stroebe; Schut, 1999, tradução nossa), proposto por Margaret Stroebe, por seu marido Wolfgang Stroebe e pelo assistente Henk Schut, apresentado em 1994, em uma conferência na Grã-Bretanha, e com a primeira publicação em 1999, por meio do artigo “The Dual Process Model of Coping with Bereavement: Rationale and Description”.

O modelo, que coloca em questão as fases do processo de luto descritas em estudos anteriores, traz reflexões acerca do redimensionamento dos papéis e tarefas sociais e considera o luto um processo que envolve a constante oscilação entre dois estressores ambivalentes – a “orientação para perda” e a “orientação para a restauração”. Dessa maneira, oferece possibilidades para a compreensão do luto como um processo dinâmico e regulador de enfrentamento e conciliação com novos papéis (Parkes, 1998; Cândido, 2011). Além de lidar com a morte da pessoa, o enlutado se vê diante do impacto da ausência e, por isso, situações que se referem à elaboração da perda de per si e o imenso desejo de restaurar a vinculação com o morto serão vivenciados na “orientação para a perda”. Posteriormente, a busca da restauração da vida começa a emergir. Nesse sentido, o redimensionamento e a descoberta de papéis, a busca de reorganização prevalecem. É importante salientar que a oscilação entre “voltar-se para a perda” e “voltar-se para a restauração” permite que o enlutado encontre significados e que possa, dialeticamente, compreender seu processo de luto (Fukumitsu, 2020, p. 51).

Na 
pandemia, temos notado um número crescente de pessoas afetadas. Nesse caso, não só quem teve de passar pela experiência da morte de seus familiares e amigos, mas também pessoas que apresentam dificuldade para lidar com esse momento tão difícil. Estamos em crise e, como supramencionado, reagimos de maneiras diferentes. Maya Angelou tem uma frase que acredito ser pungente para este momento de nossas vidas: “Você não pode controlar todos os eventos que acontecem com você, mas você pode decidir a não ser reduzido por estes eventos” (You may not control all the events that happen to you, but you can decide not to be reduced by them).

Não podemos nos autorizar a sucumbir nesta crise pandêmica e o processo de luto é a possibilidade de respondermos a toda situação que vai na contramão de nossas expectativas e desejos.

Elizabeth Kübler-Ross, uma das autoras que faz parte do acervo de minhas diretrizes nos estudos sobre luto, foi uma profissional que se dedicava ao acompanhamento de pacientes na proximidade da morte. Kübler- Ross (1997) propõe fases do lidar com o luto: choque, negação, revolta e raiva, luto e dor, barganha com Deus, tristeza, aceitação (p.161). Mas, como percebo o luto como processo de crise existencial, explicarei a compreensão sobre este processo.


No luto não usamos maquiagem

“No luto não usamos maquiagem” -, é a frase recorrente que menciono em meus cursos. Digo isso, pois acredito que o luto é o momento mais puro que a pessoa pode se apresentar. A dor do luto não nos permite mascarar o que sentimos.

Cada um enfrentará sua travessia de sofrimento. Para tanto, é preciso considerar alguns sentimentos que fazem com que a gente sinta que está no primeiro carinho de uma montanha russa.

Em virtude de a morte de alguém que amamos trazer impactos que não temos dimensão de suas consequências, não é raro ouvir que ao receberem a notícia de morte, alguns relatam o momento do choque. Nesta fase, o enlutado vive um período de estado de ameaça constante no qual existe uma confusão acerca da realidade e descrença de que aquilo está realmente acontecendo. Podemos dizer que, nesse momento, ocorre uma sensação semelhante a uma anestesia, uma proteção do próprio organismo para ajudar o enlutado a dar os primeiros passos nessa nova realidade. Nesse sentido, também não devemos julgar quem nega, pois “o sentido pertence ao ‘sentidor’, aquele que sente a dor” (Fukumitsu, 2014, p. 59).

Lidar com situações que nos fazem sentir impotentes provoca raiva. Nessa direção, é comum que pessoas em processo de luto se dê conta de sua indignação em relação ao que foi impactado. O organismo produz uma substância chamada novocaína, que é responsável por eliminar aquele amortecimento temporário inicial. Desaparecendo a sensação de anestesia, a pessoa começa a ter de lidar com a sensação de agonia física e mental. Dessa forma, a fadiga e dificuldade de executar tarefas simples são expressivas neste momento. Sendo assim, a pessoa em luto tenta resguardar as poucas energias que lhe parecem restar. Quando a pessoa não consegue mais executar as tarefas comuns do seu dia a dia, se sente prostrada e sem motivação para continuar, é um sinal de alerta para buscar ajuda profissional.


Quais são as principais dificuldades no processo de luto?

