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A maioria das
pessoas, em algum momento, já teve uma. Pensando nisso, o programa CFO Esclarece
explica o que são essas lesões dolorosas e como tratá-las.
As aftas, ou Estomatite Aftosa Recorrente (EAR), são caracterizadas pelo aparecimento de uma ou mais úlceras de coloração esbranquiçada com bordas vermelhas, de tamanhos variados e que, geralmente, são dolorosas, podendo dificultar alimentação e fala. Essas lesões estão entre os problemas bucais mais recorrentes, sendo importante que os pacientes sejam orientados sobre como lidar com elas. Por esse motivo, o Conselho Federal de Odontologia e os 27 Conselhos Regionais de todo país explicam o que são as aftas e como podem ser tratadas e prevenidas.
O secretário do Conselho Federal de Odontologia, Roberto de Sousa Pires, especialista em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Pará (UEPA), explica que as aftas ocorrem em diferentes regiões da cavidade oral, podendo afetar a superfície da mucosa bucal, língua, lábio interno, gengiva, bochechas e palato. Geralmente, as úlceras desaparecem em cerca de 14 dias após o aparecimento e não deixam qualquer marca ou cicatriz, embora haja casos de cicatrização mais prolongada.
“Apesar
de serem muito desconfortáveis, as aftas são lesões inofensivas e o próprio
organismo se encarrega de curá-las de forma espontânea. Mas há medidas que
podem ser tomadas para aceleração do processo de cicatrização e redução da dor.
O importante é que o tratamento seja realizado sempre com a orientação de um
cirurgião-dentista, que é o profissional capacitado para indicar o melhor
tratamento de forma individualizada, dependendo das características clínicas de
cada paciente”, aponta Roberto de Sousa Pires.
Causas envolvem múltiplos fatores
A cirurgiã-dentista Celi Novaes Vieira, mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UNB) e especialista em Periodontia e Odontologia Hospitalar, explica que as causas exatas para o aparecimento das aftas são desconhecidas, embora exista um consenso de que se trata de um processo multifatorial.
O surgimento das úlceras pode ser influenciado, por exemplo, por fatores genéticos, com história familiar associada, alterações hormonais (como as do ciclo menstrual), estresse, ansiedade, agentes infecciosos e doenças sistêmicas.
A alimentação também pode ter relação direta com as aftas, sendo comum acometerem de forma mais recorrente pacientes com deficiências nutricionais ou alergias alimentares. O aparecimento das lesões pode estar relacionado ainda ao consumo exagerado de alimentos ácidos e duros. “Cabe ressaltar que a adesão a dietas livres de glúten ou o uso de vitaminas por pessoas sem doenças sistêmicas associadas não tem mostrado benefícios no combate às aftas”, afirma Celi Vieira.
A cirurgiã-dentista explica que a saliva também está entre as questões que podem influenciar o aparecimento das aftas. “Pacientes com déficit de produção salivar em repouso ou salivação basal com baixa concentração de mucina, que é a glicoproteína responsável pela lubrificação e proteção das mucosas bucais, podem apresentar aftas recorrentes, independente dos hábitos alimentares”, complementa Celi Novaes Vieira.
Por
fim, traumas na cavidade oral, que resultem em feridas, podem evoluir para
lesões aftosas. A Biblioteca Virtual de Saúde, do Ministério da Saúde, informa
que as aftas também ocorrem devido a restaurações fraturadas, bordas cortantes
dos dentes, lesões de cárie, próteses mal adaptadas, mordidas acidentais e o
hábito de sucção do lábio e língua.
Tipos de aftas e sua prevalência
De acordo com a cirurgiã-dentista Celi Novaes Vieira, as aftas afetam 60% da população em geral, com maior incidência de aparecimento na segunda década de vida, dependendo do grupo étnico e socioeconômico analisado. As lesões ocorrem principalmente em pacientes entre 10 e 40 anos de idade, com prevalência em pessoas do sexo feminino. Elas são divididas em três tipos:
-
Aftas menores: São as mais comuns e equivalem a pouco mais de 85% dos casos.
Caracterizadas por lesões superficiais com menos de 1 cm de diâmetro,
geralmente aparecem na mucosa bucal não queratinizada (parte interna dos
lábios, bochechas, assoalho da boca, palato mole e a face ventral da língua) e
cicatrizam em uma a duas semanas sem deixar marcas.
-
Aftas maiores: São menos comuns, representando cerca de 10% dos casos. Essas
lesões possuem mais de 1cm de diâmetro, são profundas e muito dolorosas. Podem
aparecer tanto na mucosa não queratinizada quanto na queratinizada (gengiva e
palato duro) e requerem mais de duas semanas para desaparecer, sendo que em
alguns casos podem deixar marcas.
-
Aftas herpetiformes: Referem-se somente a 5% dos casos e são caracterizadas por
episódios de múltiplas lesões superficiais pequenas (de 2 a 3mm), agrupadas em
aglomerados e distribuídas por toda a mucosa não queratinizada. Tendem a se
juntar e formar úlceras maiores e irregulares. Geralmente cicatrizam entre 7 a
10 dias, sem cicatrizes. Podem ser confundidas com herpes recorrente intraoral.
