Psicanalista explica como o imediatismo presente
nas crianças hoje em dia pode ser trabalhado por meio do exemplo dos próprios
pais em busca de uma relação mais saudável com o tempo
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Na
era moderna, nossos filhos estão cercados por tecnologia avançada. Tudo é
rápido, colorido e disponível ao toque de um botão: vídeos mudam em segundos,
jogos instantâneos, informações infinitas. E nessa realidade acelerada, não é
surpreendente que eles desenvolvam a expectativa de que a vida também seja e
será assim – aqui e agora, sem esperar, imediatamente.
“De acordo com a
abordagem de Alfred Adler, fundador da Psicologia Indivudual, há um propósito
por trás de cada comportamento. Uma criança que exige tudo imediatamente não é
apenas ‘mimada’ ou ‘impaciente’ – ela quer se sentir pertencente, importante e
significativa. A exigência não advém da preguiça, mas da crença de que, dessa
forma, conquistará seu lugar na família ou a atenção de que necessita”, explica
Yafit Laniado, psicanalista e hipnoterapeuta, criadora da Relacionamentoria,
consultoria especializada no relacionamento entre pais e filhos.
Yafit
destaca que é nesse lugar que a responsabilidade parental entra em jogo. “Adler
nos ensina que a maneira mais eficaz de educar não é por meio de palavras, mas
pelo exemplo pessoal. Assim, se nós, como pais, nos apressamos, nos
enfurecemos, exigimos satisfação rápida ou reclamamos quando as coisas atrasam,
não é de se admirar que nossos filhos também se comportem dessa maneira. Por
outro lado, quando conseguimos demonstrar calma, paciência, adiar a
gratificação e uma perspectiva mais ampla da realidade, as crianças, na
verdade, aprendem conosco como se comportar.”
As
crianças não precisam de longos sermões sobre a importância da paciência,
necessitam nos ver praticando-a. “Escolher esperar na fila sem reclamar,
prestar atenção à nossa conversa com nossos parceiros ou à tecnologia, que por
vezes também pode apresentar lentidão, ou ainda saber como adiar o atendimento
ao telefone para encerrar uma conversa presencial são exemplos práticos em
nosso cotidiano onde podemos demonstrar aos nossos filhos como desacelerar,
deixando uma grande marca”, descreve Yafit.
Com os adolescentes, a psicanalista ressalta que o quadro é semelhante. “O desejo imediato se expressa na demanda por sair, sacar dinheiro, comprar ou usar telas ‘agora’. Se conseguirmos mostrar a eles, por meio do nosso comportamento, que há valor na paciência, na contenção e no processo, eles internalizarão isso, mesmo que não imediatamente.”
Yafit reforça que a principal mensagem para os pais é simples, mas desafiadora: nossos filhos aprendem mais com o que fazemos do que com o que dizemos. “Portanto, a maneira de ajudá-los a lidar com o mundo acelerado e de gratificação instantânea em que vivemos, em primeiro lugar, está nas nossas mãos”, conclui.
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