Misturas perigosas, falsificações e desidratação aumentam os riscos à saúde durante o carnaval
Durante o verão e o Carnaval, o abuso de álcool e drogas ilícitas
se torna um problema recorrente. O clima quente e a animação da festa muitas
vezes levam as pessoas a ingerirem grandes quantidades de substâncias, sem
considerar os riscos à saúde. O uso abusivo dessas substâncias pode levar a
quadros de overdose e intoxicações severas, exigindo intervenção médica e
hospitalar. Além disso, o consumo excessivo de álcool e drogas está associado a
acidentes de trânsito, comportamentos de risco e maior vulnerabilidade a crimes
e abusos.
De acordo com Alvaro Pulchinelli Jr., médico toxicologista, patologista
clínico e presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina
Laboratorial (SBPC/ML), a mistura de diferentes drogas pode ser ainda mais
perigosa. “O efeito principal será determinado pela substância consumida em
maior quantidade ou para a qual o indivíduo tem maior sensibilidade”, destaca o
especialista. Por exemplo, a combinação de cocaína (estimulante) com fentanil
(depressor do sistema nervoso central) pode gerar efeitos imprevisíveis,
incluindo paradas respiratórias. Já a combinação de maconha, crack ou cocaína
com álcool potencializa os efeitos das drogas, podendo aumentar a toxicidade e
os riscos de overdose.
As bebidas falsificadas são outro perigo, porém mais silencioso. O
crime organizado tem investido na falsificação de bebidas alcoólicas no Brasil,
tornando esse um risco real para os foliões. Whiskies, vodkas e até cervejas
falsificadas podem conter substâncias altamente tóxicas, como metanol e
etilenoglicol, usadas na adulteração para baratear os custos de produção. “Esse
é um risco silencioso porque a pessoa não percebe que está consumindo uma
bebida falsificada, pois o gosto é praticamente idêntico ao da original”,
alerta Pulchinelli Jr.
Segundo o médico da SBPC/ML, os danos ao organismo podem ser
graves. “O metanol, por exemplo, pode causar desde um quadro de embriaguez até
coma e cegueira irreversível. Já o etileno-glicol pode levar à insuficiência
renal e até à morte”, explica o toxicologista, acrescentando que é essencial
que as pessoas só consumam bebidas de procedência confiável, evitando produtos
vendidos de forma clandestina ou em locais suspeitos.
Além disso, há ainda a combinação do calor mais o consumo
excessivo de álcool que é uma combinação também perigosa. “O álcool inibe um
hormônio chamado antidiurético, levando à desidratação pelo aumento da produção
de urina. Quando somamos isso às altas temperaturas e ao suor excessivo, temos
um risco ainda maior de desidratação severa”, ressalta Pulchinelli Jr. A
desidratação pode causar tonturas, confusão mental, queda de pressão e até
desmaios, agravando o risco de acidentes.
E para minimizar esses riscos, o especialista recomenda intercalar
o consumo de álcool com água ou sucos naturais e evitar bebidas energéticas,
que podem sobrecarregar ainda mais o organismo. "Manter uma alimentação
equilibrada pode ajudar a metabolizar melhor as substâncias ingeridas",
acrescenta o especialista da SBPC/ML.
Pulchinelli Jr explica ainda que se alguém apresentar sinais de
intoxicação por álcool ou drogas, como inconsciência, convulsões, sudorese
intensa ou dificuldade para respirar, é fundamental buscar socorro médico
imediatamente. “Nesses casos, a pessoa deve ser mantida deitada, com a cabeça
virada para o lado, para evitar a aspiração de vômito. Não se deve oferecer
café, água ou qualquer outro líquido, pois isso pode agravar a situação”,
orienta, acrescentando que no Carnaval, a folia pode ser intensa, mas a
segurança deve vir em primeiro lugar. “Consumir bebidas de procedência
confiável, evitar misturar substâncias e manter-se hidratado são medidas
essenciais para aproveitar a folia sem colocar a saúde em risco", alerta.
SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial
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