COM A CIA. QUINTAL DAS ARTES CULTURA E ENTRETENIMENTO (RJ)
Em curta temporada no Sesc Pinheiros montagem aborda a questão do extermínio da juventude negra no país, entrelaçando relatos da personagem ancestral Luiza Mahin a de outras mulheres negras
O espetáculo Luiza Mahin ...eu ainda continuo aqui, da companhia carioca Quintal das Artes Cultura e Entretenimento, chega ao Sesc Pinheiros para curta temporada. A montagem que já esteve em cartaz no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, passando pelas cidades de Santo André e Sorocaba, em São Paulo, estreia para o público paulistano na sexta-feira,12 de julho, seguindo com as apresentações no sábado e domingo. A peça é uma tragédia contemporânea que traz o relato de várias mães acerca do extermínio da juventude negra no país, bem como o desaparecimento destes jovens oriundos de comunidades e periferias.
Em
cena, mulheres negras contemporâneas, vítimas do extermínio de seus filhos e do
feminicídio traz à tona o massacre de jovens das periferias, e joga luz sobre
essa separação cíclica que acomete as populações negras há séculos, desde a
travessia do Atlântico, nas diásporas. A montagem promove um cruzamento entre
os relatos destas mães com a personagem Luiza Mahin, nascida no início do
século XIX, mãe do advogado abolicionista e jornalista Luiz Gama (1830-1882), vendido como escravo pelo próprio
pai.
Mahin surge como uma voz ancestral que, conhecendo a dor da perda de um filho,
vem para acalentar estas mulheres. Com sua existência até hoje posta em dúvida,
Luiza Mahin, que ficou conhecida como revolucionária na Revolta dos Malês (1835
- BA), representa para a comunidade negra o ideário de uma ancestral guerreira,
símbolo de força e inspiração para as mulheres negras.
O
espetáculo, de forte cunho emocional, tem trilha sonora original cantada ao
vivo pelas atrizes. A percussão com os tambores reforça o lamento ancestral da
mãe África, através da presença da experiente percussionista Regina Café. O
figurino e suas cores vibrantes enaltecem ainda a qualidade artística,
reforçando o universo da tragédia e as subjetividades de cada uma destas mães,
bem como o desenho de luz sombreada que enfatiza o clima entre o passado e o
presente.
A
companhia carioca carrega no canto, na música e nas palavras essas vivências
ancestrais que se encontram no mesmo destino trágico. Conectam o relato de
Mahin ao lamento de mães cujos filhos foram vítimas do genocídio em curso no
país e clamam pelo fim da violência policial e patriarcal. Erguem a voz em
apelo, súplica e luta.
Luiza Mahin ...eu ainda continuo aqui trata da tragédia contemporânea, diariamente
estampada nos noticiários, e que encontra representação em uma dramaturgia que
dignifica a dor, sabendo que ela não se elabora completamente pela arte,
tampouco conquista apaziguamento pleno nas lutas por justiça racial. No
entanto, o engajamento ainda nesses modos de enfrentamento de um horror que
persiste há séculos, sustenta a aposta na vida e na transformação coletiva.
Para Cyda Moreno, idealizadora e produtora, a chegada da peça à capital reafirma o local como um grande palco para espetáculos que tratam da temática. “Hoje podemos dizer que já temos um público que quer e precisa se ver representado. Conseguimos depois de muita luta realizar uma formação de plateia de negros, afrodescendentes e um público em geral interessado na luta antirracista”, conclui atriz.
A
companhia segue com apresentações nas unidades do Sesc
Bauru , Sesc
Ribeirão Preto.
FICHA TÉCNICA
Texto: Márcia
Santos
Idealização e
produção: Cyda Moreno
Direção artística
e corporal: Édio Nunes
Direção musical e
preparação vocal: Jorge Maya
Elenco: Cyda
Moreno, Marcia Santos, Tais Alves, Jonathan Fontella e Márcia do Valle e Regina
Café
Vozes dos
policiais: Thelmo Fernandes, Marcelo Escorel e Gedivan de Albuquerque
Voz de Luiz Gama:
Deo Garzez
Cenário e
figurinos: Wanderley Gomes
Trilha sonora
original: Jorge Maya e Regina Café
Percussão: Regina
Café
Desenho de luz:
Valdecir correia
Edição de vídeo:
Madara Luiza
Fotografia:
Cláudia Ribeiro
Apoio de pesquisa
histórica e letra música Calma preta: Aline Najara
Direção de
produção: Cyda Moreno
Produção
executiva: Igor Veloso
Técnico de som e
sonoplastia: Thiago Silva/ Felipe Coquito
Técnico de luz e
operação: Rafael Turatti
Produção: Rendah
Promoções e Eventos
Serviço
Luiza Mahin...eu ainda continuo aqui
De 12 a 14 de julho. Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 18h.
Local: Teatro Paulo Autran
Classificação: 14 anos
Duração: 90 minutos
Ingressos: R$ 50 (inteira); R$ 25 (meia) e R$ 15 (credencial
plena)
Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 21h; sábado,
domingo e feriado, das 10h às 18h.
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