Novas drogas aprovadas no Brasil, pela Anvisa, já passaram por todos os testes e estudos necessários e confirmaram eficácia
O
câncer de pele é a neoplasia mais frequente no Brasil e corresponde a 30% de
todos os tumores malignos. Como a pele – maior órgão do corpo humano – é
heterogênea, o câncer de pele pode apresentar tumores de diferentes linhagens.
Os mais frequentes são o carcinoma basocelular e o carcinoma
epidermoide. O melanoma representa 3% de todos os tumores de pele, mas é o
mais agressivo por ter alta possibilidade de dar metástases (se espalhar pelo
corpo). Dados do Instituto Nacional do Câncer estimam mais de 8.000 casos novos ao ano,
com quase 2.000 mortes
por ano no país. “No passado, o melanoma metastático já foi
considerado um dos tumores mais difíceis de tratar por conta de sua baixa
resposta à quimioterapia e à radioterapia. As chances de se curar e de ter uma
vida com boa qualidade, usando a quimioterapia, eram muito baixas. E até pouco
tempo, não havia outros tratamentos eficazes”, explica o oncologista Vinicius
Conceição, sócio do Grupo SonHe – Oncologia e Hematologia,
De
acordo com o médico, a história começou a mudar em 2010, no maior congresso de
Oncologia do mundo, realizado em Chicago – EUA. “Foi apresentando os resultados
do primeiro estudo com uma medicação chamada Ipilimumab, uma imunoterapia, com
mecanismo de ação conhecido como inibidor de checkpoint imunológico, nesse caso
um Anti-CTLA4. A medicação conseguia ativar o nosso sistema imunológico
permitindo ao próprio organismo ‘enxergar’ melhor as células tumorais e, assim,
ativar os linfócitos (nossas células ‘soldados’) para atacar o câncer. Foi a
primeira vez na história que uma medicação mostrou em estudos a capacidade de
aumentar o tempo de vida das pessoas com diagnóstico de melanoma metastático”,
conta Dr. Vinicius.
Ele
afirma que isso foi uma revolução no tratamento do melanoma, mas também no
tratamento de praticamente todos os outros tumores. “A imunoterapia, hoje, é
usada em vários momentos e para vários tipos de câncer e trouxe uma expectativa
que até então era quase inimaginável: curar pacientes com tumores que já se
espalharam pelo corpo. Claro que nem todos pacientes se beneficiam deste
tratamento. Mas a possibilidade de estacionar a doença e de curar doenças
avançadas foi possível apenas com a imunoterapia”, pontua o especialista.
Hoje,
existem vários outros medicamentos com mecanismos de ação parecidos, além do
ANTI-CTLA4, têm os ANTI- PD1, ANTI-PDL1, e outros vem surgindo, além da
possibilidade de combinação com esses agentes. Segundo o oncologista é uma
mudança de paradigma na Oncologia e trouxe esperanças para as pessoas
acometidas por tumores avançados como melanoma, pulmão, rim, bexiga, cabeça e
pescoço, estômago e vários outros. “Mas as revoluções não pararam na
Imunoterapia. Outro grupo de medicamentos chamados de inibidores de tirosina
kinase, medicamentos orais que são direcionados contra alguns grupos de genes,
também transformaram o tratamento do melanoma. Esses medicamentos já foram aprovados
no Brasil, pela Anvisa, e já passaram por todos os testes e estudos necessários
e confirmaram serem eficazes”, afirma Dr. Vinicius.
Em um país tão desigual e com acesso a saúde também tão desigual, aquelas pessoas que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), não têm acesso a essas drogas. “São medicamentos extremamente caros e que não foram incorporados no SUS. Portanto, essas medicações só estão ao alcance de pacientes que tenham planos de saúde (a maioria dessas medicações são de cobertura obrigatória pelos planos ou para quem possa pagar por eles, mas lembrando que estamos falando de tratamentos que podem chegar a mais de R$ 40 mil por mês). O melanoma certamente é o câncer com maiores ganhos com a imunoterapia e terapia-alvo. Mas, ao mesmo tempo, também é o câncer com maior desigualdade de tratamento entre o serviço de saúde público e privado”, finaliza o oncologista.
Vinícius
Corrêa da Conceição - médico oncologista graduado pela Unicamp,
com residência médica em Clínica Médica e Oncologia pela Unicamp. Tem título de
especialista em Cancerologia e Oncologia Clínica pela Sociedade Brasileira de
Oncologia. Foi visitingfellow no Serviço de Oncologia do Instituto Português de
Oncologia (IPO), no Porto. Membro titular da Sociedade Americana de Oncologia
Clínica (ASCO), da Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO), da
InternationalAssociation for theStudyofLungCancer (IASLC), do Grupo Brasileiro
de Melanoma (GBM), da Sociedade Brasileira de Oncologia (SBOC) e da Sociedade
de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), Vinícius é sócio do Grupo SOnHe e
atua na Oncologia do Instituto do Radium, do Hospital Madre Theodora, do
Hospital Santa Tereza e atua e é responsável técnico da Oncologia da
Santa Casa de Valinhos.
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