Pediatra explica quando os pais
precisam se preocupar e o que podem fazer
Com a chegada do outono e do tempo mais frio e seco, começa o
chamado “pico das doenças virais”. Não é a toa que os pronto-socorros infantis
vivem lotados nessa época do ano. O primeiro semestre, principalmente os meses
de março a junho, marcam a sazonalidade do Vírus Sincicial Respiratório (VSR).
A cada ano, 4-5 milhões de crianças menores de 4 anos adquirem uma
infecção por VSR e mais de 125.000 são hospitalizados anualmente segundo dados
dos EUA. Particularmente esse ano, a virulência do vírus está mais forte do que
no ano passado, e quadros mais graves tem atingido 10% das crianças, contra 6%
do ano passado.
De acordo com a pediatra de São Paulo, Maria Júlia de Carvalho, os
principais problemas que o VSR podem causar são a bronquiolite e a pneumonia em
bebês e crianças pequenas, principalmente nos menores de 1 ano, nos quais ele
atinge o trato respiratório inferior com frequência.
“O VSR geralmente inicia com sintomas de um resfriado comum
e progride rapidamente ao longo de 2 a 3 dias para uma inflamação em pequenas
vias aéreas, os chamados bronquíolos, levando a obstrução da via aérea por
edema, necrose, aumento da produção de muco e broncoespasmo. Por isso, a
respiração fica mais difícil e sintomas como chiado no peito, aumento da tosse,
dificuldade para mamar podem aparecer", explica a especialista.
O quadro é mais grave quando atinge crianças menores,
principalmente nos menores de 6 meses, nos prematuros, cardiopatas ou com
alguma doença de base. Além disso, um estudo realizado pelo BREVI (Brazilian
Respiratory Virus Study) apontou o VSR como responsável por 66,7% dos episódios
de hospitalização de bebês prematuros.
Segundo a especialista, esse vírus pode ser transmitido
facilmente, basta acontecer o contato das gotículas da via aérea de uma pessoa
contaminada com uma pessoa saudável através de um simples espirro, tosse ou até
mesmo se a pessoa doente falar muito perto do bebê, principalmente os
prematuros, que estão muito mais sujeitos a possíveis contaminações.
Objetos contaminados como brinquedos e grades de berço também são fontes de
transmissão.
“Para prevenir o contágio é recomendado que os pais evitem o
contato dos pequenos com adultos que possuam sintomas de gripe ou resfriado e
prefiram lugares calmos, com pouco números de pessoas. As crianças maiores e
adultos transmissores acabam tendo sintomas muito frustros, limitados a via
aérea superior ou ainda serem portadores assintomáticos da doença, pois o
calibre da via aérea é bem maior. Além disso, a amamentação é essencial, já que
o leite materno fortalece o sistema imunológico da criança e diminui em um
terço o risco de hospitalização por infecção do trato respiratório inferior”,
alerta a pediatra. O tabagismo dos pais também deve ser desestimulado e medidas
básicas como lavagem constante das mãos, uso frequente de álcool em gel e uso de
máscara simples quando os pais estiverem sabidamente resfriados também são
medidas simples e eficazes.
O diagnóstico da doença é essencialmente clinico e normalmente
exames adicionais não são indicados. Atualmente, existem exames laboratoriais
para detectar o virus nas secreções respiratórias como o teste de reação de
cadeia de polimerase (PCR) que é altamente sensível, de fácil coleta (com um
simples swab de orofaringe) e permite o resultado rápido.
Independente do exame, não há tratamento específico e a maioria
dos cuidados são de suporte. A pediatra explica que manter uma boa oferta
hídrica é de extrema importância pois o bebê perde bastante líquido pela
respiração acelerada, pela febre e acaba ingerindo menos pelo cansaço, podendo
desidratar rapidamente, piorando mais a parte respiratória. "A
inalação com soro fisiológico é fundamental no tratamento da bronquiolite, e
deve ser usada para umidificar as vias aéreas e ajudar a eliminar as secreções.
Além disso, a lavagem nasal, deve ser feita inúmeras vezes ao dia pois os bebês
pequenos respiram predominantemente pelo nariz, piorando o cansaço, e se esse
está obstruído e pode levar secundariamente à otite, principal complicação da
bronquiolite", alerta Maria Júlia.
É importante destacar que se houver algum sinal de alerta como
prostração ou irritabilidade excessiva, diminuição da diurese, baixa ingestão
de líquidos, sinais de cansaço, gemência ou dúvida quanto ao estado geral
da criança, o médico deverá ser consultado. "O atraso em levar ao médico
pode levar à piora do quadro clínico e a consequências graves", finaliza a
médica.
Dra. Maria Julia Carvalho
- formada pela UNICAMP (2004-2009). Fez residência
em pediatria pela Santa Casa de SP (2010-2012). E é especialista em
oncohematologia infantil pela Santa Casa de São Paulo (2012-2014). Plantonista
na unidade de internação do hospital infantil Sabara e na UPA do Einstein de
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