Jovens bebem menos, evitam ressacas e preferem o bem-estar a passar noites acordados, claro comportamento que evidencia uma mudança de comportamento. O questionamento que fica é: será que o consumo exagerado de álcool está fora de moda? Em todo o mundo, as pessoas estão reduzindo a ingestão de bebida alcoólica, e não podemos negar que beber demais ou a ideia da bebida como um facilitador social imprescindível parece não fazer mais sentido nos dias atuais.
Historicamente, exagerar no consumo era um hábito mais comum entre
os mais novos — justamente por serem pessoas que estavam começando a beber, mas
ainda não conheciam os efeitos do álcool e os limites do seu corpo —, ou que
costumavam frequentar festas com frequência. De acordo com uma pesquisa
realizada pelo Datafolha, divulgada em 2022, 54% dos jovens e adultos entre 15
e 29 anos afirmaram não frequentar ou frequentar boates menos de uma vez por
ano. Os ritos de passagem para a vida adulta, que em muitos momentos eram
marcados pela possibilidade de consumir bebidas alcoólicas, agora parecem não ter
muita importância.
Ainda é cedo para dizer se esta é uma mudança que veio para ficar,
mas o que acontece do outro lado do espectro não pode ser esquecido pela
indústria. A ingestão excessiva de álcool pode ser prejudicial não apenas para
quem bebe, mas também para as pessoas ao seu redor. Claro que, diante das
transformações do mercado, é difícil para as empresas se manterem relevantes,
estimulando a ingestão consciente, mas tenho certeza de que, embora desafiador,
não é impossível — e é extremamente necessário.
Para as marcas de bebidas, há um paradoxo no equilíbrio entre os
ganhos e a conscientização. É óbvio que qualquer empresa, não importa o setor
de atuação, vai buscar crescimento e máxima lucratividade. No caso do segmento
de bebidas, a ingestão responsável não pode e não deve ser ignorada — indo além
da mensagem “beba com moderação”.
O mercado publicitário brasileiro estabelece diversas regras que
precisam ser cumpridas pelos anunciantes, justamente para proteger o consumidor
de mensagens de consumo excessivo, explícitas ou não. As empresas que não
cumprem com tais exigências podem sofrer sanções importantes. Com medo de tais
retaliações, as multinacionais costumam ser as mais cuidadosas, justamente
porque os danos à imagem causados por uma comunicação irresponsável podem ser
grandes.
Quando falamos em propaganda responsável, não se trata apenas de
cumprir com as exigências regulatórias, mas sim de incentivar um comportamento
moderado em todos os pontos de contato com o cliente. Em um vídeo publicitário,
por exemplo, é possível mostrar que nem todos os personagens estão bebendo.
Pode parecer um mero detalhe, mas já é bem diferente de uma cena em que todos
aparecem com copos na mão, além de criar a inclusão daqueles que não bebem com
frequência no mesmo espaço de quem bebe.
Para se manter atualizado diante das mudanças e estimular um
consumo responsável, não é preciso, necessariamente, alterar o portfólio
incluindo bebidas zero álcool. Desenvolver novos produtos pode implicar um
gasto expressivo em pesquisa e novas tecnologias, que nem toda companhia está
disposta a fazer e, por isso, as que têm uma postura mais conservadora ou menos
verba disponível podem querer esperar até que uma tendência se prove mais
sólida.
Mais do que mudar radicalmente a estratégia ou a estrutura de
produção, as empresas precisam estar atentas às tendências e, principalmente,
conectadas de verdade com os consumidores. A queda no consumo de uma parcela da
população aparece como uma ótima chance de incentivar um comportamento mais
equilibrado e promover a convivência entre quem bebe e quem não bebe, no mesmo
ambiente. Só essa mistura de perfis já ajuda, naturalmente, a evitar os
excessos. As marcas passam a ter a oportunidade de se conectar com as pessoas
em um nível mais abstrato, compartilhando valores e passando a integrar o
repertório de quem é impactado e que pode consumi-la em uma oportunidade
futura.
A maioria dos mercados tende a apresentar movimentos cíclicos ao
longo do tempo. No universo dos destilados, vimos várias mudanças nos últimos
20 anos — categorias como gin e licor, antes esquecidas, ficaram em segundo
plano enquanto a vodca dominava. O gin voltou a ganhar espaço há cerca de uma
década; já os licores conquistaram o paladar do público nos últimos quatro
anos, enquanto a vodca perdeu protagonismo. Essas oscilações ampliaram o
repertório de escolhas disponíveis.
Esses exemplos mostram como o comportamento das pessoas é dinâmico
e aberto a novas formas de se relacionar com a bebida alcoólica. Em um cenário
em constante transformação, quem realmente sai ganhando é o público, que —
independentemente da frequência com que consome — passa a contar com novas
possibilidades e ocasiões de consumo. A moderação, neste contexto, se torna o
ponto de equilíbrio que conecta os dois extremos desse espectro: dos que bebem
com regularidade e precisam evitar os excessos aos que preferem a abstinência.
Fernanda Di Giaimo- Head de Marketing para o Sul da América
Latina na Zamora , empresa espanhola detentora e produtora de Licor 43
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