Por baixa cobertura vacinal, doenças erradicadas no Brasil podem voltar; especialista alerta para falsa sensação de segurança
O Dia Nacional da Imunização
será celebrado depois de amanhã (sexta, 09/06). A data tem como
objetivo chamar a atenção para a importância das vacinas, tanto para o
indivíduo quanto para a saúde coletiva.
Manter a vacinação em dia,
inclusive na fase adulta, é um dos melhores métodos para evitar
doenças e infecções. Isso acontece porque ao entrarem no
organismo, as vacinas - que possuem moléculas mortas ou atenuadas - fazem com o
que o sistema imunológico reaja e produza os anticorpos necessários à defesa
contra os agentes, o que torna o corpo imune a eles e às enfermidades que causam.
Pioneirismo há 50 anos
O Brasil foi pioneiro na incorporação de diversas vacinas no calendário do Sistema Único de Saúde (SUS) e é um dos poucos países no mundo que oferecem de maneira universal um rol extenso e abrangente de imunobiológicos.
Criado em 1973, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza gratuitamente mais de 300 milhões de doses de vacinas anuais para os estados e municípios, visando a imunização de crianças, adolescentes, adultos e idosos em todo território nacional. Atualmente, o PNI oferece 19 vacinas para mais de 20 doenças.
Crédito: Katja Fuhlert-Pixabay
Falsa sensação de segurança
“Em 2023 o PNI vai completar 50
anos, mas atualmente ele é vítima do seu próprio sucesso. A
baixa procura pelos imunizantes pode estar relacionada ao fato de existir toda uma geração
que não precisou lidar com surtos das doenças que hoje são
preveníveis graças ao PNI”, explica o especialista em patologia clínica e
membro do Conselho Regional de Biomedicina do Paraná 6ª Região (CRBM6), Alisson
Luiz Silva.
Outros fatores que contribuem
para a baixa adesão vacinal são falsas informações a respeito da eficácia e
segurança das vacinas, as mentiras e Fake News
que circulam pelas redes sociais. “Temos um paradoxo em plena era digital. O
que teoricamente facilitaria a propagação da informação e do conhecimento às
regiões mais longínquas, tem sido usado para o lado errado. É preciso combater
e punir a desinformação e o desserviço à sociedade”, enfatiza Alisson.
Queda na cobertura vacinal
Em dezembro de 2022, o Instituto
Nacional de Câncer – vinculado ao Ministério da Saúde – lançou o livro Estimativa 2023:
incidência de câncer no Brasil. A obra mostra que são esperados 704
mil novos casos de câncer anuais no país entre 2023 a 2025. As regiões Sul e
Sudeste concentram cerca de 70% da incidência.
“O que mais chama atenção é que o
câncer de colo do útero em algumas regiões é o segundo mais incidente, ficando
atrás somente do câncer de mama. Mas diferente dos outros tipos, o câncer do
colo do útero na maioria das vezes é evitável com a imunização que já é
ofertada no calendário do PNI desde 2014 e tem como público alvo meninos e
meninas entre 9 e 14 anos”, enfatiza o biomédico Alisson Luiz Silva, que também
é especialista em hematologia, banco de sangue e imunologia.
Curiosamente,
dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde apontam
que 87,08% das meninas brasileiras entre 9 e 14 anos receberam a primeira dose
da vacina em 2019. Em 2022, a cobertura caiu para 75,81%. Entre os meninos, a
cobertura vacinal caiu de 61,55% em 2019 para 52,16%, em 2022.
Crédito: Pearson 0612-Pixabay |
Conquistas ameaçadas
O grande salto das vacinações em
massa no Brasil aconteceu a partir de 1980, com a implementação dos Dias
Nacionais da Vacinação como parte da estratégia para erradicar a poliomielite
no Brasil.
Marcado por um forte plano de
comunicação - com a criação do personagem Zé Gotinha, em
1986 – a ação alavancou as coberturas vacinais e levou a doença a ser
considerada oficialmente eliminada do país em 1994.
Em poucos anos, outras
enfermidades também foram erradicadas no país como varíola, difteria, rubéola e
sarampo. Contudo, o Brasil assiste atualmente a uma diminuição gradual nos
índices das coberturas vacinais, de acordo com os dados da Campanha Nacional de Vacinação Contra a Influenza 2023.
“O sarampo foi eliminado do
Brasil em 2016. Porém, a combinação de casos importados, aliados à baixa
cobertura vacinal, resultou num surto da doença. Em 2019 tivemos mais de 20 mil
casos notificados no país”, ressalta Silva. “A baixa adesão ao PNI acende um alerta
e coloca em risco tudo o que já foi conquistado nesses 50 anos”, complementa.
Doenças preveníveis por vacina
Para esclarecer a sociedade, o integrante do CRBM6 menciona algumas doenças que são preveníveis quando se mantém a cobertura vacinal em dia.
“Entre as
diferentes enfermidades que podem ser prevenidas destaco a poliomielite,
tétano, coqueluche, sarampo, rubéola, caxumba, febre amarela, difteria e
hepatite B. Vejam o quanto é fundamental se vacinar para cuidar da saúde
individualmente e também da coletividade como um todo”, completa Alisson Luiz
Silva.
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