Segundo
pesquisadores, pacientes diagnosticados com o problema neurológico tendem a
triplicar no Brasil até 2050. Sequelas de COVID-19 podem contribuir para
agravamento de casos preexistentes
Ainda cercada de estigmas, a demência é uma doença
neurológica que tem afligido cada vez mais pessoas ao redor do mundo, inclusive
no Brasil. Um estudo recente publicado pela revista científica Lancet estima
que aproximadamente dois milhões de brasileiros sofrem um com alguma das
diferentes variações da enfermidade. Ainda assim, o que mais preocupa são as
projeções futuras feitas pela mesma pesquisa: até 2050, o número de portadores
de demência deve triplicar no País.
Os motivos que explicam este provável aumento são
variados, mas passam pela incorporação de hábitos de saúde pouco saudáveis e
outros fatores de risco. Além disso, um estudo recente realizado por cientistas
indianos e espanhóis trouxe a confirmação de que a COVID-19 pode deixar
sequelas que aceleram a deterioração das capacidades cognitivas de pacientes
com demência preexistente. Este fator deve gerar um aumento de casos da doença
ao longo dos próximos anos, tanto em quantidade quanto em nível de gravidade.
O neurologista credenciado da Paraná Clínicas, Dr.
Eduardo Savoldi (CRM 33.191, RQE 25.506), explica que a demência é uma condição
de saúde que afeta a capacidade do indivíduo de realizar atividades rotineiras
simples, como se vestir ou se alimentar. Ela se manifesta através de um
conjunto de sintomas que podem variar de acordo com o tipo de demência do
paciente, mas em geral os sintomas mais comuns incluem perda de memória,
dificuldade em realizar tarefas conhecidas, mudanças de humor, desorientação
espacial/temporal e dificuldade em se comunicar.
Embora muitos associem a doença a quadros de
envelhecimento, este não é o único fator de risco para o seu desenvolvimento:
“Apesar de ser mais comum em indivíduos mais velhos, há outros pontos que podem
favorecer o surgimento de sintomas de uma de suas variações, tais como
sedentarismo, doenças cardiovasculares e/ou histórico familiar”, conta Savoldi.
Ainda segundo o neurologista, há quatro tipos básicos de demência que, embora
tenham algumas características comuns, se diferenciam em alguns aspectos e são
adquiridas de formas distintas: a demência de Alzheimer, a vascular, a de
corpos de Lewy e a frontotemporal. Esta última ganhou destaque recente em
virtude do caso do ator norte americano Bruce Willis, diagnosticado com a
doença.
Em geral a confirmação de qualquer uma das
variações da doença é feita a partir da avaliação de um médico especialista a
partir da detecção de alguns sintomas e correlação com alguns dos fatores de
risco preexistentes. “Devemos ficar atentos a diminuição lenta e progressiva da
função mental, caracterizada por dificuldades de memória, períodos de
desorientação, mudanças repentinas de humor, repetições de frases e de palavras
da forma errada. Também é importante entender que não é qualquer esquecimento
ou dificuldade de memória recente que caracteriza um possível sintoma de
demência: esquecer onde deixamos o celular, por exemplo, é algo comum que pode
ocorrer com qualquer pessoa. Neste sentido, um sintoma de demência está mais
associado a uma situação onde o indivíduo esquece para que serve ou como
utilizar o celular”, explica o neurologista.
Embora não seja possível prevenir completamente as
chances de adquirir a doença, sobretudo em situações de predisposição genética,
há como atenuar os riscos a partir de uma série de atividades que exercitem e
“fortaleçam” o cérebro: “Assim como nossos músculos que quanto mais
estimulados, mais fortes ficam, nosso cérebro também pode ficar mais
resistente: quanto maior o estímulo, mais forte e menos propenso a demência ele
fica. Ler, resolver problemas mentais (como palavras cruzadas), aprender novas
habilidades, ter um Hobbie (esportes, desafios), ter uma alimentação saudável e
praticar atividade física regular nos ajuda a fortalecer o cérebro”, explica
Savoldi.
Diagnóstico e tratamento
Embora seja um problema de saúde cada vez mais
comum, o diagnóstico da demência não é necessariamente simples. Muitos dos
sinais e sintomas são observados apenas a partir da comparação subsequente de
testes específicos, e a confirmação geralmente só é feita a partir da avaliação
e conversa com um especialista. Não há um exame de sangue ou de imagem que
confirme o diagnóstico de forma desassociada à avalição do médico da área.
Infelizmente não há cura para a demência, só formas
de atenuar os efeitos e a progressão da perda das capacidades cognitivas do
indivíduo afetado: “Atualmente não dispomos de um tratamento curativo, apenas
dispomos de maneiras de controle dos sintomas e terapias que ajudam a retardar
o processo de morte neuronal que leva a demência. Com isso, o paciente
diagnosticado apresenta uma evolução da doença mais lenta, comprometendo menos
sua qualidade de vida”, explica o neurologista, que ainda ressalta a
importância do acolhimento familiar para auxiliar os pacientes a lidarem melhor
com o problema: “Quando falamos de uma doença crônica e progressiva, devemos
ter em mente que ela ultrapassa o indivíduo diagnosticado e pode afetar de
diferentes formas toda a sua estrutura familiar. Ao conhecer adequadamente a
doença, os familiares aceitam melhor o diagnóstico e passam a acolher o doente da
forma correta, permitindo que todos da família possam lidar de forma mais
assertiva e saudável com o problema”, completa.
PALAVRA DO ESPECIALISTA: QUAIS SÃO OS TIPOS DE
DEMÊNCIA MAIS COMUNS?
Demência de Alzheimer – Causada pela degeneração do tecido cerebral a partir do acúmulo de
uma proteína chamada beta-amilóide, ela é caracterizada principalmente pela
dificuldade de memória e desorientação espaço temporal.
Demência Vascular – Originada a partir de múltiplos infartos cerebrais, é marcada pela
dificuldade de aprendizagem, perdas de memória e até epilepsia;
Demência com corpos de Lewy – Gerada pelo acumulo de proteínas que formam os corpos de Lewy, um
agregado de neurofilamentos que ficam nas células do sistema nervoso, ela causa
a morte de neurônios, acarretando em confusão mental e alucinações.
Demência Frontotemporal – Caracteriza-se pela atrofia dos lobos frontais ou temporais,
responsáveis por várias funções cerebrais tais como o comportamento e
linguagem. É marcada principalmente pela mudança comportamental e dificuldade
de fala.
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