Nas últimas semanas, Vinícius Jr., brasileiro contratado pelo Real Madrid, tem sido novamente vítima de ataques racistas. Este foi apenas o capítulo mais recente de uma longa série de violências sofridas por ele em partidas disputadas ao longo dos últimos meses. Para muitos especialistas, embora a solução para crimes como esse esteja longe de ser simples, ela passa, necessariamente, pela escola.
Para a coordenadora do ErêYá - Grupo de Estudos em
Educação para as Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Lucimar Rosa Dias, “nós estamos vivendo um momento em que, além das
pessoas negras, outros indivíduos estão percebendo a importância de falar sobre
racismo. Precisamos de uma Educação que respeite o ser humano na sua completude
e o Brasil tem uma história de desrespeito à população negra e indígena”.
Assim, a escola é o ambiente ideal para começar a discutir problemas como esse.
Isso porque a própria Educação nem sempre funciona como deveria. Um levantamento
realizado pelo Todos Pela Educação, em 2020, apontou que cerca de 74% dos
jovens brancos concluíram o Ensino Médio com até 19 anos, enquanto apenas 53%
dos jovens negros e 57% dos pardos finalizaram os seus estudos.
“O Brasil é, hoje, a maior nação negra fora da
África. Portanto, esse percentual de pessoas que não concluem seus estudos
básicos deveria ser algo chocante, pois naturaliza a estrutura de privilégios
por conta da cor”, avalia o assessor de História da Aprende Brasil Educação,
professor Altemir Schwarz. Ele lembra que é importante repensar constantemente
a sociedade e a cultura para que esses abismos possam ser transpostos, uma vez
que o racismo se constitui em um sistema de opressão que nega direitos, entre
eles a educação.
Lucimar explica que, na verdade, é necessário
começar a falar sobre isso em casa, desde a primeira infância. “Esses processos
acontecem no âmbito familiar, mas também nas instituições educacionais, porque
as crianças hoje vão muito cedo para a escola e, se é uma criança negra, ela
precisa ter um repertório para entender que vive em um país racista, mas também
para entender que ela pode se considerar uma pessoa bonita, inteligente, que
pode ser o que ela quiser, desde muito pequenina”, afirma.
Educação antirracista
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a população brasileira tem 56% de negros, um percentual
muito mais alto que o dos Estados Unidos, por exemplo, que é de apenas 13%.
“Mesmo com a maior parte dos brasileiros se reconhecendo como negra, ainda há
um enorme estigma ligado a essas pessoas. Mesmo quando o negro consegue alguma
mobilidade social, que é o caso do Vini Jr., por exemplo, ainda há quem não o
veja como merecedor dos espaços que ocupa”, destaca Schwarz. Ele diz, ainda,
que um ambiente diverso, como é a escola, tem muito potencial para reduzir
preconceitos e construir uma sociedade mais humanizada. “Na escola temos,
juntas, pessoas muito diferentes entre si. Então essa é uma ótima oportunidade
para demonstrar que, apesar das diferenças, todos devem ser respeitados”,
completa.
Nesse sentido, Lucimar lembra que uma educação
antirracista é feita de bons exemplos. “Não adianta dizer a meu filho que ele
não pode discriminar, se eu tratar pessoas negras como cidadãs de segunda
categoria”, ressalta. É preciso, então, garantir que as crianças vejam - e não
apenas ouçam - os adultos com quem convivem sendo antirracistas no dia a dia.
Ao mesmo tempo, as crianças também trazem questionamentos para a família sobre
determinados valores. “A vida é feita de incoerências, mas a gente tem que
perseguir essa coerência com a justiça social e com a solidariedade. O racismo
opera nas relações, então eu preciso estar o tempo todo me olhando, me
perguntando como mãe, como pai, como avô e também olhando e perguntando para
esse meu filho o que ele está fazendo da sua vida em termos de constituição de
humanidade”, finaliza.
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