Médica nutróloga com visão em abordagens de
saúde integrativa, Ellen Durães explica como a boa escolha dos alimentos e
nutrientes influencia o desempenho cerebral
É impossível
falar sobre saúde física e mental sem considerar o impacto da nutrição nas
funções metabólicas. A expressão "você é o que você come" ecoa há
gerações, mas, à luz da ciência moderna, ela assume um novo significado. Diversos
estudos têm confirmado que o que ingerimos é crucial para a nossa capacidade de
concentração, memória, controle do estresse e até na forma como lidamos com
conflitos diários.
Uma
alimentação inadequada não só compromete a função corporal, mas pode também ser
o principal sabotador da nossa saúde mental. Por exemplo, estudos apontam que o
consumo excessivo de açúcar está relacionado a alterações no hipocampo, uma
área do cérebro fundamental para a memória e aprendizado. Ou seja, a escolha
por alimentos desta espécie pode estar comprometendo sua capacidade de pensar
de forma clara e manter o foco nas tarefas diárias.
“Dietas
ricas em alimentos industrializados, frituras e outros maus compostos estão
associadas a um aumento do risco de desenvolver depressão, ansiedade e declínio
cognitivo. A inflamação crônica gerada por esse tipo de alimentação afeta
diretamente a função cerebral, causando uma neuroinflamaçao que prejudica a
comunicação entre os neurônios e dificulta a capacidade de raciocínio e
memória”, explica a médica nutróloga Ellen Durães, que trata seus pacientes de
uma forma global e integrativa.
Por outro
lado, alimentos ricos em nutrientes essenciais podem funcionar como verdadeiros
"combustíveis cerebrais". O ômega 3, por exemplo, é um ácido graxo
presente em peixes como o salmão e a sardinha, além de algumas sementes como a
chia e a linhaça. Estudos comprovam que ele tem um papel fundamental na
manutenção da função cerebral e na prevenção de doenças neurodegenerativas,
como o Alzheimer. A pesquisa publicada na Frontiers in Aging Neuroscience
sugere que o ômega 3 melhora a plasticidade cerebral e facilita a comunicação
entre os neurônios, resultando em uma melhor performance cognitiva.
Ellen
continua esclarecendo que o que ingerimos, tanto na forma de alimentos como de
suplementos pode interferir na performance mental e funções cognitivas. “A
nutrição afeta o bem-estar mental e nos lembra de como o copo e a mente são
interdependentes. Assim como uma alimentação inadequada pode causar doenças
físicas, a falta de nutrientes essenciais pode prejudicar o equilíbrio
emocional e psicológico. Vitaminas e nutrientes estão relacionados com a produção
de neurotransmissores como serotonina e dopamina, que são fundamentais para o
controle do humor e redução do risco de depressão e ansiedade. Além disso,
quando existe uma harmonia e equilíbrio nas funções cerebrais, há maiores
possibilidades de melhorar a performance mental. A performance seria maiores
habilidades cognitivas, como capacidade de lidar melhor com estresse e
desafios, melhor capacidade de aprendizado, memória, foco, concentração e
produtividade."
Para a
médica, as vitaminas do complexo B, especialmente a vitamina B12 e o folato (
vitamina B9 ) são essenciais para uma boa saúde mental. Além disso, outros
nutrientes como ômega 3, magnésio e antioxidantes apresentam também importantes
implicações no bom funcionamento cerebral. Segundo a OMS (Organização Mundial
de Saúde) o conceito de saúde mental abrange o bem-estar mental, físico e
social, indo muito além da simples ausência de doença. E o panorama não somente
do Brasil, mas como do mundo aponta para um aumento progressivo de piora da saúde
mental.
"Neste
contexto, em que quadros de ansiedade, depressão, suicídio só aumentam,
torna-se urgente abordar estratégias cruciais para manejo. E a nutrição, algo
tão básico e essencial muitas vezes tem sido negligenciada. Por nutrição, deve
ser entendido não somente o que comemos na forma de alimentos, mas também
aquilo que suplementamos. O melhor nutriente para o cérebro de cada um é aquilo
que está faltando nesta pessoa. Por isso, muitas vezes será necessário alguma
forma de suplementação do nutriente que se encontra em deficiência. As
deficiências são muito mais comuns do que se imagina e estão relacionadas não
somente com hábitos alimentares ruins”, coloca Durães.
“Existem
outras causas como a carência de muitos nutrientes nos alimentos ingeridos, que
hoje tem apresentado uma concentração cada vez menor de nutrientes importantes.
Além disso, há pessoas que apresentam polimorfismos genéticos e não conseguem
converter algumas vitaminas em formas ativas que realmente funcionam no nosso
corpo. Portanto, diagnosticar as deficiências e fazer as reposições necessárias
é fundamental para que haja sucesso no objetivo buscado”, completa a médica.
A nutróloga
conclui que a conexão entre o que ingerimos e como nos sentimos é inegável. “A
ciência tem mostrado cada vez que nutrientes são essenciais para boa
performance mental, proporcionando maior clareza e produtividade e além disso,
auxiliando na prevenção e no tratamento de doenças já instaladas. A velha
sabedoria popular nunca foi tão atual: de fato, você é o que você come.
Alimentar-se de maneira consciente e fazer uma suplementação personalizada é
garantir não apenas um corpo em forma, mas uma mente afiada, pronta para lidar
com os desafios diários com mais resiliência”, finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário