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quinta-feira, 15 de junho de 2023

Demência: número de casos da doença deve aumentar nas próximas décadas

Segundo pesquisadores, pacientes diagnosticados com o problema neurológico tendem a triplicar no Brasil até 2050. Sequelas de COVID-19 podem contribuir para agravamento de casos preexistentes

 

Ainda cercada de estigmas, a demência é uma doença neurológica que tem afligido cada vez mais pessoas ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Um estudo recente publicado pela revista científica Lancet estima que aproximadamente dois milhões de brasileiros sofrem um com alguma das diferentes variações da enfermidade. Ainda assim, o que mais preocupa são as projeções futuras feitas pela mesma pesquisa: até 2050, o número de portadores de demência deve triplicar no País.

Os motivos que explicam este provável aumento são variados, mas passam pela incorporação de hábitos de saúde pouco saudáveis e outros fatores de risco. Além disso, um estudo recente realizado por cientistas indianos e espanhóis trouxe a confirmação de que a COVID-19 pode deixar sequelas que aceleram a deterioração das capacidades cognitivas de pacientes com demência preexistente. Este fator deve gerar um aumento de casos da doença ao longo dos próximos anos, tanto em quantidade quanto em nível de gravidade.

O neurologista credenciado da Paraná Clínicas, Dr. Eduardo Savoldi (CRM 33.191, RQE 25.506), explica que a demência é uma condição de saúde que afeta a capacidade do indivíduo de realizar atividades rotineiras simples, como se vestir ou se alimentar. Ela se manifesta através de um conjunto de sintomas que podem variar de acordo com o tipo de demência do paciente, mas em geral os sintomas mais comuns incluem perda de memória, dificuldade em realizar tarefas conhecidas, mudanças de humor, desorientação espacial/temporal e dificuldade em se comunicar.

Embora muitos associem a doença a quadros de envelhecimento, este não é o único fator de risco para o seu desenvolvimento: “Apesar de ser mais comum em indivíduos mais velhos, há outros pontos que podem favorecer o surgimento de sintomas de uma de suas variações, tais como sedentarismo, doenças cardiovasculares e/ou histórico familiar”, conta Savoldi. Ainda segundo o neurologista, há quatro tipos básicos de demência que, embora tenham algumas características comuns, se diferenciam em alguns aspectos e são adquiridas de formas distintas: a demência de Alzheimer, a vascular, a de corpos de Lewy e a frontotemporal. Esta última ganhou destaque recente em virtude do caso do ator norte americano Bruce Willis, diagnosticado com a doença.

Em geral a confirmação de qualquer uma das variações da doença é feita a partir da avaliação de um médico especialista a partir da detecção de alguns sintomas e correlação com alguns dos fatores de risco preexistentes. “Devemos ficar atentos a diminuição lenta e progressiva da função mental, caracterizada por dificuldades de memória, períodos de desorientação, mudanças repentinas de humor, repetições de frases e de palavras da forma errada. Também é importante entender que não é qualquer esquecimento ou dificuldade de memória recente que caracteriza um possível sintoma de demência: esquecer onde deixamos o celular, por exemplo, é algo comum que pode ocorrer com qualquer pessoa. Neste sentido, um sintoma de demência está mais associado a uma situação onde o indivíduo esquece para que serve ou como utilizar o celular”, explica o neurologista.

Embora não seja possível prevenir completamente as chances de adquirir a doença, sobretudo em situações de predisposição genética, há como atenuar os riscos a partir de uma série de atividades que exercitem e “fortaleçam” o cérebro: “Assim como nossos músculos que quanto mais estimulados, mais fortes ficam, nosso cérebro também pode ficar mais resistente: quanto maior o estímulo, mais forte e menos propenso a demência ele fica. Ler, resolver problemas mentais (como palavras cruzadas), aprender novas habilidades, ter um Hobbie (esportes, desafios), ter uma alimentação saudável e praticar atividade física regular nos ajuda a fortalecer o cérebro”, explica Savoldi.


Diagnóstico e tratamento

Embora seja um problema de saúde cada vez mais comum, o diagnóstico da demência não é necessariamente simples. Muitos dos sinais e sintomas são observados apenas a partir da comparação subsequente de testes específicos, e a confirmação geralmente só é feita a partir da avaliação e conversa com um especialista. Não há um exame de sangue ou de imagem que confirme o diagnóstico de forma desassociada à avalição do médico da área.

Infelizmente não há cura para a demência, só formas de atenuar os efeitos e a progressão da perda das capacidades cognitivas do indivíduo afetado: “Atualmente não dispomos de um tratamento curativo, apenas dispomos de maneiras de controle dos sintomas e terapias que ajudam a retardar o processo de morte neuronal que leva a demência. Com isso, o paciente diagnosticado apresenta uma evolução da doença mais lenta, comprometendo menos sua qualidade de vida”, explica o neurologista, que ainda ressalta a importância do acolhimento familiar para auxiliar os pacientes a lidarem melhor com o problema: “Quando falamos de uma doença crônica e progressiva, devemos ter em mente que ela ultrapassa o indivíduo diagnosticado e pode afetar de diferentes formas toda a sua estrutura familiar. Ao conhecer adequadamente a doença, os familiares aceitam melhor o diagnóstico e passam a acolher o doente da forma correta, permitindo que todos da família possam lidar de forma mais assertiva e saudável com o problema”, completa.

 

PALAVRA DO ESPECIALISTA: QUAIS SÃO OS TIPOS DE DEMÊNCIA MAIS COMUNS?

Demência de Alzheimer – Causada pela degeneração do tecido cerebral a partir do acúmulo de uma proteína chamada beta-amilóide, ela é caracterizada principalmente pela dificuldade de memória e desorientação espaço temporal.

Demência Vascular – Originada a partir de múltiplos infartos cerebrais, é marcada pela dificuldade de aprendizagem, perdas de memória e até epilepsia;

Demência com corpos de Lewy – Gerada pelo acumulo de proteínas que formam os corpos de Lewy, um agregado de neurofilamentos que ficam nas células do sistema nervoso, ela causa a morte de neurônios, acarretando em confusão mental e alucinações.

Demência Frontotemporal – Caracteriza-se pela atrofia dos lobos frontais ou temporais, responsáveis por várias funções cerebrais tais como o comportamento e linguagem. É marcada principalmente pela mudança comportamental e dificuldade de fala.

 

Paraná Clínicas
panaclinicas.com.br


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