Tipos de tratamentos e cura
Pacientes
com aftas recorrentes, profundas ou muito doloridas devem procurar atendimento
odontológico. Existem diversas opções de tratamento que garantem aos pacientes
menor tempo de cura das lesões e alívio da dor. Confira abaixo as principais
abordagens terapêuticas a serem utilizadas pelo cirurgião-dentista:
-
Tratamento das doenças sistêmicas: Algumas patologias estão ligadas a maiores
índices de surgimento de aftas, como é o caso da colite ulcerativa, doença
celíaca, doença de Crohn e doença de Behçet. Dessa forma, pacientes com
diagnósticos dessas doenças devem fazer o tratamento médico adequado para
garantir também o controle do surgimento das lesões. Além disso, a associação
de terapia de reposição de ferro, vitamina B12 e folato pode resultar na
melhora da EAR.
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Terapias tópicas: O cirurgião-dentista poderá receitar medicações de uso tópico
que vão ajudar na cicatrização e alívio da dor. O composto de ação tópica
considerado mais seguro é a combinação de orabase com corticosteroide forte,
como fluonamida, clobetasol ou halbetasol. Uma alternativa eficaz é o elixir de
dexametasona, corticosteroide líquido que é útil quando há presença de
múltiplas úlceras ou quando as mesmas são localizadas no palato mole ou na
orofaringe, podendo ser também usado em gargarejos ou bochechos. Podem ainda
ser utilizados analgésicos de uso local como gel de lidocaína, pastilhas de
cromoglicato de sódio, antisséptico bucal com carbenoxolone de sódio e alguns
agentes tópicos imunomoduladores.
-
Terapias sistêmicas: A imunossupressão sistêmica algumas vezes se faz
necessária para tratamento da EAR em vista da eficácia limitada dos agentes
tópicos, quando a dor é intensa e/ou quando a permanência da úlcera é longa. O
agente de uso mais comum é o corticoide. Outras drogas que são utilizadas
incluem a ciclosporina, a colchicina, a pentoxifilina, a dapsona, e a talidomida.
O uso destes agentes nos períodos iniciais da lesão pode abortar a formação das
úlceras, porém deve-se considerar que seus efeitos colaterais sistêmicos podem
ser mais agressivos do que o ganho terapêutico local.
-
Laserterapia: Os lasers de baixa intensidade (não-cirúrgicos), em virtude das
baixas densidades de energias e comprimentos de onda, são capazes de atuar de
forma eficaz na cicatrização mais rápida e menos dolorosa das aftas. À
aplicação da luz atribui-se uma reparação tecidual mais rápida, assim como a
obtenção de analgesia. Desta forma, o uso da tecnologia de fotobiomodulação é
um tipo de terapia utilizada pelos cirurgiões-dentistas de forma eficaz e
rotineira.
Evolução das lesões
Os estágios da evolução natural das lesões podem ser divididos em iniciais, pré-ulcerativo, ulcerativo e cicatricial. As aftas se iniciam como pequenas pápulas endurecidas, podendo ser solitárias ou múltiplas e de formato circular ou oval dependendo da localização.
O
estágio ulcerativo tem duração de um a 16 dias. Desde o início, as lesões são
dolorosas e atingem o tamanho máximo entre o quarto e o sexto dia após o início
do quadro. Em dois a três dias a dor cessa abruptamente, restando apenas um
desconforto residual. O quarto e último estágio evolutivo, chamado de
cicatricial, pode durar de quatro a 35 dias.
Relação entre má higiene bucal e aftas
A cirurgiã-dentista Celi Novaes Vieira destaca que não há uma relação direta entre maus hábitos de higiene oral e o aparecimento de aftas, porém, eles podem contribuir para agravamento das lesões na boca.
“Não
há correlação direta associada, no entanto, pacientes com dificuldade de
controlar a carga microbiana bucal podem sentir mais dor e dificuldade de cicatrização
das aftas devido à maior colonização nas lesões”, complementa a Especialista em
Periodontia.
Formas de prevenção
Não há uma receita certa para prevenção das aftas, mas a adoção de determinadas medidas pode contribuir para redução dos riscos. Entre elas estão, por exemplo, uma higiene oral cuidadosa que possa ser eficaz e ao mesmo tempo evitar traumas de gengiva e mucosa que possam evoluir para lesões. Pelo mesmo motivo, também é importante que seja feita a manutenção adequada de dispositivos como próteses, aparelhos ortodônticos, entre outros.
Além
disso, é recomendável que o paciente mantenha controle de doenças sistêmicas
instaladas e tenha uma alimentação balanceada, evitando alimentos que podem
desencadear as lesões, como os ácidos, picantes, salgados ou crocantes. Hábitos
de prevenção ao estresse e à ansiedade também são importantes meios de combate
às aftas. Além disso, mulheres com quadros de lesões persistentes também devem
realizar investigações de possíveis descompensações hormonais.
“A partir da
anamnese e avaliação clínica, o cirurgião-dentista terá condição de determinar
o melhor tratamento. Também poderá avaliar se a abordagem terapêutica será
unicamente no âmbito da Odontologia ou, no caso de pessoas com doenças
associadas, se também haverá necessidade de encaminhamento para outras áreas da
Saúde. O importante é que o paciente procure o atendimento odontológico para
que possa ser orientado adequadamente e tratar as aftas de forma correta”,
conclui o secretário do CFO, Roberto de Sousa Pires.
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