Conforme orientações da Fundação MT, os produtores agora devem ficar atentos às áreas mais novas, que no momento estão no estágio R3 e R4 e, principalmente, com cultivares de ciclo mais longo; entenda o porquê.
Não é de hoje que os produtores, não só
de soja, mas de diversas culturas, precisam realizar o controle da mosca-branca
(Bemisia tabaci Biótipo B) ou ainda lidar com infestações nas
lavouras. Além dos danos diretos que a praga causa, há também os indiretos,
como a transmissão de vários vírus que a utilizam como vetor. Em Mato Grosso,
na safra de soja 2021/22, já é possível observar os adultos do inseto nas áreas
plantadas mais precocemente, mas ainda com baixa população das ninfas, pois os
ovos e os primeiros estádios de desenvolvimento não são visíveis a olho nu.
Com pesquisas sobre o manejo da
mosca-branca em soja, realizadas no Médio Norte do Estado, a Fundação de Apoio
à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) orienta produtores e
técnicos a ficarem atentos às áreas mais novas da cultura, que neste momento
estão no estágio R3 e R4, principalmente as de cultivares de ciclo mais longo,
pois podem oferecer alimento e local de desenvolvimento para os insetos que vão
migrar das áreas mais velhas.
Infestações na soja
Lucia Vivan, doutora em Entomologia e
pesquisadora da Fundação MT, explica que na cultura da soja as infestações da
mosca-branca iniciam com populações baixas de adultos, mas se houver períodos
de veranico a tendência é de aumento da população e colonização com a presença
de ninfas.
Outro ponto importante é que ataques
severos têm sido verificados em áreas próximas a plantios de algodão, feijão e
cucurbitáceas na entressafra, sob pivô central. “Essas plantas hospedeiras que
terminam seus ciclos ou secam já abrigavam a mosca-branca, são lavouras que
funcionam como ponte para a praga entre as safras de soja”, explica Lucia.
É frequente que as bordaduras sofram os
ataques iniciais, já que são as margens de entrada do inseto na lavoura e são
áreas mais secas, ventiladas e, quase sempre, mais empoeiradas, o que costuma
favorecer a praga. Lavouras onde os inimigos naturais foram perturbados ou
eliminados também são locais propícios para as explosões populacionais da
praga.
Danos na soja
As ninfas e os adultos da mosca-branca
causam o dano direto na cultura. Ao se estabelecerem na face inferior da folha,
sugam a seiva, extraindo carboidratos e aminoácidos, podendo causar manchas
cloróticas, murcha e queda das folhas. Com a extração da seiva, ocorre a
depauperação das plantas, com comprometimento do desenvolvimento vegetativo e
reprodutivo. “Em ataques mais severos, pode ocorrer a antecipação do ciclo em
até 15 dias” destaca a doutora.
Já o principal dano indireto, que é
outro grande problema da mosca-branca, é o fato dela ser vetor de vírus dos
grupos geminivírus, carlavírus, closterovírus e luteovírus, os quais causam
doenças muito severas em diferentes culturas. Cerca de 120 espécies de vírus já
foram descritas sendo transmitidas por mosca-branca B. tabaci.
De acordo com estudos da Fundação MT,
as perdas em Mato Grosso, em lavouras de soja onde não é feito o controle
efetivo, podem chegar de 10 a 15 sacas por hectare, em relação a uma área com
controle. No entanto, infestações baixas já podem ocasionar perdas, pois os
danos de alimentação e excreção de honey-dew e o
desenvolvimento de fumagina vão interferir na capacidade fotossintética da
planta com reflexos negativos na produtividade.
Fumagina
Durante a alimentação, o inseto da
mosca-branca e, principalmente a ninfa, excreta um “melado” que favorece o
desenvolvimento de fumagina. Trata-se de um fungo negro que cresce sobre as
folhas, escurecendo-as, prejudicando a realização da fotossíntese e,
consequentemente, pode interferir na produtividade, dependendo do estágio da
planta e população presente da praga. São as ninfas que liberam grande
quantidade dessa substância açucarada, possibilitando maior crescimento de
fumagina sobre as folhas que, ao se tornarem pretas, absorvem muita radiação
solar, queimam e caem.
Ponto de partida para o manejo
Uma das dúvidas que os produtores e
técnicos têm em relação ao controle de pragas é o momento certo de realizar o
manejo. No caso da mosca-branca, Lucia Vivan explica que é importante que as
áreas sejam monitoradas e se verifique a população de adultos, e ao saber a
incidência dos adultos é necessário avaliar a população de ninfas, pois os
produtos utilizados para controle são diferentes.
“A decisão para o controle de adultos
deve ser quando a infestação ainda é inicial e não haja ocorrência de ninfas
visíveis a olho nu. Nesse momento, é possível o uso de produtos à base de
neonicotinoides e diafentiuron. A partir da ocorrência de ninfas é necessário o
uso de produtos específicos para a forma jovem como piriproxifen, buprofezin,
ciantraniliprole, espiromesifeno, fupiradifurone, sulfoxaflor e spiropidion”,
informa a entomologista.
Ela destaca ainda que o controle das
formas jovens do inseto encontra bons produtos no mercado, no entanto, devem
ser posicionados em baixas infestações. “Para a cultura da soja uma das recomendações
são infestações com 5 a 10 ninfas de quarto instar por folíolo. Geralmente, a
infestação se inicia no terço inferior e médio da planta. Essa população baixa,
de ninfas, é devido a dificuldade de identificar a população em número de ovos
e nos instares mais iniciais, onde não é possível a olho nu, necessitando de
uma lupa de mesa”, diz.
Ações preventivas
Como ainda não existem cultivares
resistentes ou tolerantes à mosca-branca, em traços gerais é importante
realizar medidas preventivas que desfavoreçam o desenvolvimento do inseto nas
áreas de cultivo. A Fundação MT orienta eliminar plantas hospedeiras da praga
dentro da cultura e em áreas vizinhas, ou seja, um bom manejo de plantas
daninhas; fazer levantamento e contagem da praga no campo; utilizar produtos
seletivos para manter os inimigos naturais; destruir os restos culturais;
evitar o plantio de cultivares muito atrativas à praga; treinamento do monitor
para identificar os primeiros focos do inseto; seleção dos produtos
considerando rotação de modo de ação, efeito sobre inimigos naturais e fase de
desenvolvimento da mosca-branca.
Outra ação preventiva que pode ser uma
boa estratégia em situações em que a praga já está presente, segundo a doutora
Lucia, é o tratamento de sementes com o objetivo de diminuir as migrações para
a cultura recém germinada, impedindo, desta forma, seu estabelecimento na área.
“Só que para a cultura da soja não é efetiva devido a infestação ausente no
momento do plantio, no entanto, para a cultura do algodão em sucessão a da soja
é uma boa estratégia de controle inicial”, declara.
Trabalhos sobre a mosca-branca
A Fundação MT desenvolve vários
trabalhos de controle químico e biológico para mosca-branca na cultura da soja,
bem como a suscetibilidade de cultivares de soja para essa praga. A instituição
também é fonte de resultados sobre plantas hospedeiras e o manejo da praga na
cultura do algodoeiro.
Para os trabalhos com mosca-branca na
soja, a região de desenvolvimento é no médio norte. Para o algodoeiro, as
pesquisas acontecem na região da Serra da Petrovina, ao sul do Estado, e em
Sapezal, no oeste de Mato Grosso.
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