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4 em cada 10 mulheres estão insatisfeitas em relação ao seu trabalho; 60% desejam mudar situação financeira e 30% querem mudanças no trabalho
Desde o anúncio do fim da pandemia centenas de
estudos e pesquisas tentam entender o comportamento dos brasileiros, seja no
campo físico, mental, comportamental e com isso estabelecer novas formas de
apoio, criar soluções ou mesmo diagnosticar de forma impactante a vida de
todos.
Mas o esgotamento das mulheres na sua maioria está
ligado a endividamento e sobrecarga de atividades diárias. Baixa
remuneração e relação com o trabalho são os itens com piores índices de
avaliação. Segundo dados divulgados pela pesquisa “Esgotadas”, realizada pelo
Laboratório Think Olga de exercícios de futuro, as mulheres não estão
minimamente satisfeitas em nenhuma área da vida. Relação com o trabalho, saúde
emocional, relação com a comunidade, relação consigo mesma/autoestima, relações
familiares e por fim, relações amorosas são outros motivos mencionados pelas
mulheres.
Estrutura financeira é o principal item do
esgotamento, 48% estão com a situação restrita e apertada, 36% com dívidas, 22%
endividamento por conta de terceiros, 18% com medo de enfrentar o desemprego e
10% desemprego do cônjuge ou parente. Fernando Lamounier, educador financeiro e
diretor da Multimarcas Consórcios, explica que o estresse financeiro pode
agravar os problemas de saúde mental: “é importante levar em consideração
que a pessoa com uma saúde mental mais frágil possui a tendência de tomar
decisões financeiras mais prejudiciais, criando um ciclo vicioso difícil de se
quebrar. Sendo necessário buscar uma ajuda profissional, seja de um psicólogo
ou de um consultor financeiro para evitar gastos e dívidas excessivas”, afirma
o especialista.
No trabalho, o esgotamento das mulheres vem da
remuneração baixa (32%), sobrecarga e trabalho doméstico (22%), reforçando que
segundo dados da pesquisa nacional por amostra de domicílio de 2022, as
mulheres gastam 21,4 horas por semana em trabalhos domésticos contra 11 horas
dos homens. A invisibilidade ou falta de reconhecimento no trabalho também gera
desgaste emocional para as mulheres (21%). Para Alex Araujo, CEO da 4Life
Prime Saúde Ocupacional, a amostragem reflete o cansaço da mulher tanto
física quanto mental. “Hoje, grande parte das profissionais mulheres sofrem por
conta das horas excessivas de trabalho e dos trabalhos domésticos, muito
inviabilizados pela sociedade”, diz.
Outro fator que vem adoecendo as mulheres é a
discriminação. 21% das entrevistadas revelam que sente alvo de atitudes
machistas, 9% afirmam ser discriminada por conta da classe social, 4% se sentem
alvos de atitudes racistas. Mesmo antes da pandemia, as mulheres apresentavam
mais transtornos mentais do que os homens: no Brasil, elas representavam 7 em
cada 10 casos de depressão ou ansiedade.
Inúmeros estudos já identificaram que desvantagens
sociais associadas ao gênero feminino, como a maior exposição à violência
doméstica e sexual, oportunidades educacionais e de emprego limitadas e mais
responsabilidades de cuidado, podem contribuir para o aumento do risco de
transtornos mentais entre as mulheres.
Um estudo da FGV apontou ainda para a acentuação da
feminização da fome no Brasil durante a pandemia. A parcela de brasileiros que
não teve dinheiro para alimentar a si ou a sua família em algum momento no ano
anterior à entrevista subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021.Porém, entre os
homens, este percentual permaneceu estável variando entre 27% e 26% no mesmo
período; entre as mulheres se intensificou, saltando de 33% em 2019%, para 47%
em 2021.
A pressão e a preocupação de colocar comida na mesa
e pagar todas as contas da casa e da família recai sobre elas: as mulheres são
as principais ou únicas provedoras em 38% dos lares. Lamounier explica que as
mulheres ainda sofrem com a diferença salarial que afeta o orçamento no fim do
mês. “Além disso, muitas realizam jornadas duplas já que dedicam parte do
seu tempo livre à realização de atividades domésticas, prejudicando o seu
rendimento e concentração no ambiente de trabalho”, destaca Lamounier.
As mulheres seguem ganhando menos que os homens e
são mais impactadas pelo desemprego. Uma brasileira recebe, em média, 78% do
que ganha um homem pelo mesmo trabalho, na mesma função e hierarquia.
Uma nova ideologia neoliberal é o que as mulheres
vêm atravessando com excesso de responsabilidades, acontece que além de ser
mãe, ela tem que performar: tem que estar bonita, jovem, ter uma vida social,
cuidar dos filhos, ser CEO ou ocupar um cargo de liderança em uma empresa,
trabalhar dia e noite etc. As mulheres querem ter filhos, mas sem a cobrança e
expectativa imposta ao sexo feminino.
A obrigação de corresponder aos padrões de beleza
impostos impacta negativamente a saúde mental de 26% das entrevistadas e afeta
sobretudo as mulheres mais jovens. Araujo finaliza que: O acúmulo de atividades
afeta diretamente o desgaste emocional e físico, levando em consideração a
ideologia de uma sociedade patriarcal em que atividades domésticas e cuidados
com os filhos compete exclusivamente à mulher, o desequilíbrio na divisão de
afazeres gera sentimento de injustiça e desvalorização. Não tem como não
refletir no relacionamento do casal”.
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