A conscientização dos brasileiros sobre o tema depressão parece aumentar. Segundo pesquisa do Datafolha sobre saúde mental, 4 em cada 10 brasileiros tiveram sintomas de ansiedade ou depressão durante a pandemia, e 53% dos entrevistados consideram muito importante oferecer suporte a quem esteja passando pela doença, enquanto 10% não souberam agir diante de um conhecido com depressão.
Dos
2.055 entrevistados em 129 municípios das cinco macrorregiões do país, 44%
afirmaram que tiveram problemas psicológicos. Entre eles, 28% apontaram que
tiveram diagnóstico de depressão ou outra doença relacionada à saúde mental
durante a pandemia de Covid-19, enquanto 46% afirmaram que algum familiar ou
amigos próximos tiveram depressão nesse período.
“De
fato, identificar um quadro de depressão exige cautela, especialmente no
momento atual. É importante destacar que a pandemia aumentou o número de
pessoas com sintomas depressivos ou ansiosos, mas isso não é sinônimo de
depressão ou transtorno de ansiedade generalizada. Esse diagnóstico depende de
vários critérios, e é individualizado”, afirma Dr. Adiel Rios, Mestre em
Psiquiatria pela UNIFESP e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade
de Medicina da USP.
Segundo
ele, a depressão pode ser resultado de alterações nos neurotransmissores do
cérebro (como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina, responsáveis pela
sensação de prazer e bem-estar) e de fatores genéticos e epigenéticos. Estes
últimos são fatores ambientais, como situações sociais de alta vulnerabilidade,
traumas, abuso de substâncias lícitas e ilícitas, sedentarismo, alimentação,
dentre outros. “Isso mostra claramente que não somos apenas a expressão de um
gene, mas a resposta a tudo que acontece a nossa volta”.
Abaixo,
o psiquiatra lista 8 sinais que podem indicar uma possível depressão:
Desinteresse
pelas atividades que davam prazer
“É
difícil ter motivação com uma rotina cheia de eventos estressantes como os
atuais. No entanto, se a pessoa chega ao ponto de deixar de lado as atividades
que sempre gostou de fazer, é um sinal perigoso”. Segundo Adiel Rios, neste
período de transição, a oportunidade de se isolar e ser mais inativo chega a se
tornar um alívio para as pessoas que já desenvolveram depressão ao longo desses
dois anos de pandemia.
Sentimento
contínuo de tristeza e apatia
A
tristeza é um fenômeno de causas externas. A morte de uma pessoa querida ou o
fim de um namoro são exemplos de eventos que podem deixar alguém triste. Ao
contrário da tristeza, a depressão é um fenômeno interno e não precisa de um
acontecimento para disparar este sintoma. A pessoa fica apática, não sente
vontade de fazer nada e não entende o porquê. Dificuldade de concentração,
cansaço sem explicação, alterações no sono e no apetite são alguns dos sintomas
da depressão.
Mudanças
bruscas de humor
Irritação
constante por motivos banais, mudanças súbitas de humor e até reações
agressivas merecem atenção. “O indivíduo com depressão se aborrece à toa e
sempre encontra motivos para se irritar e reclamar”. Essa apresentação pode ser
bastante comum em homens, explica o pesquisador.
Alterações
no apetite e no sono
Dormir
demais (ou quase nada) e comer muito (ou perder o apetite) são quadros
sintomáticos comuns na pessoa com depressão. “As oscilações são muito grandes.
O indivíduo pode passar várias noites em claro ou chegar a dormir 12 horas
seguidas e, mesmo quando acorda, não tem a menor disposição para levantar. Na
alimentação, a pessoa que come muito mais do que deve, usa a comida como
válvula de escape para aliviar a ansiedade. Já outras, perdem completamente o
apetite, chegando a ter enjoos só de sentir o cheiro de comida”.
Desleixo
com higiene e vaidade
Uma
das características da depressão é a perda da vontade de cuidar de si mesmo. A
pessoa costuma estar com a higiene corporal comprometida (podendo ficar dias
sem tomar banho); roupas sujas, rasgadas ou desalinhadas; mau cheiro; cabelos
despenteados, sujos e visivelmente maltratados; barba por fazer (em homens);
dentes estragados ou unhas sujas e compridas.
Dores
pelo corpo
Além
dos sintomas psiquiátricos, a depressão pode ser uma doença inflamatória que
ataca o corpo. “O indivíduo parece vivenciar uma ‘síndrome gripal’ com dores e
tensão acumulada nos músculos, ombros e pescoço; cólica, diarreia ou azia;
aperto no peito, dores de cabeça e fadiga. Muitos ignoram os sintomas físicos,
quando, na verdade, eles podem ajudar no diagnóstico”, aponta Adiel Rios.
Dificuldade
nas tarefas rotineiras
A
sensação de “cabeça vazia” e a dificuldade de se concentrar são típicos de uma
pessoa com depressão. Muitas vezes, os pensamentos se tornam tão confusos que
dificultam a tomada de decisões, mesmo aquelas mais simples e cotidianas. “Como
consequência, tudo se torna um esforço imenso, e a pessoa acaba procrastinando
suas tarefas e responsabilidades, deixando-a ainda mais angustiada”.
Autoestima
baixa
Outro
sinal de alerta da depressão é a sensação de incapacidade, impotência e fragilidade.
De acordo com Adiel, é comum a pessoa se sentir menos importante, achar que
ninguém se importa com ela e que tudo que acontece de ruim é sua culpa. “A vida
começa a ficar esvaziada, cansativa e até sem sentido. Quando chega a este
ponto, pode começar a vir os pensamentos suicidas”.
Vale
lembrar que a depressão é, sim, uma doença grave, que deve ser tratada antes
que alcance estados onde a pessoa fique totalmente incapacitada. “Portanto,
antes de fazer um julgamento sem conhecimento de causa, busque informação e
esclareça as dúvidas com um especialista. Perceber estas mudanças de
comportamento é um processo importante para identificar rapidamente se você ou
alguém está entrando em depressão”, alerta Adiel Rios.
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