Ao caminhar para
o 2° ano da pandemia – muito mais controlado agora que o Brasil
atingiu mais da metade da população totalmente imunizada e
com muitos adolescentes tendo já tomado ao menos a primeira dose da
vacina – a educação ainda enfrenta enormes dificuldades e pais,
professores e estudantes são desafiados a cada dia. Com o retorno presencial –
obrigatório em alguns estados – vamos, aos poucos, voltando à
condição de normalidade, ou próximo a isso. No entanto, a batalha contra
covid-19 ainda não foi vencida e precisamos nos manter alerta e com todos os
cuidados que já conhecemos tão enfaticamente.
Ainda não há estudos ou dados oficiais que
confirmem, em números e estatísticas, todos os prejuízos advindos da pandemia,
ao mesmo tempo em que previsões sobre o fim dela são inconclusivas, já que pode
haver novos desfechos, como aumento de contágio ou surgimento de novas
cepas. O que já sabemos é da extrema importância em agir
imediatamente e coordenar ações para mitigar todas essas perdas, que foram
ainda maiores e mais impactantes para alunos pobres, por enfrentarem, além de
todo o contexto da pandemia, problemas como falta de acesso à internet e
equipamentos para acompanharem as aulas remotas.
Um relatório internacional da Unesco revelou que
escolas mundo afora ficaram, em média, por 29 semanas fechadas por conta da
pandemia, enquanto o Brasil permaneceu por 40 semanas e, ainda hoje, diversos
municípios não conseguiram voltar à normalidade. Um dos principais
motivos é a falta de estrutura para seguir os protocolos sanitários, como
manter o distanciamento mínimo entre alunos e até mesmo fazer a limpeza
adequada em suas instalações. Quando falamos de alfabetização, os
índices tampouco são satisfatórios. Segundo o último levantamento do Sistema de
Avaliação da Educação Básica (Saeb), só 49% dos estudantes de ensino
fundamental, no segundo ano, foram considerados alfabetizados.
Todas essas dificuldades aumentaram a evasão
escolar, que, segundo a Unicef, já era preocupante no Brasil: 5 milhões de
estudantes, sobretudo da rede pública, responsável por atender 80% desse
contingente, estavam fora da escola e que, na pandemia, teve o expressivo aumento
de 5% no ensino fundamental e 10% no ensino médio. São alertas para a
necessidade de integrar políticas públicas que visem a equidade na educação.
Isso porque 96,7% de jovens de até 16 anos mais ricos concluíram o ensino
fundamental, enquanto entre os mais pobres, o índice não passa de 78%. Os dados
são do Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2021.
Mas, ainda que falho e com muitas
intempéries, é preciso reconhecer que o ensino remoto tem sido, ao
longo desses últimos meses, a única via de acesso à educação, dos mais aos
menos abastados. Por isso é tão importante que todas as esferas do governo
estejam alinhadas para agir em prol da educação, seja levando internet e
equipamentos para os que ainda não têm, ou promovendo treinamentos e
qualificação aos professores, integrando tecnologias educacionais para
transformar a escola em um ambiente contemporâneo, que converse com
novos recursos, mas que não seja excludente.
Em um país cujas dimensões são continentais, como
o Brasil, o recorte por regiões é fundamental para avaliar os principais
entraves, mas também os avanços obtidos e, a partir daí,
desenhar as melhores estratégias. Em algumas localidades, isso já vem
acontecendo. Tanto é que tivemos notícias de cidades que estão fazendo a chamada
busca ativa: professores e demais agentes ampliaram o contato com alunos
que, por alguma razão, não estavam mais frequentando a escola,
em muitos casos chegando até as próprias residências deles, para que
retornassem às salas de aula.
Desde que as aulas foram suspensas até
agora, quando os estudantes já retornaram às escolas, o debate
sobre o ensino domiciliar vem ganhando força e, embora não seja atualmente
permitido no Brasil, já existem discussões avançadas, com projetos de
lei em tramitação. É importante lembrar que, mesmo aprovada, a modalidade
exigirá uma série de condições, como aulas com profissionais, matrícula em
rede estadual ou municipal, além de avaliações periódicas e do conteúdo
pedagógico de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Mas será que realmente faz sentido debatermos
sobre a aprovação do ensino domiciliar, em um momento repleto de desafios e que
nos mostram o enorme abismo social do País, que dificulta ou impossibilita
o acesso à internet para milhares de jovens e crianças? Para além de todas
essas dificuldades, é fundamental avaliar a importância do convívio entre os
pares, que somente a escola proporcionará, bem como vivências que contribuem
para a resolução de problemas, cooperação, respeito às diferenças e
desenvolvimento de habilidades socioemocionais que atualmente já estão
implícitos em inúmeras propostas da própria BNCC.
Em meio à tantas desigualdades e
problemas educacionais como nível insuficiente
na alfabetização de crianças, evasão escolar, além dos danos comportamentais, relatados
por milhares de pais e familiares, é preciso lutar por uma educação que abrace
cada vez mais crianças e jovens e que transforme a realidade deles. E
esse caminho começa a ser trilhado nas escolas, presencialmente, com a relação
fundamental entre aluno, professor e todos os atores da comunidade escolar,
mirando um futuro menos excludente e que ofereça oportunidades para todos. Mas
para que isso aconteça, é urgente que políticas públicas assegurem o
acesso irrestrito à educação, assim como determina a Constituição Federal, e mais que isso, que acompanhe e
avalie sua efetividade em todas as camadas da sociedade.
Thiago Zola - professor, mestre
em educação, especialista em psicologia da educação e palestrante com
experiência no desenvolvimento de metodologias e soluções educacionais voltadas
para Educação Básica na Mind Lab.
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