Especialista faz
alerta sobre o aumento do uso de analgésicos à base de ópio no Brasil e no
mundo
Sentir dor e, sobretudo, 'conviver' com a dor
sempre foi um problema para parte da população mundial. Nesse contexto, o
tratamento da dor representa um grande desafio para profissionais de saúde ao
redor do globo. O biomédico, mestre e doutor em Ciências (Fisiologia e
Farmacologia) e professor de Enfermagem do Centro Universitário de Brasília
(CEUB) Danilo Avelar comenta a preocupante questão da dependência dos opioides,
um problema de saúde pública em ascensão no Brasil.
Danilo Avelar explica que existem diferentes
classes de medicamentos que aliviam a dor, como os anti-inflamatórios e
analgésicos, entre eles a dipirona e a aspirina, além dos anestésicos com seus
diversos subtipos. Já a morfina tem características moleculares semelhantes ou
derivadas do ópio, substância conhecida por seu notável efeito no sistema
nervoso, inibindo quase completamente a dor - que chegou a protagonizar a
histórica 'Guerra do Ópio'.
Segundo o especialista do CEUB, os opioides são uma
classe de fármacos eficazes no tratamento da dor, porém seu uso inadequado pode
levar à dependência. Um exemplo é o fentanil, substância muito mais potente do
que a própria morfina e que se tornou um preocupante problema de saúde pública,
tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Abuso
de Drogas dos EUA, as mortes por overdose relacionadas ao uso de opioides
aumentaram de 21 mil em 2010 para 80,4 mil em 2021, um crescimento de quase
quatro vezes em pouco mais de uma década. Somente em 2021, mais de 100 mil
óbitos foram registrados nos EUA relacionados à overdose por fentanil e
substâncias similares, representando um aumento de quase 280% em relação a
2016.
"Nos Estados Unidos, há mais de duas décadas,
houve uma promoção indevida do consumo de medicamentos opioides como uma opção
mais viável e fácil para o tratamento da dor. Algumas empresas farmacêuticas
afirmaram que substâncias como a oxicodona eram seguras e não causavam
dependência. Essa abordagem resultou em um aumento alarmante no número de
prescrições desses medicamentos", detalha Avelar.
No caso do Brasil, a popularidade dos opioides
segue crescendo. Entre 2012 e 2018, a venda prescrita de analgésicos à base de
opiáceos ou opioides sintéticos aumentou expressivamente, conforme dados da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com um crescimento de 465%.
De acordo com pesquisa realizada pela Fiocruz em 2019, 2,9% da população já fez
uso ilegal dessas substâncias, sem prescrição médica, um número
significativamente maior do que o de pessoas que utilizam crack ou cocaína.
Investigações realizadas recentemente pela Polícia
Federa em estados brasileiros resultaram na apreensão de lotes irregulares de
fentanil. O biomédico do CEUB considera que esses acontecimentos servem como um
alerta para a possível tendência de aumento na demanda por opioides sintéticos,
tanto de forma legal quanto ilegal, em território nacional. "É crucial
intensificar a vigilância e o controle dessas substâncias, bem como implementar
políticas públicas que garantam o acesso adequado a esses medicamentos para
aqueles que realmente necessitam", alerta.
Segundo Danilo Avelar, além do
aumento da fiscalização nas prescrições e nas liberações dos lotes que saem das
indústrias, associadas a políticas públicas de acesso a essas medicações para
quem realmente precisa, é necessário aumentar as ações de vigilância e o
controle sobre substâncias (farmacêuticas/tóxicas) que podem ser produzidas em
laboratórios clandestinos e vendidas de forma ilegal. "Medidas como estas
são imperativas já nesse momento, para evitar uma 'pandemia de dependência e
mau uso de opioides' no Brasil", pontua o professor.
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