Para a médica Jordanna Leão, resultado de estudo inédito acende alerta sobre necessidade de mudança de comportamento de gestantes com relação ao uso de produtos de beleza na gravidez
No último século, a produção global de plástico chegou à marca de 320 milhões de toneladas
por ano. Agora, um estudo inédito realizado
por pesquisadores de diferentes instituições médicas e acadêmicas da Itália
encontrou as primeiras evidências da presença de microplástico na placenta humana.
Para a médica
Jordanna Leão, que tem mais de 10 anos de experiência com
acompanhamento fetal, o resultado é alarmante e reforça a importância de mudar
a concepção que se tem do papel da gestante ao longo da gravidez.
De acordo com a pesquisa italiana, 12 fragmentos foram encontrados nas placentas de quatro
das seis gestantes que forneceram material para o estudo. O microplástico é uma
partícula com menos de cinco milímetros originada da degradação do plástico
presente no ambiente.
Risco no excesso de cosméticos
Embora sejam necessárias mais evidências para definir o impacto
desse material na gestação, acredita-se que ele possa ter influência no desenvolvimento do feto,
em sua reação
imunológica e na preparação
da mãe. Segundo Jordanna Leão, alguns números em torno da
gravidez são preocupantes e podem estar relacionados a essa descoberta.
“Hoje uma em cada quatro mulheres entra em depressão pós-parto no
Brasil e menos de 40% consegue amamentar exclusivamente. Se pensarmos bem, a
depressão pós-parto é a não transformação da mente da mulher. Como mamíferos,
nossa mente precisa se transformar para que nosso corpo acompanhe essa mudança,
mas isso não acontece quando a gente não tem tudo que precisa ou quando somos
bombardeados de substâncias e informações”, argumenta.
Para a médica, isso tem relação com o uso excessivo de
produtos cosméticos, mesmo durante a gestação. Os dados da pesquisa italiana
reforçam que o material encontrado nas placentas analisadas também é bastante
presente em itens como cremes para o corpo, unhas em gel, esmaltes, entre
outros.
No mesmo sentido, Jordanna reforça que o número de gestantes que
ela observa em seu consultório fazendo uso excessivo desses produtos é alto.
“Muitas vezes, recebo pacientes no consultório que têm dificuldade de realizar
o exame de oximetria porque estão com unhas em gel tão grandes que não cabem no
aparelho”, relata.
Importância de mudar o comportamento
Diante da experiência acumulada em mais de uma década de
acompanhamento fetal, a médica afirma que o comportamento das gestantes em
relação ao papel que desempenham na gravidez precisa ser revisto.
Ela explica que é comum que a mãe ache que seus hábitos se resumem
a garantir que o feto não corra risco
de morte, mas destaca que isso não é suficiente. Diante dos
impactos causados pelos microplásticos,
Jordanna aconselha que o uso seja drasticamente reduzido, tanto pelo risco de
contaminação como pelo efeito causado na própria gestante.
“Ela enche seu corpo de cremes e produtos repletos de plástico,
parabenos e outras substâncias que causam disrupção endócrina. Isso acontece
porque esses cosméticos fingem ser um tipo de hormônio, mas não fazem a função
hormonal”, explica.
Indo além, a médica argumenta que, embora sejam necessários novos
estudos, é possível que o material que chegou à placenta também esteja presente
em outros tecidos
da gestante, causando efeitos
nocivos ao seu desenvolvimento para a maternidade que podem ser
determinantes para a saúde
do bebê e para a relação da mãe.
“O que vamos começar a ver é que o mundo moderno mudou bastante. É preciso entender a importância dos cuidados, de não usar qualquer creme, de evitar as unhas em gel, enfim, de ser o mais natural possível”, completa