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quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Sobrecarga de trabalho, baixa remuneração e dívidas são os principais motivos de "esgotamento" das mulheres no Brasil

 

Reprodução - Internet

4 em cada 10 mulheres estão insatisfeitas em relação ao seu trabalho; 60% desejam mudar situação financeira e 30% querem mudanças no trabalho

 

Desde o anúncio do fim da pandemia centenas de estudos e pesquisas tentam entender o comportamento dos brasileiros, seja no campo físico, mental, comportamental e com isso estabelecer novas formas de apoio, criar soluções ou mesmo diagnosticar de forma impactante a vida de todos. 

Mas o esgotamento das mulheres na sua maioria está ligado a endividamento e sobrecarga de atividades diárias. Baixa remuneração e relação com o trabalho são os itens com piores índices de avaliação. Segundo dados divulgados pela pesquisa “Esgotadas”, realizada pelo Laboratório Think Olga de exercícios de futuro, as mulheres não estão minimamente satisfeitas em nenhuma área da vida. Relação com o trabalho, saúde emocional, relação com a comunidade, relação consigo mesma/autoestima, relações familiares e por fim, relações amorosas são outros motivos mencionados pelas mulheres. 

Estrutura financeira é o principal item do esgotamento, 48% estão com a situação restrita e apertada, 36% com dívidas, 22% endividamento por conta de terceiros, 18% com medo de enfrentar o desemprego e 10% desemprego do cônjuge ou parente. Fernando Lamounier, educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios, explica que o estresse financeiro pode agravar os problemas de saúde mental: “é importante levar em consideração que a pessoa com uma saúde mental mais frágil possui a tendência de tomar decisões financeiras mais prejudiciais, criando um ciclo vicioso difícil de se quebrar. Sendo necessário buscar uma ajuda profissional, seja de um psicólogo ou de um consultor financeiro para evitar gastos e dívidas excessivas”, afirma o especialista.

No trabalho, o esgotamento das mulheres vem da remuneração baixa (32%), sobrecarga e trabalho doméstico (22%), reforçando que segundo dados da pesquisa nacional por amostra de domicílio de 2022, as mulheres gastam 21,4 horas por semana em trabalhos domésticos contra 11 horas dos homens. A invisibilidade ou falta de reconhecimento no trabalho também gera desgaste emocional para as mulheres (21%). Para Alex Araujo, CEO da 4Life Prime Saúde Ocupacional, a amostragem reflete o cansaço da mulher tanto física quanto mental. “Hoje, grande parte das profissionais mulheres sofrem por conta das horas excessivas de trabalho e dos trabalhos domésticos, muito inviabilizados pela sociedade”, diz.

Outro fator que vem adoecendo as mulheres é a discriminação. 21% das entrevistadas revelam que sente alvo de atitudes machistas, 9% afirmam ser discriminada por conta da classe social, 4% se sentem alvos de atitudes racistas. Mesmo antes da pandemia, as mulheres apresentavam mais transtornos mentais do que os homens: no Brasil, elas representavam 7 em cada 10 casos de depressão ou ansiedade. 

Inúmeros estudos já identificaram que desvantagens sociais associadas ao gênero feminino, como a maior exposição à violência doméstica e sexual, oportunidades educacionais e de emprego limitadas e mais responsabilidades de cuidado, podem contribuir para o aumento do risco de transtornos mentais entre as mulheres. 

Um estudo da FGV apontou ainda para a acentuação da feminização da fome no Brasil durante a pandemia. A parcela de brasileiros que não teve dinheiro para alimentar a si ou a sua família em algum momento no ano anterior à entrevista subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021.Porém, entre os homens, este percentual permaneceu estável variando entre 27% e 26% no mesmo período; entre as mulheres se intensificou, saltando de 33% em 2019%, para 47% em 2021. 

A pressão e a preocupação de colocar comida na mesa e pagar todas as contas da casa e da família recai sobre elas: as mulheres são as principais ou únicas provedoras em 38% dos lares. Lamounier explica que as mulheres ainda sofrem com a diferença salarial que afeta o orçamento no fim do mês. “Além disso, muitas realizam jornadas duplas já que dedicam parte do seu tempo livre à realização de atividades domésticas, prejudicando o seu rendimento e concentração no ambiente de trabalho”, destaca Lamounier.

As mulheres seguem ganhando menos que os homens e são mais impactadas pelo desemprego. Uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um homem pelo mesmo trabalho, na mesma função e hierarquia.

Uma nova ideologia neoliberal é o que as mulheres vêm atravessando com excesso de responsabilidades, acontece que além de ser mãe, ela tem que performar: tem que estar bonita, jovem, ter uma vida social, cuidar dos filhos, ser CEO ou ocupar um cargo de liderança em uma empresa, trabalhar dia e noite etc. As mulheres querem ter filhos, mas sem a cobrança e expectativa imposta ao sexo feminino. 

A obrigação de corresponder aos padrões de beleza impostos impacta negativamente a saúde mental de 26% das entrevistadas e afeta sobretudo as mulheres mais jovens. Araujo finaliza que: O acúmulo de atividades afeta diretamente o desgaste emocional e físico, levando em consideração a ideologia de uma sociedade patriarcal em que atividades domésticas e cuidados com os filhos compete exclusivamente à mulher, o desequilíbrio na divisão de afazeres gera sentimento de injustiça e desvalorização. Não tem como não refletir no relacionamento do casal”.

 

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