“Diabetes
é uma doença silenciosa só para quem não quer ouvir”, diz a endocrinologista
Claudia Chang
26 de junho é o Dia Nacional do Diabetes, criado em parceria com
o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS). A data tem como
objetivo lembrar sobre a importância da prevenção e dos cuidados que a doença
exige.
Nos últimos dez anos, houve um aumento de 26,61% no número de
pacientes diabéticos no Brasil, segundo dados do Atlas do Diabetes, divulgado
pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês).
De acordo com o estudo, 537 milhões de adultos no país, com
idades entre 20 e 79 anos, vivem com diabetes, representando 10,5% da população
mundial nessa faixa etária. Atualmente, o país ocupa a sexta posição mundial,
com previsão de chegar a 643 milhões (11,3%) até 2030, e 783 milhões (12,2%)
até 2045.
Segundo Claudia Chang, doutora e pós-doutora em Endocrinologia e
Metabologia pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM); o diabetes é uma síndrome metabólica de origem múltipla,
decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer
adequadamente seus efeitos.
“A insulina, produzida pelo pâncreas, é responsável pelo
controle do metabolismo da glicose (açúcar) no sangue. Quando a insulina não é
produzida na quantidade adequada, a metabolização da glicose é comprometida,
causando aumento das taxas de açúcar no sangue (hiperglicemia) de forma
permanente, resultando no diabetes”.
Para Claudia Chang, o grande problema do diabetes são as
complicações que ocorrem ao longo dos anos, quando não há controle da doença.
“Existe muita desinformação sobre o diabetes, o que também contribui para a
falta dos devidos cuidados”.
Sendo assim, a médica listou os principais mitos e verdades que
ainda cercam a doença. Confira:
Diabetes não gera sintomas
MITO GRAVE: “Só para não contrariar essa velha máxima, costumo dizer que
‘diabetes é uma doença silenciosa só para quem não quer ouvir’”, diz a
endocrinologista. Segundo ela, o diabetes tipo 1 causa sintomas como: vontade
de urinar diversas vezes, fome frequente, sede constante, perda de peso sem
motivo aparente, fraqueza, fadiga, nervosismo, mudanças bruscas de humor,
náuseas e vômitos.
Já o diabetes tipo 2 apresenta: infecções frequentes, alteração
visual (visão embaçada/dupla), feridas que demoram para cicatrizar,
formigamento nos pés e nas mãos, e furúnculos. “O problema é que estes sintomas
são vagos, comuns e passam batidos. No entanto, toda doença manda sinais. Quem
conhece minimamente seu corpo, percebe quando há algo de errado. Afinal, ter
estes sintomas frequentemente não é normal”, alerta a endocrinologista.
Diabetes não é uma doença tão grave
Mito:
De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Americana de Diabetes
(ADA), as condições associadas à doença causam mais mortes do que câncer de
mama e Aids, juntas. Duas em cada três pessoas com diabetes morrem em função de
problemas cardiovasculares ou derrame. “Entretanto, se houver tratamento e
controle adequados, é possível prevenir e/ou adiar as complicações”, esclarece
Claudia Chang.
O diabetes tipo 1 e 2 possuem as mesmas origens
Mito:
Apesar de ambos terem relações com fatores genéticos, há diferenças
importantes. O diabetes tipo 1 é autoimune, ou seja, os anticorpos atacam as
células que produzem a insulina. Já o diabetes tipo 2 resulta da resistência à
insulina e da deficiência na secreção de insulina, e é desencadeado,
principalmente, por hábitos nocivos à saúde.
De acordo com Claudia Chang, 90 a 95% dos casos de diabetes são
do tipo 2, que se manifestam predominantemente em pessoas que não possuem bons
hábitos de vida. “Geralmente, envolve obesidade, alimentação inadequada,
sedentarismo, hipertensão, tabagismo, alterações no colesterol, entre outros”.
Gripes são mais perigosas para os diabéticos
Verdade:
Os sintomas da gripe em uma pessoa com diabetes são muito mais agressivos.
“Isso porque, com a diminuição de resposta do sistema imunológico, a gripe pode
não só desestabilizar o controle da glicemia como gerar doenças secundárias,
como a infecção pneumocócica. Por esta razão, os diabéticos são orientados a
tomar vacina contra a gripe”, conta a especialista.
Uma pesquisa realizada pela Associação Americana de Diabetes
constatou uma redução de cerca de 79% no número de internações de pacientes com
diabetes que foram imunizados pela vacina.
Diabéticos podem consumir bebida alcoólica
Verdade (mas...): O álcool não é totalmente restrito. No entanto, se a moderação
já é indicada para quem não tem diabetes, imagine para quem tem? A Associação
Americana de Diabetes recomenda o consumo diário máximo de 1 dose para mulheres
e 2 doses para homens, sendo 1 dose equivalente a 360 mL de cerveja (1 lata),
150 mL de vinho (1 taça) ou 45 mL de destilado.
“A bebida alcoólica aumenta o risco de hipoglicemia,
principalmente em indivíduos que usam insulina ou medicamentos estimulantes do
hormônio. Portanto, se for beber, siga as normas acima”, pontua Claudia Chang.
Diabéticos não têm restrições alimentares
Verdade:
Ao contrário do que se pensa, diabéticos não vivem à base de uma dieta
altamente restritiva. De acordo com a endocrinologista, não há um cardápio
padrão composto por comidas e bebidas permitidas e proibidas.
Segundo ela, o que existe é um planejamento individual, que
respeite as necessidades do paciente, levando em conta o tipo de diabetes,
estilo de vida, rotina de trabalho, hábitos alimentares, nível socioeconômico,
medicação prescrita, entre outros fatores. “A partir daí, o que vale é o bom
senso e a disciplina do paciente. Ou seja, o diabético pode comer de tudo, mas
com responsabilidade, seguindo à risca as porções determinadas pelo seu
médico”.
De qualquer forma, a endocrinologista orienta a fazer sempre
boas escolhas, priorizando alimentos integrais, de origem vegetal (verduras,
legumes, leguminosas, frutas, cereais pouco refinados, castanhas e azeites) e o
consumo de carnes magras.
“Vale lembrar que muitas pessoas têm diabetes e nem imaginam.
Algumas acabam descobrindo ‘ao acaso’, quando vão fazer algum exame de sangue
por outras razões. Daí a importância de passar por consultas periódicas. Essa
ainda é a forma mais segura de prevenção, seja contra o diabetes ou qualquer
outra doença”, finaliza Claudia Chang.
Nenhum comentário:
Postar um comentário