Para
especialista, ter mais mulheres em cargos de liderança é fundamental para
inspirar outras a se emanciparem profissionalmente, economicamente e
socialmente
A forte presença da mão de obra feminina no
mercado de trabalho é um reflexo claro do longo caminho de emancipação social
que as mulheres trilharam no século 20 e neste começo do século 21. Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta que elas
respondem por 51,03% do mercado de trabalho no País. Na década de 50, esse
percentual era pouco mais de 13%.
Mas se neste Dia Internacional da Mulher comemoramos o grande avanço numérico
das mulheres no mercado de trabalho, qualitativamente elas ainda têm um bom
caminho a percorrer. Segundo o estudo “Indicadores sociais das mulheres no
Brasil”, realizado pelo IBGE e com dados de 2019, 37,4% das mulheres
brasileiras ocupam algum cargo de gerência, seja como diretora ou gerente. O
dado revela uma queda de 1,7% ponto percentual em relação ao estudo anterior,
de 2016. Alcançar a equidade de gêneros no mercado de trabalho não é um
problema só do Brasil, mas do mundo como todo. O Pacto Global, iniciativa da
ONU voltada para empresas, estabeleceu como meta que até 2030 50% dos cargos de
liderança sejam ocupados por mulheres.
Se depender da engenheira de alimentos e gestora de qualidade da indústria
Marajoara Laticínios, Annyelle Galvão, de 37 anos, essa meta será, sim,
alcançada. Coordenando uma equipe de 19 pessoas, da qual apenas uma é homem,
Annyelle Galvão reconhece que a engenharia de alimentos, assim como muitas
outras áreas profissionais, ainda tem uma grande predominância masculina. Mas
ela avalia que a presença das mulheres em funções ou áreas antes dominadas
pelos homens vem crescendo e se consolidando.
Para a engenheira, essa desconfiança que se possa ter em relação ao trabalho da
mulher, não faz nenhum sentido nos dias de hoje. “Os outros
gestores e coordenadores com quem lido aqui na Marajoara, em sua maioria, são
homens mas felizmente nunca tive problema algum. Mas acredito que a gente
consiga passar a credibilidade, que precisa, demonstrando conhecimento, fazendo
isso, qualquer desconfiança que se possa ter é logo dissipada, seja você mulher
ou homem”, afirma a gestora de qualidade.
Para Patrícia Damascena, gestora de RH da Marajoara, ter mulheres em cargos de
gestão e liderança, como é o caso dela própria e de Annyelle, é importante
porque inspira outras profissionais a se emanciparem no mercado de trabalho,
economicamente e socialmente. “Também desfaz um estereótipo que se tem ainda
forte em nossa sociedade de que nós mulheres não temos capacidade para gerir e
liderar. Isso independe de gênero", completa a gestora.
Annyelle argumenta que as empresas têm, inclusive, detectado nas mulheres
características que têm feito muito diferença para cargos e funções de gestão e
liderança. “Muita gente ainda tem uma imagem de que a mulher é muito
frágil e sensível demais, mas acho que temos uma capacidade de resiliência
maior, uma força psicológica que compensa qualquer força física”, destaca.
Uma pesquisa da consultoria McKinsey & Company, realizada em 2018 com mais
de mil empresas em diversos países, revelou que a equidade de gênero nos cargos
de gestão e liderança representa também mais lucro. O estudo apontou que as
companhias com equipes executivas de maior equilíbrio entre gêneros têm 21%
mais probabilidades de superar outras empresas na lucratividade e 27% mais
chances de criar valor no longo prazo.
Respeito
Patrícia Damascena avalia que as mulheres avançaram muito no mercado de
trabalho, não só aumentando a participação do público feminino na população
economicamente ativa, mas também quebrando muitos tabus sem sentido sobre o que
cabe ou não à mulher. A gestora de RH lembra inclusive, que existem hoje,
felizmente, muitas leis que combatem situações no trabalho que possam gerar
algum tipo de desrespeito, constrangimento ou desvalorização das mulheres.
Para a gestora de RH, a equidade entre gêneros dentro de uma empresa, dentre
muitas coisas, passa necessariamente pela manutenção do clima harmônico e
respeitoso na organização. “Para nós aqui da Marajoara, por exemplo, esses são
valores fundamentais. É algo sempre muito bem pontuado dentro da empresa. Isso
ocorre especialmente num momento que chamamos de ‘Integração’ que é aquele
primeiro contato que temos com os novos colaboradores. Por meio de uma pequena
palestra, nós apresentamos e detalhamos todos os nossos valores e normas de
conduta”, explica a gestora, que ainda completa: “Essa questão de se manter um
ambiente de trabalho harmonioso e respeitoso é tão importante para nós que,
quando se percebe qualquer indício mais evidente de alguém teve algum tipo de
desvio de conduta ou atitude desrespeitosa, não só contra as mulheres, mas
contra qualquer colaborador, essa pessoa imediatamente desligada”.
“Felizmente aqui na Marajoara é bem tranquilo, porque eu e as outras
colaboradoras mulheres sempre temos um respaldo muito grande por parte da
empresa. Acho que as empresas de uma maneira geral precisam sim acreditar na
capacidade das mulheres e dar mais oportunidades para que demonstrarem que
podem fazer qualquer coisa que quiserem. Para mim, essa diversidade de
capacidades e de visões traz ganhos para empresa e funcionários”, pontua.
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