Aumento de casos de suicídio no Brasil acende alerta para prevenção
No
próximo dia 10 de setembro, acontece o Dia Mundial de Prevenção ao
Suicídio.
Dados
divulgados em julho deste ano pelo DataSUS apontam que o número de casos de
suicídio no Brasil subiu de 7 mil para 14 mil nos últimos 20 anos, resultando
em mais de um suicídio cometido a cada hora, sem contar casos não notificados.
Trata-se de um resultado maior do que mortes por acidentes de moto ou por HIV
no mesmo período, o que acende um alerta sobre o tema e sua prevenção.
Estamos
em um momento importante para a discussão e fortalecimento de ações que
informem a população e que ajudem a prevenir o ato. Além disso, percebo que
ainda existe um tabu em torno do tema. Portanto, orientar a sociedade a como
identificar sinais de alerta e como ajudar pessoas com risco de cometer
suicídio é muito importante.
Vale
lembrar que, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria
com o Conselho Federal de Medicina, organiza a campanha Setembro Amarelo, que
tem como foco a prevenção do suicídio. Além disso, por meio do telefone
188, o CVV (Centro de Valorização da Vida) presta um importante serviço ao
oferecer atendimento telefônico gratuito para apoio emocional e prevenção ao
suicídio.
A
importância da informação e de uma rede de apoio
De
acordo com a Organização Mundial da Saúde, mesmo antes da pandemia de Covid-19,
que gerou aumento expressivo nos casos de transtornos mentais, quase 1 bilhão
de pessoas viviam com algum transtorno. Na América Latina, a piora da
desigualdade, violência e ineficiência de planos de prevenção fez com que, no
primeiro ano da pandemia, as taxas de depressão e ansiedade subissem 25% em um
momento em que os recursos de saúde estavam direcionados ao combate da
Covid-19.
Apesar
de a pandemia ter intensificado desafios já existentes, com o aumento de
doenças, imposições sanitárias, mudanças do estilo de vida, entre outros, houve
também, no período de 2019 a 2021, um aumento no compartilhamento de
informações na internet sobre cuidados com a saúde mental e suicídio. Esta
troca de informações é positiva, pois como estamos nos comunicando e nos
organizando enquanto indivíduos e enquanto sociedade, é o que determina o
impacto que sofremos.
Intensa
identificação com problemas e incapacidade de ser ver separado deles
Em
alguns casos, a pessoa com ideação suicida deixa claro em seu discurso a
insatisfação pessoal por meio de queixas constantes, comparações em que se vê
em posição inferior e/ou como vítima. Os pensamentos suicidas têm relação
direta com o desejo da não existência e podem ser desencadeados pela
resistência ou dificuldade em lidar com a dor ou adversidades da vida,
independente se a causa for a depressão, ansiedade ou mania.
Nesse
sentido, existem alguns sinais que merecem atenção. Pela minha experiência,
pessoas com um nível de ansiedade grande tendem a se isolar do contato social,
enquanto que as com depressão podem se tornar extremamente falantes na
tentativa de disfarçar sentimentos.
Porém,
no momento em que a pessoa se identifica totalmente com os seus problemas e sofre
com bloqueio cognitivo que a incapacita de se ver separada deles, o desejo por
não existir se intensifica.
Tratamento
psicológico e rede de apoio
Quando
a pessoa dá sinais de alerta, a busca por um (a) profissional de saúde deve ser
imediata, visando apoiar o processo de reabilitação, a busca por um tratamento
que ajude a aumentar os fatores de proteção e diminuir os riscos de suicídio.
Além disso, quanto mais pessoas envolvidas no processo de tratamento de pessoas
com ideação suicida, melhor!
Muitas
empresas, inclusive, já demonstram preocupação com relação ao tema por meio do
aumento do investimento corporativo em benefícios que oferecem consultas
psicológicas para seus (as) colaboradores (as), por exemplo.
O
processo de pensar sobre o suicídio ocorre de maneira cíclica, na interação
entre corpo e mente, e geralmente envolve um ciclo de alimentação e sono ruim
que prejudicam a qualidade da produção hormonal, provocam pensamentos negativos
e sentimentos de estresse e angústia, prejudicando a qualidade de vida em um
círculo vicioso. Por isso, nossos cuidados devem sempre envolver a saúde
física, mental e espiritual.
Falar
e saber mais sobre saúde mental deveria fazer parte da nossa educação de base.
Estudos mostram que algumas ferramentas ajudam a melhorar a saúde mental, como
é o caso da meditação e a prática da atenção plena (mindfulness).
Vale lembrar que algumas pessoas não dão sinais de ideação suicida. Contudo, ao se deparar com uma pessoa com problemas de saúde mental, a melhor forma de ajudar é oferecendo escuta atenta, presente e respeitosa e, dentro do possível, ajudar a pessoa a encontrar o melhor caminho para o tratamento.
Dra. Emmanuelle Fernandes -
psicóloga consultora do portal Minuto Saudável. Psicóloga graduada pela universidade FUMEC, com formação
complementar pela Universite de Jules Verne/França (2012), é pesquisadora
voluntária em Projeto de neuromodulação em autistas, pela Faculdade de Medicina
da UFMG (2019). Com 15 anos de atuação em Recursos Humanos, é fundadora e CEO
da startup Avulta Contratação Profissional Inclusiva, autora da
Avaliação Neuropsicológica Avulta (ANA), primeira ferramenta de mapeamento
cognitivo acessível a pessoas com deficiência, no Brasil.
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