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sábado, 27 de julho de 2024

Uma viagem sinestésica chamada Avós

Se tem uma palavra na língua portuguesa que cheira a bolo de cenoura com cobertura de chocolate e bolinho de chuva polvilhado com açúcar, é o vocábulo "avós". E pensar que todo esse mar de água doce, repleto de ondas do tamanho da imaginação e do poder lúdico das princesas e dos heróis, cabe em apenas quatro letras.  

Letras essas que, justiça seja feita, deveriam entrar para a classe dos adjetivos! E dos mais positivos, por sinal. Pensa só: a pessoa acorda num domingo ensolarado, abre a janela, estica as pernas inchadas pelo calor da velocidade do tempo e os punhos com túnel de carpo e, ainda assim, consegue pensar: “Nossa! Hoje estou tão avós!”. 

O primeiro motivo para que essa mudança aconteça é bem claro, e ai do filho, filha, nora ou genro que entrar na frente com um “não”. Avós tudo fazem, ainda que cansados e querendo deitar no sofá para dormir, digo, assistir qualquer coisa na TV, mandar mensagem bíblica com florzinha para a Arlete da hidro ou cochilar, ops, acompanhar o último capítulo da novela das seis do canal cinco. 

Vocês já pararam pra pensar que, se toda a turma engravatada, lá pelas bandas de Brasília, tivesse metade da agilidade deles, a mesma que faz surgir aquele bolo de cenoura com cobertura de chocolate em menos de 20 minutos, os problemas estariam resolvidos? E falando em comida, não posso deixar de mencionar o olhar de desnutrição que eles têm para com os netos: “Tão magrinho, meu filho. Vem cá comer um pote de biscoito de nata.” 

Avós também têm um "Q" de David Copperfield! A diferença é que, na magia da galera da plantação de algodão na cabeça, as coisas são reais. Parte dela, dessa magia, é atribuída à capacidade que eles têm de gerar ideias que possam entreter os rebentos de suas crias.  

É deles também o título de melhores companhias para ir aos estádios de futebol ver o time do coração jogar. “Quando eu tinha a sua idade, os jogadores entravam em campo com mais raça”, esbraveja ou esbravejam após o jogador perder um gol feito.  

Mas, em outra ocasião, a bola entra “onde a coruja dorme”. Isso ocorre quando o campo é de tecido ou de madeira, o guarda-metas é uma caixa de fósforos, os jogadores são de botão e não há juiz com coragem para apitar o final do jogo, pelo menos até que alguma coisa saia quentinha do forno. Aí é jogo baixo mesmo.   

Falando em final e em jogo, diferente dos contos antes de dormir, onde o casal de protagonista vive feliz para sempre, avós e netos um dia se separam fisicamente. No entanto, acredito que, de um jeito ou de outro, no ir e vir da vida, a ligação é mantida. A afinidade cuida do resto, para que eles se reconheçam. E se encontrem. E se reencontrem.  

Avós não são parentes, são adjetivos.

Que hoje, amanhã e sempre a gente possa acordar em pleno estado de espírito de avós. 


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