Se as emissões de gases de efeito estufa continuarem no patamar atual, temperatura média tende a subir até 4 ºC em algumas regiões. Nesse cenário, os extremos climáticos se tornarão mais intensos e frequentes, indicam projeções feitas com os novos modelos climáticos do IPCC (foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
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Se as emissões de gases de efeito estufa (GEE) continuarem no patamar atual, a temperatura média na América do Sul pode subir até 4 ºC até o fim do século, em um cenário mais pessimista, tornando os eventos climáticos extremos – como secas, inundações e incêndios florestais – mais frequentes e intensos na região.
As
projeções foram feitas no âmbito de um estudo internacional, com a participação
de pesquisadores brasileiros.
Os resultados do trabalho, apoiado
pela FAPESP por meio de um Projeto Temático ligado
ao Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia para Mudanças Climáticas, foram publicados na
revista Earth Systems and Environment.
“A América do Sul e, em particular, o
Brasil já mostram sinais das mudanças climáticas, incluindo o aumento das
temperaturas da superfície, mudanças nos padrões de precipitação, derretimento
das geleiras andinas e elevação no número e intensidade de extremos climáticos.
Essas variações nas características climáticas são precursoras do que pode
estar por vir nas próximas décadas se a escalada sem precedentes nas emissões
de gases de efeito estufa continuar”, diz à Agência FAPESP Lincoln
Muniz Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e
coautor do artigo.
Para fazer
as projeções, os pesquisadores analisaram o desempenho de 38 modelos climáticos
globais (GCMs) que integram o Projeto de Intercomparação de Modelos Climáticos
Fase 6 (CMIP6, na sigla em inglês), do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), e estão sendo usados para elaboração do
sexto relatório de avaliação (AR6) do órgão. O lançamento do relatório da
contribuição do Grupo de Trabalho I do AR6, que avalia a base científica das
mudanças climáticas, está previsto para o próximo dia 9 de agosto.
O
desempenho dos modelos foi avaliado em relação à sua capacidade de simular as
observações históricas no período de 1995 a 2014 e as mudanças projetadas de temperatura
e precipitação na América do Sul em meados e no final do século 21 – entre 2040
e 2059 e entre 2080 e 2099 – de acordo com diferentes cenários de concentrações
de GEE, que incluem mudanças de uso da terra e decisões políticas.
Além das
análises espaciais de todo o continente, a América do Sul foi dividida em sete
sub-regiões para analisar em mais detalhes as características climáticas
regionais. Em cada sub-região, análises comparativas entre
cenários, modelos climáticos globais e dois períodos de tempo futuros
(meados e final do século) foram realizadas para avaliar a destreza dos modelos
e a capacidade de apontarem mudanças na distribuição da precipitação e na
temperatura em um determinado espaço e tempo.
Os
resultados das análises indicaram que os novos modelos climáticos globais
capturam com sucesso as principais características climáticas da América do Sul
e, em geral, suas projeções são consistentes com as apresentadas pelos modelos
usados para elaboração de relatórios de avaliações anteriores do IPCC, como o
AR5, publicado em 2014, e o AR3, lançado em 2001.
“As
projeções feitas com os novos modelos climáticos apontaram que, dependendo do
cenário, o sul da Amazônia, por exemplo, experimentará condição maior de seca”,
afirma Alves.
Em relação
à precipitação, os modelos climáticos indicaram aumento de chuvas na maior
parte do continente, com algumas exceções na região Centro-Sul do Chile e norte
da América do Sul, incluindo grande parte da Amazônia.
As
projeções apontaram, contudo, que pode ocorrer um aumento na sazonalidade e na
distribuição de chuvas durante os anos, causado pela diminuição da contribuição
dos totais mensais para a média anual de precipitação na região.
Essas
mudanças nos padrões de chuvas no continente são progressivas e se tornam mais
fortes no final do século e em níveis de emissões de GEE mais elevados.
“As
projeções indicam que a contribuição relativa dos totais mensais acumulados
para a média anual de chuvas na região está diminuindo significativamente em
alguns meses. Se antes chovia dez milímetros em um determinado mês, esse número
caiu pela metade”, exemplifica Alves.
“Isso tem
impactos nos setores agrícola e de geração de energia, por exemplo, que fazem
seus planejamentos com base nos volumes de chuvas”, diz.
Diminuição das incertezas
De acordo
com o pesquisador, a nova geração de modelos climáticos permite estimar os
impactos da mudança do clima com maior acurácia na América do Sul por
considerar mais elementos do sistema climático.
O clima no
continente varia amplamente de Norte a Sul e de Oeste a Leste, devido à
grande extensão latitudinal e à heterogeneidade topográfica do continente,
o que torna sua representação um desafio para os modelos climáticos.
“Com essa
nova geração de modelos climáticos foi possível quantificar as incertezas nas
projeções de determinadas regiões do continente”, afirma Alves.
O artigo Assessment of CMIP6 performance and projected temperature and
precipitation changes over South America (DOI:
10.1007/s41748-021-00233-6), de Mansour Almazroui, Moetasim Ashfaq, M. Nazrul
Islam, Irfan Ur Rashid, Shahzad Kamil, Muhammad Adnan Abid, Enda O’Brien,
Muhammad Ismail, Michelle Simões Reboita, Anna A. Sörensson, Paola A. Arias,
Lincoln Muniz Alves, Michael K. Tippett, Sajjad Saeed, Rein Haarsma, Francisco J.
Doblas-Reyes, Fahad Saeed, Fred Kucharski, Imran Nadeem, Yamina Silva-Vidal,
Juan A. Rivera, Muhammad Azhar Ehsan, Daniel Martínez-Castro, Ángel G. Muñoz,
Md. Arfan Ali, Erika Coppola e Mouhamadou Bamba Sylla, pode ser lido na
revista Earth Systems and Environment em https://link.springer.com/article/10.1007/s41748-021-00233-6#citeas.
Elton Alisson
Agência
FAPESP
https://agencia.fapesp.br/secas-na-america-do-sul-podem-aumentar-ate-o-fim-do-seculo-sugere-estudo/36305/
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