Estamos preparados para o aumento da expectativa de vida,
envelhecimento populacional e a transição demográfica da pirâmide etária do
país? Não, não estamos! De acordo com o dicionário Michaelis, longevidade é a
“duração mais longa que o normal da vida de uma pessoa”. No entanto, essa
definição simplista não captura a complexidade e a profundidade do que
significa viver por muitos anos. Ela não se refere apenas ao tempo vivido, mas
também à qualidade de vida durante esse tempo. Afinal, não basta viver por
muitos anos, é essencial viver bem e sentir-se produtivo.
O Brasil está envelhecendo rapidamente. De acordo com projeções
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo com mais de
65 anos representará mais de um quarto da população em 2060. Esse aumento é
atribuído à maior expectativa de vida e à queda da taxa de natalidade, o que
traz uma série de desafios e oportunidades que precisam ser endereçados com
políticas públicas eficazes e uma visão estratégica de longo prazo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o envelhecimento
saudável como o “processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade
funcional que permite o bem-estar na idade avançada”. Isso implica que essa
fase da vida, embora inevitável, não precisa ser marcada por declínios
debilitantes, mas pode ser acompanhada de bem-estar e atividades que continuem
enriquecendo-a.
Mas a mudança na pirâmide etária terá impactos profundos na
economia e no mercado de trabalho. Com um número crescente de idosos e uma redução
do número de pessoas jovens, haverá uma maior pressão sobre os sistemas de
previdência e saúde. Como, por exemplo, o aumento de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNTs) e outras condições associadas à maior idade. Nesse
contexto, a Secretaria do Tesouro Nacional prevê um gasto adicional de R$ 50
bilhões em saúde até 2027.
O perfil do idoso também está mudando. Hoje, são pessoas mais
ativas, conectadas e desejam continuar contribuindo com a sociedade. Isso gera
a necessidade de criar espaços e oportunidades que incentivem a participação
dos maiores de 60 anos no mercado de trabalho e na comunidade, valorizando sua
experiência e conhecimento. Além disso, a longevidade precisa ser acompanhada
de investimentos em saúde que promovam a prevenção e o gerenciamento eficaz de
soluções que visem a melhoria da qualidade de vida.
O envelhecimento da população tem implicações também para a
educação. Com menos jovens nas escolas, haverá uma menor demanda por
infraestrutura educacional básica e fundamental, no entanto, aqueles que estão
em formação de nível superior, incluindo os futuros profissionais de saúde, já
necessitam desenvolver competências que os habilitem a cuidar, promover o
bem-estar, manter a qualidade de vida e atuar na prevenção de doenças. Ou seja,
eles devem estar preparados para usar os novos recursos terapêuticos,
tecnológicos e as inovações no atendimento integral dessa população
"envelhecida".
Para isso, é essencial que as instituições de ensino promovam
capacitações e debates sobre a mudança da pirâmide etária do país e do mundo,
tornando todos os envolvidos na área da saúde conscientes sobre o impacto de
viver por maior tempo e reforçando a utilização de inteligência emocional,
ferramentas e inovações tecnológicas e conhecimento técnico profundo para
adotar as melhores práticas neste novo contexto social.
Como instituição de ensino, é necessário abordar as competências
e possíveis mudanças nos currículos. O ensino superior brasileiro ainda não
está totalmente preparado para essa realidade. Os parâmetros regulatórios
engessam as possibilidades de transformação e a sociedade ainda enfrenta
estranhamento em relação às formações disruptivas. Precisamos quebrar
paradigmas e barreiras para desenvolver futuros profissionais de saúde e cidadãos
preparados para uma sociedade longeva.
A longevidade é um desafio que exige uma resposta integrada, multiprofissional
e multifacetada. O Estado, a sociedade e cada um de nós devemos estar
preparados para enfrentar as implicações desse fenômeno. Isso inclui rever as
políticas públicas, investir em sistemas de saúde resilientes, promover a
educação continuada e criar uma cultura que valorize e apoie o envelhecimento
saudável. E isso precisa ser logo.
Patrícia Klahr - Pró-Reitora de Ciências da Saúde no Centro Universitário Facens
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