Transtorno do
humor é a principal causa de suicídio no mundo e pode apresentar forma
resistente aos tratamentos tradicionais
Os paradigmas envolvendo a depressão e o
risco de suicídio são muitos e, por isso, o assunto ganhou um mês de
conscientização para ser amplamente discutido pela população, o Setembro
Amarelo. Estima-se que cerca de 11,5 milhões de pessoas no Brasil vivam com
depressão[i] e que aproximadamente 11 mil tiram a
própria vida, por ano[ii]. No
mundo, o número de suicídios é de 11,4 a cada 100 mil habitantes[iii].
“Muitos acreditam que esse é um ato escolhido
pelo cidadão, porém, em quase 100% dos casos, o suicídio está associado a uma
doença mentaliii, dado que reforça a importância de observar os
sinais apresentados pelas pessoas próximas”, explica José Alberto Del Porto,
professor titular do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de
Medicina.
Apesar dos altos índices, a depressão ainda é
uma doença estigmatizada pela população, que, desconhece, por exemplo, que a
enfermidade pode apresentar uma forma resistente, quando não responde a pelo
menos dois tipos de tratamento. Para esclarecer essas dúvidas, o psiquiatra respondeu
uma série de questionamentos sobre o tema, que se configuram em vários mitos e
muitas verdades.*
O paciente pode melhorar apenas com a força
de vontade.
Mito. É possível atingir a remissão dos sintomas da
depressão. Para isso, é essencial que a pessoa que apresente o distúrbio
procure o apoio de um profissional de saúde para fazer uma avaliação
individualizada, começando imediatamente o tratamento, após o diagnóstico.
O tratamento da depressão e para pessoas em risco de
suicídio é o mesmo.
Mito. O diagnóstico final da pessoa deprimida e
também o risco de suicídio exige uma investigação criteriosa por parte dos
profissionais de saúde, para, então, ser definido qual o protocolo ideal em
cada caso. O tratamento da depressão pode ser realizado com a utilização de
medicamentos, psicoterapia ou a combinação dos dois. Entre os tipos de terapias
atuais no mercado estão os antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos.
Especificamente para o suicídio, o lítio possui evidências na prevenção em
longo prazo, talvez por atuar sobre o estado de ânimo e reduzir a impulsividade
inerente a esses atos.
Entretanto, uma parte dos pacientes com
depressão pode não apresentar melhoras após o uso de pelo menos dois desses
medicamentos. Nesse caso, passam a ser diagnosticados com depressão maior
resistente ou depressão refratária.
A pessoa deprimida sempre se apresenta com
evidentes manifestações externas de depressão, como estar cabisbaixa.
Verdade. Apesar de a alteração no humor ser
um dos sinais relacionados à doença, não é regra que a pessoa com depressão
deva sempre estar triste ou desanimada. Não é incomum encontrar casos de
pessoas que cometam suicídio e que tenham uma vida socialmente ativa, por
exemplo. Apesar disso, é necessário observar os outros sintomas da doença que
são perda de interesse nas atividades cotidianas, fadiga, diminuição do
apetite, dificuldade de concentração e mudanças no sono.
O tratamento contínuo tem impacto positivo na
qualidade de vida do paciente.
Verdade. A pessoa com depressão possui
diversas opções de tratamento e os cuidados adequados como uso de terapias
médicas e acompanhamento psicológico permitem a retomada das atividades
cotidianas e a remissão completa dos sintomas.
A pessoa que pensa em suicídio não ameaça ou
fala sobre o assunto.
Mito. A maioria das pessoas que pensam em suicídio
dá sinais de que irá cometê-lo. É errada a crença popular de que “quem fala não
faz”. O histórico mostra que grande parte dessas pessoas alertou sobre essa
intenção dias ou semanas antes do ato. Alguns sinais devem ser observados:
cansaço excessivo, falta de interesse pelas atividades rotineiras, aumento no
consumo de álcool ou drogas, estresse e isolamento social são alguns deles.
A depressão é uma das principais causas de
suicídio.
Verdade. Os transtornos do humor (depressão
ou transtorno bipolar) são responsáveis por aproximadamente 36% dos casos de
suicídio.[iv] Além disso, os pacientes com a doença
apresentam cinco vezes mais chances de cometer o ato[v].
Além disso, existem diversos outros fatores de risco para o suicídio, entre
eles: tentativas prévias de cometê-lo, histórico familiar e genética,
impulsividade, desesperança e sentimento de desamparo, doenças clínicas não
psiquiátricas (doenças graves e sem cura, por exemplo), eventos adversos na infância
e na adolescência (como maus tratos e abusos sexuais) e poucos vínculos sociaisiii.
Falar sobre o assunto pode incentivar a pessoa depressiva
a cometer suicídio.
Mito. Conversar com a pessoa que apresenta sinais
de depressão pode abrir espaço para o paciente falar sobre o tema e servir como
ferramenta de prevenção ao suicídio. Abordar o assunto com perguntas mais
leves, como “Você tem planos para o futuro?”, também é uma forma de introduzir
o tema.
* Respostas concedidas por José Alberto Del Porto, professor titular do
Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina.
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[i] Depression and Other Common Mental Disorders –
Organização Mundial de Saúde http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/254610/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf;jsessionid=253A62EA7F2DCD11F69C38616ADD2923?sequence=1
[ii] Sistema
de Informação sobre Mortalidade 2017 do Ministério da Saúde
[iv] Suicídio
– Informando para prevenir – Associação Brasileira de Psiquiatria https://www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/suicidio_informado_para_prevenir_abp_2014.pdf
[v]
https://www.gmeded.com/gme-info-graphics/major-depression