Apesar de possuir mais de seis décadas de idade, o consórcio ainda pode ser considerado novo, pois foi apenas em 2008 que teve início a regulamentação no mercado pelo Banco Central, permitindo a regulação e criação de regras definidas por uma entidade do sistema financeiro. A partir disso, o consórcio ganhou um status de produto financeiro, o que trouxe segurança para o próprio produto e para o setor, possibilitando seu crescimento.
Diante disso, um fator que pode transformar a
modalidade de consórcio de uma vez por todas é ter a clareza de sua definição.
Hoje em dia, o mercado é fortemente dividido entre aqueles que acreditam que o
consórcio é um produto de investimento e aqueles que acreditam que é um produto
para compra de bens e serviços, sendo que é um pouco dos dois.
A definição fornecida pelo Banco Central para
consórcio é “autofinanciamento”, pois mistura os dois lados, investimento e
poupança com crédito. O produto do consórcio pode ser usado dessas duas
maneiras, e quando a população entender tal conceito, a modalidade passará a
ser vista com outros olhos. O problema que acontece atualmente é que a falta de
explicação sobre o serviço faz que os clientes se frustrem e consequentemente
cancelem o consórcio.
Uma outra questão que precisa ser melhorada dentro
do setor é a tecnologia, que parece que não chegou ao mercado de consórcio.
Afinal, em todos esses anos, poucas iniciativas foram iniciadas com base em
recursos tecnológicos. O produto é entregue para o cliente da mesma forma de
quando a modalidade foi criada, sendo vendido pelo valor do crédito pretendido
ou pela parcela que o cliente pode pagar. Essa ação gera uma entrega
massificada, pois não considera interesses individuais do cliente e muito menos
suas particularidades.
Tal atitude até passava despercebida há 15 anos,
pois era uma época em que as ferramentas de dados e análise estavam começando a
se desenvolver e faltava acesso à informações. No entanto, nos dias de hoje,
não faz sentido não usar tecnologia nos processos, pois as ferramentas e os
recursos estão à disposição, sendo possível trabalhar com dados e analytics,
para tomar uma decisão diferente para o produto, sendo possível entregá-lo para
cada perfil de cliente de forma individual, o que é uma grande vantagem.
No entanto, mesmo com poucos recursos tecnológicos,
o consórcio continua fazendo sucesso, principalmente nas classes de renda
menor. Por ser uma alternativa ao crédito, torna-se uma opção viável para quem
quer comprar um bem ou serviço. Em países em desenvolvimento, como o nosso, o
crédito costuma ser escasso ou caro, por isso o consórcio faz sentido. No
Brasil, o consórcio é um produto bastante rentável e vem sendo incentivado por
administradoras, que estão ligadas a grandes instituições financeiras.
O Consórcio também equaliza as oportunidades entre
as classes sociais. No crédito, os clientes com maior renda, que apresentam um
risco menor para a instituição financeira, recebem uma taxa de juros menor que
os clientes com baixa renda. Contudo, no consórcio, independente da classe
social, tendo a capacidade de renda necessária para arcar com as parcelas,
todos os clientes do grupo têm a mesma taxa de administração, que é o custo da
operação. Então, diferente do crédito que discrimina os clientes, o consórcio
equipara e traz condições iguais entre os participantes.
Por essa razão, o momento atual do consórcio é
positivo, pois quanto mais caro ou mais escasso o crédito é, mais o produto se
destaca. Se falarmos sobre custos e compararmos o produto de
financiamento e o produto de consórcio para compra de um bem, o consórcio fica
mais barato. A exemplo do cenário promissor, dados da Associação Brasileira de
Administradoras de Consórcios (ABAC), apontam que os primeiros seis meses deste
ano bateram recorde de cotas vendidas com 1,85 milhão; foi o melhor resultado
para o período nos últimos dez anos. Além disso, os números superaram em 12,1%
o acumulado no mesmo período do ano passado, quando houve o registro de 1,65
milhão. No entanto, é claro, deve-se levar em consideração que existe o custo
financeiro dentro da modalidade, que é a taxa de administração da operação, mas
esta também compensa e apresenta vantagens.
Visto isso, a minha expectativa no curto prazo para
o mercado de consórcios está na melhora na regulação e observância dos players
do mercado, principalmente na conta de quem está à frente da operação
oferecendo esse produto. É preciso garantir que todos os profissionais tenham
uma maior qualificação, o que permitirá um aumento da qualidade do serviço e
também mais transparência.
Já no longo prazo, percebo que o consórcio terá uma
alavancada e entrará cada vez mais na carteira e na vida financeira dos
clientes, permitindo a compra do que desejam, já que o produto vai oferecer uma
operação menos custosa e mais programada. A tendência é que o consórcio evolua
e traga melhorias com o passar do tempo, sendo mais personalizado para entregar
e atingir de uma maneira melhor e mais fácil os objetivos dos clientes, o que
vai gerar um mercado cada vez maior, cheio de inovações e possibilidades.
Bruno Pinheiro - fundador e CEO da Turn2C Consórcio
Inteligente. Formado em Engenharia Mecatrônica pela Universidade de São Paulo
(USP), Bruno acumula mais de 17 anos de experiência em empreendedorismo
no mercado financeiro, em setores de investimento, câmbio, consórcio e banking.
Seu ingresso no mercado ocorreu em 2004, ao iniciar sua trajetória profissional
no Itaú Unibanco, maior banco privado do Brasil e maior conglomerado financeiro
do hemisfério sul, no qual foi responsável por diversas áreas dos produtos de
crédito imobiliário, financiamento de veículos e, de 2010 a 2013, responsável
pela vertical de consórcios da Itaú Administradora e Fiat administradora de
consórcio. Em paralelo, o executivo criou em 2015 a Besser
Partners, fintech de câmbio para pessoas físicas e jurídicas que permite ao
cliente acessar diversos bancos usando uma única plataforma, que foi vendida ao
banco C6 SA em 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário