Como a
reprodução assistida pode ampliar os horizontes para o planejamento da
maternidade
À medida que avançamos pelo mês de março, dedicado aos
direitos das mulheres, destaca-se a crescente autonomia feminina na decisão
sobre a maternidade. Simbolizando essa liberdade, o congelamento de óvulos
emerge como uma escolha poderosa, permitindo planejar a maternidade nos
próprios termos. Dados da Fiocruz, baseados no DataSus, evidenciam uma
tendência marcante: o percentual de bebês nascidos de mães com 35 anos ou mais
quase dobrou em 20 anos, de 9,1% em 2000 para 16,5% em 2020. O dado reflete uma
mudança nos padrões de fecundidade e sublinha a importância de discutir e
apoiar as escolhas reprodutivas femininas como um aspecto fundamental dos
direitos das mulheres.
Desde a nascença, a biologia feminina estabelece limites
à fertilidade, com mulheres nascendo com uma reserva ovariana finita de 1 a 2
milhões de óvulos. “Essa reserva cai para aproximadamente 250.000 óvulos na
puberdade, devido à perda mensal de óvulos a cada ciclo menstrual,
restando cerca de 500 ciclos menstruais ao longo da vida de uma mulher. À
medida que envelhecemos, principalmente após os 35 anos, a reserva ovariana
diminui, e com ela, a chance de concepção natural”, explica a especialista em
reprodução assistida, Cláudia Navarro.
A médica destaca que o processo de congelamento de óvulos
é uma solução para essa limitação natural: “Ele começa com a estimulação
ovariana, seguida da coleta de óvulos e seu congelamento em nitrogênio líquido
a temperaturas criogênicas. Esses óvulos podem ser armazenados por anos, até
que a mulher decida que chegou o momento certo para a gravidez”.
Apesar da possibilidade de planejar a maternidade,
Cláudia adverte sobre as diretrizes brasileiras, que limitam a realização da
fertilização in vitro (FIV) até os 50 anos de idade, devido aos riscos
associados à gravidez em idades mais tardias. Além disso, ela ressalta a
importância da avaliação da reserva ovariana, um exame que pode orientar sobre
o melhor momento para o congelamento de óvulos, idealmente antes dos 35 anos.
"A preservação da fertilidade por meio do
congelamento de óvulos não é uma garantia de gravidez futura, mas aumenta
significativamente as chances de sucesso. Cada caso é único e requer uma
avaliação cuidadosa, considerando a idade da mulher no momento do congelamento e
outros fatores individuais”, finaliza Navarro.
Ao oferecer às mulheres a opção de congelar óvulos, a
medicina reprodutiva não apenas avança em suas técnicas, mas também no suporte
à autonomia feminina, permitindo que a decisão sobre a maternidade seja feita
sem a pressão do relógio biológico.
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