As pessoas que aceitam entrar do Big Brother Brasil
costumam demonstrar um medo constante do cancelamento. O sentimento de rejeição
aumenta ainda mais quando esses participantes fazem parte do
"camarote". Para eles, a oportunidade de alavancar carreira, ganhar
seguidores e o receio de perder contratos pesam tanto quanto o prêmio de R$ 1,5
milhão na hora de guiar comportamentos e atitudes dentro do reality. A
psicóloga Maria Rafart disse que existem estratégias para driblar a dor da
rejeição e deu dicas para os futuros brothers e sisters não sofrerem com a
cultura do cancelamento.
"O sentimento de rejeição ativa nossos circuitos
cerebrais responsáveis por processar a dor. Portanto, nada pode evitar a dor
inicial de se sentir rejeitado ou cancelado. No entanto, há estratégias que
podem ajudar a processar essa dor: uma autoestima em dia, por exemplo, de certa
forma pode amenizar o que os outros pensam de negativo sobre nós. Um trabalho
nesse sentido antes de entrar na casa é fundamental para garantir saúde psíquica
lá dentro e no pós-reality", explicou a especialista, que completou:
"Algumas pessoas possuem maturidade para absorver
impactos e mesmo assim seguir adiante, é o que chamamos de pessoas resilientes.
Trabalhar a própria capacidade de absorver impactos sem muitos danos seria a
primeira coisa a ser trabalhada. Assim como a fama é transitória, os
cancelamentos também são. A pessoa psiquicamente madura sabe dessa
transitoriedade".
Segundo Maria Rafart, saber seu próprio lugar de fala,
suas falhas e seus próprios valores é o que tornou muitos candidatos
vencedores. "O público gosta de quem se conhece, quem sabe os próprios
limites e os desafia. Além disso, a autoestima em dia pode ajudar muito nos
momentos difíceis de conflitos de convivência na casa".
No BBB 21, por exemplo, o que os participantes mais
fizeram na primeira semana foi sentir medo de falar demais e desagradar o
telespectador. A psicóloga disse que esse receio é muito comum, por que hoje em
dia o público está muito atento às falas que sejam ofensivas, não só às ditas
minorias, mas ao politicamente incorreto em geral.
"Uma boa repassada nos temas sensíveis pode ajudar.
No mais, falar sobre os próprios erros e ‘podres’ pode ser até benéfico, como
aconteceu com Rico na edição de A Fazenda", indicou Maria Rafart.
Cancelamento x crime
O BBB completou 20 anos. Ao longo desse período, houve
situações que extrapolaram o cancelamento. Casos de assédio, intolerância
religiosa e agressões já foram motivos para a polícia visitar a casa mais
vigiada do Brasil. Para o advogado José Estevam Macedo Lima, especialista em
direito do entretenimento, o fato do público não aprovar o comportamento de um
ou outro participante, não dá o direito deles usarem as redes sociais para
atacá-los.
"A internet não é uma terra sem lei. É importante ter
responsabilidade e cautela ao se manifestar nas redes. A liberdade de expressão
não serve de escudo para a prática de atos ilegais e moralmente vedados. Nem
tudo é liberdade de expressão, há um limite que ultrapassado implica em
violação. As condutas que se enquadram nos tipos penais descritos nos crimes
contra a honra e também na injúria racial devem ser levadas à análise do Poder
Judiciário e não devem ser justificadas pela liberdade de expressão".
Dr. Estevam, que também é presidente
da Comissão de Defesa ao Direito de Liberdade de Expressão da Anacrim-RJ, ainda
disse que as pessoas que se sentirem atingidas por comentários que tenham um
cunho difamatório e inverídico devem denunciar.
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