O que você precisa saber sobre o novo surto de
gripe
Quando falamos em gripe, estamos no referindo às
infecções causadas pelo vírus Influenza, o qual apresenta subtipos
denominados A, B e C, de acordo com as características genéticas dele. As
letras H e N que classificam os vírus da gripe se referem às variantes de duas
proteínas importantes para a infecção: H - Hemaglutinina; N - Neuroaminidase.
Essas proteínas sofrem mutação com menor intensidade, porém quando o fazem
geralmente são responsáveis por grandes surtos de gripe como Gripe Espanhola,
em 1918, causada pelo H1N1; e Gripe Asiática, em 1957, causa pelo H2N2.
Conforme são observadas mudanças na estrutura dessas proteínas, recebem
numerações, tais como H1N1 ou H2N2. Nos recentes surtos de gripe, foi
verificada a infecção pelo subtipo Influenza A (H3N2).
De acordo com o infectologista Marcelo Eichholzer,
docente de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade Evangélica Mackenzie
do Paraná (FEMPAR), os sintomas da H3N2 são semelhantes aos da gripe causada
por outras cepas e a incubação pode ser de 12h a três dias. “Geralmente o
início do quadro é súbito com mal-estar, calafrios, tremores, dores de cabeça,
dores no corpo, febre e perda de apetite. Evolui com coriza, dor de garganta e
tosse seca. Em alguns casos, apresenta complicações como Síndrome Respiratória
Aguda Grave (SRAG) com pneumonite viral com fôlego curto e rápido, baixa da
oxigenação (queda da saturação) e pode causar infecções bacterianas
secundárias, além de potencializar descompensações de doenças crônicas
cardiopulmonares como asma, insuficiência cardíaca, doenças reumatológicas,
renais, hepáticas e etc.”.
Marcelo Eichholzer afirma que a efetividade da
vacina da gripe é entre 60% e 80% dos vacinados. O material antigênico é
disponibilizado de acordo com as variantes circulantes em cada ano e protege contra
a Influenza A H1N1, H2N2, H3N2 (cepa Hong Kong) e Influenza B, no
entanto, a cepa atualmente circulante e responsável por esse surto é a H3N2
(cepa Darwin) que não está presente na vacina de 2021, mas está sendo
adicionada na vacina para 2022. Além disso, comenta que em 2021 houve uma baixa
adesão da vacinação da gripe por conta da epidemia e vacinação contra covid-19,
o que favorece outras cepas também estarem circulando.
A imunologista Camila Sacchelli, professora de
Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Presbiteriana Mackenzie
(UPM), campus Higienópolis, diz que a vacina tem eficácia distinta para
cada subtipo, sendo em geral mais baixa para o H3N2. De todo modo, estamos
sempre expostos a todos eles e a vacina tem reduzido bastante a ocorrência de
internações e mortes por gripe, principalmente em crianças e idosos.
Sacchelli pontua que é importante considerar a
pandemia da covid-19, pois influenciou negativamente a cobertura vacinal de
outras doenças, incluindo a gripe. “Tanto o isolamento quanto o medo gerado por
notícias falsas provocaram uma redução importante na cobertura vacinal, tanto
de crianças e idosos, cobertos pela campanha nacional, como de adultos
saudáveis, que em geral se vacinam para gripe em clínicas particulares. No ano
passado, o governo inclusive liberou a vacina gratuitamente a toda população,
visando aumentar a imunidade”.
O infectologista da Fempar destaca que o Instituto
Butantan, que produz a vacina no Brasil, já está incluindo a cepa Darwin para a
vacina deste ano, que será distribuída no SUS em todos os municípios e seguirá
o calendário vacinal normalmente. A imunologista explica que o Brasil inicia a
campanha de vacinação de gripe em abril/maio, período que antecede o inverno,
quando a permanência em lugares fechados aumenta a incidência da doença, e que
o Butantan informou que disponibilizará a nova vacina para o governo em março
de 2022.
Como não confundir covid-19
com H3N2
A orientação dos profissionais do Mackenzie é de
que, frente ao aparecimento dos sintomas, o indivíduo busque atendimento médico
para o diagnóstico laboratorial diferencial e faça o isolamento, independente
da infecção. A nova cepa do coronavírus, a ômicron, está em ampla disseminação,
e acaba por se confundir com sintomas gripais, principalmente com a população
já vacinada. Os sintomas são semelhantes entre as duas doenças e causa confusão
diagnóstica, então se faz necessário utilizar testes específicos, geralmente
PCR e antígenos, para encontrar essa resposta, visto que somente clinicamente
não é possível fazer a diferenciação.
A transmissão da gripe se dá por gotículas durante
a fala, respiração, tosse, espirros e por contato com secreções. Para se
proteger, é preciso adotar e manter a tão falada etiqueta respiratória
difundida durante o surto de SARS-COV2, como: manter ambientes arejados, cobrir
a boca ao espirrar (de preferência com antebraço), limpeza das mãos com água e
sabão ou álcool gel, evitar contato com mucosas (olhos, nariz, boca), manter
distanciamento e evitar aglomerações. A vacinação continua sendo a melhor arma
para prevenção. Como é uma doença de transmissão aérea/contato, as mesmas
medidas que já estávamos tomando para a covid-19 também previnem a gripe.
Não é motivo para pânico. Medidas simples podem
ajudar muito na prevenção e no tratamento da doença. Além da etiqueta
respiratória, caso alguém tenha os sintomas, deverá procurar assistência o mais
breve possível para que seja diagnosticado corretamente, visto que há
medicações que são efetivas para o tratamento da gripe quando iniciadas nas
primeiras 72h do início dos sintomas. É necessário assumir uma postura
responsável, a prevenção depende muito mais das ações individuais do que
qualquer outra. A vacina ajuda, mas pode não impedir a infecção e a
transmissão.
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