 

Certo dia, ouvi Teresa Vera Gouvêa dizendo que atualmente não se fala mais sobre “aceitação do luto”, mas sim, em “adaptação à situação adversa”.

No caso específico da pandemia que estamos vivendo, a sensação de incerteza e incapacidade toma conta de muitas pessoas. Uma mudança brusca na realidade conhecida pode ser relacionada com o luto, pois houve a perda do mundo presumido. Isso quer dizer que o luto se aplica não só ao falecimento de um ente querido, mas também acontece em situações de mortes simbólicas, tais como, a mudança de estilo de vida como a que estamos vivenciando com a pandemia.

Aceitar o que aconteceu não significa concordar com o evento. A pessoa enlutada busca forças para lhe dar impulso para a nova configuração da vida que se instala. A mudança nas atitudes é lenta e gradual, e a reapropriação de atitudes e a restauração de nossa existência vêm aos poucos.

A passagem da transformação da dor em amor ou processo de extrair flor de pedra se inicia.

Extrair flor de pedra é, portanto, a possibilidade de a pessoa exercitar sua capacidade de transcendência. Ou seja, quando a pessoa extrai o conhecimento que não aprendeu com ninguém e apresenta uma ação criativa para oferecer algo generoso e amoroso para a humanidade, por exemplo, quando uma pessoa oferece cuidados que nunca recebeu aos outros, encontrando assim, um sentido para sua vida (Fukumitsu, 2019, p. 189).

Nesse sentido, extrair flor de pedra significa perdoar a si mesmo por ter de lidar com a situação e aceitar que a perda de fato aconteceu representa esforço hercúleo e que nos auxilia a resgatar os bons momentos que a morte não é capaz de furtar.

O luto envolve um longo caminho a ser trilhado e a passagem por vários momentos áridos. Não existe um prazo para superar o luto, tampouco uma fórmula para se viver a experiência do luto, porque isso varia significativamente de uma pessoa para outra. A dor une e muitas vezes, buscar um profissional da área de saúde mental pode ajudar.

Parkes (1998, p.22-3) ensina que a dor do luto é tanto parte da vida quanto a alegria de viver; é, talvez, o preço que pagamos pelo amor, o preço do compromisso. Ignorar este fato ou fingir que não é bem assim é cegar-se emocionalmente, de maneira a ficar despreparado para as perdas que irão inevitavelmente ocorrer em nossa vida, e também para ajudar os outros a enfrentar suas próprias perdas.

O processo de luto faz com que a pessoa perceba que existem enfrentamentos diversos e que novas possibilidades devem ser estabelecidas para que a vida continue. Nunca somos os mesmos após uma perda, seja ela real ou simbólica. A vida é arte que leva tempo para continuar a viver, construindo novos laços e guardando na memória os bons momentos e a experiência que a pessoa falecida proporcionou. Repito. Nenhuma morte deve furtar as histórias e as experiências que tivemos com quem partiu.

Se você está passando por um processo de luto ou conhece alguém nessa situação, busque orientação profissional.

 

 

Karina Okajima Fukumitsu  -

Psicóloga, psicopedagoga e Pós-doutorado e doutorado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia (USP). Mestre em Psicologia Clínica pela Michigan School of Professional Psychology. Coordenadora da Pós-graduação em “Suicidologia: Prevenção e Posvenção, Processos Autodestrutivos e Luto” da Universidade Municipal São Caetano do Sul. Coordenadora, em parceria, da Pós-graduação “Morte e psicologia: promoção da saúde e clínica ampliada”; coordenadora, em parceria, da Pós-graduação “Abordagem Clínica e Institucional em Gestalt-terapia” da Universidade Cruzeiro do Sul. Membro-efetivo do Departamento de Gestalt-terapia do Instituto Sedes Sapientiae e co-editora da Revista de Gestalt do Departamento de Gestalt-terapia do Instituto Sedes Sapientiae. Podcaster “Se tem vida, tem jeito”. Consultora ad hoc do hospital Santa Mônica 

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Referências bibliográficas   

  • Fukumitsu, K.O. Suicídio e Luto: história de filhos sobreviventes. 2 ed. São Paulo: Lobo, Editora, 2020.
     
  • A vida não é do jeito que a gente quer. 2. ed. – São Paulo : Lobo, 2019.
     
  • Xiquexique nasce em telhado: reflexões sobre diferença, indiferença e indignação. In: Revista de Gestalt, v. 17, São Paulo, 2012c, pp. 69-71.
     
  • Kübler-Ross, E. The wheel of life: a memoir of living and dying. New York: A Touchstone Book, 1997.
     
  • Parkes, C. M. Luto. São Paulo, Summus Editorai, 1998.
     
  • Stroebe, M.; Schut, H. The dual process model of bereavement: rationale and description. Death studies, Filadelfia, v. 23, p. 197-224, 1999. 

 

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