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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Mais de 60 anos do consórcio: O que mudou na modalidade financeira e como a tecnologia tem impactado o mercado

Apesar de possuir mais de seis décadas de idade, o consórcio ainda pode ser considerado novo, pois foi apenas em 2008 que teve início a regulamentação no mercado pelo Banco Central, permitindo a regulação e criação de regras definidas por uma entidade do sistema financeiro. A partir disso, o consórcio ganhou um status de produto financeiro, o que trouxe segurança para o próprio produto e para o setor, possibilitando seu crescimento.

Diante disso, um fator que pode transformar a modalidade de consórcio de uma vez por todas é ter a clareza de sua definição. Hoje em dia, o mercado é fortemente dividido entre aqueles que acreditam que o consórcio é um produto de investimento e aqueles que acreditam que é um produto para compra de bens e serviços, sendo que é um pouco dos dois. 

A definição fornecida pelo Banco Central para consórcio é “autofinanciamento”, pois mistura os dois lados, investimento e poupança com crédito. O produto do consórcio pode ser usado dessas duas maneiras, e quando a população entender tal conceito, a modalidade passará a ser vista com outros olhos. O problema que acontece atualmente é que a falta de explicação sobre o serviço faz que os clientes se frustrem e consequentemente cancelem o consórcio.

Uma outra questão que precisa ser melhorada dentro do setor é a tecnologia, que parece que não chegou ao mercado de consórcio. Afinal, em todos esses anos, poucas iniciativas foram iniciadas com base em recursos tecnológicos. O produto é entregue para o cliente da mesma forma de quando a modalidade foi criada, sendo vendido pelo valor do crédito pretendido ou pela parcela que o cliente pode pagar. Essa ação gera uma entrega massificada, pois não considera interesses individuais do cliente e muito menos suas particularidades.

Tal atitude até passava despercebida há 15 anos, pois era uma época em que as ferramentas de dados e análise estavam começando a se desenvolver e faltava acesso à informações. No entanto, nos dias de hoje, não faz sentido não usar tecnologia nos processos, pois as ferramentas e os recursos estão à disposição, sendo possível trabalhar com dados e analytics, para tomar uma decisão diferente para o produto, sendo possível entregá-lo para cada perfil de cliente de forma individual, o que é uma grande vantagem.

No entanto, mesmo com poucos recursos tecnológicos, o consórcio continua fazendo sucesso, principalmente nas classes de renda menor. Por ser uma alternativa ao crédito, torna-se uma opção viável para quem quer comprar um bem ou serviço. Em países em desenvolvimento, como o nosso, o crédito costuma ser escasso ou caro, por isso o consórcio faz sentido. No Brasil, o consórcio é um produto bastante rentável e vem sendo incentivado por administradoras, que estão ligadas a grandes instituições financeiras.

O Consórcio também equaliza as oportunidades entre as classes sociais. No crédito, os clientes com maior renda, que apresentam um risco menor para a instituição financeira, recebem uma taxa de juros menor que os clientes com baixa renda. Contudo, no consórcio, independente da classe social, tendo a capacidade de renda necessária para arcar com as parcelas, todos os clientes do grupo têm a mesma taxa de administração, que é o custo da operação. Então, diferente do crédito que discrimina os clientes, o consórcio equipara e traz condições iguais entre os participantes. 

Por essa razão, o momento atual do consórcio é positivo, pois quanto mais caro ou mais escasso o crédito é, mais o produto se destaca. Se falarmos sobre custos e compararmos o  produto de financiamento e o produto de consórcio para compra de um bem, o consórcio fica mais barato. A exemplo do cenário promissor, dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), apontam que os primeiros seis meses deste ano bateram recorde de cotas vendidas com 1,85 milhão; foi o melhor resultado para o período nos últimos dez anos. Além disso, os números superaram em 12,1% o acumulado no mesmo período do ano passado, quando houve o registro de 1,65 milhão. No entanto, é claro, deve-se levar em consideração que existe o custo financeiro dentro da modalidade, que é a taxa de administração da operação, mas esta também compensa e apresenta vantagens.

Visto isso, a minha expectativa no curto prazo para o mercado de consórcios está na melhora na regulação e observância dos players do mercado, principalmente na conta de quem está à frente da operação oferecendo esse produto. É preciso garantir que todos os profissionais tenham uma maior qualificação, o que permitirá um aumento da qualidade do serviço e também mais transparência.

Já no longo prazo, percebo que o consórcio terá uma alavancada e entrará cada vez mais na carteira e na vida financeira dos clientes, permitindo a compra do que desejam, já que o produto vai oferecer uma operação menos custosa e mais programada. A tendência é que o consórcio evolua e traga melhorias com o passar do tempo, sendo mais personalizado para entregar e atingir de uma maneira melhor e mais fácil os objetivos dos clientes, o que vai gerar um mercado cada vez maior, cheio de inovações e possibilidades. 



Bruno Pinheiro - fundador e CEO da Turn2C Consórcio Inteligente. Formado em Engenharia Mecatrônica pela Universidade de São Paulo (USP), Bruno acumula mais de 17 anos de  experiência em empreendedorismo no mercado financeiro, em setores de investimento, câmbio, consórcio e banking. Seu ingresso no mercado ocorreu em 2004, ao iniciar sua trajetória profissional no Itaú Unibanco, maior banco privado do Brasil e maior conglomerado financeiro do hemisfério sul, no qual foi responsável por diversas áreas dos produtos de crédito imobiliário, financiamento de veículos e, de 2010 a 2013, responsável pela vertical de consórcios da Itaú Administradora e Fiat administradora de consórcio. Em paralelo, o executivo criou em 2015 a Besser Partners, fintech de câmbio para pessoas físicas e jurídicas que permite ao cliente acessar diversos bancos usando uma única plataforma, que foi vendida ao banco C6 SA em 2018.


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